Crítica | Em um Bairro de Nova York (In the Heights)

Nota
4.5

“O que significa Sueñito?
Sueñito? Significa “pequeno sonho”.”

No bairro de Washington Heights, uma comunidade latina na longínqua cidade de Nova York, Usnavi (Anthony Ramos) conta os centavos enquanto tenta reavivar os melhores dias de sua vida. Junto com seu primo, Sonny (Gregory Diaz IV), o rapaz toca uma bodega, esperando sua grande chance de voltar a sua terra natal, a República Dominicana, mas, enquanto a chance não surge, ele observa o pequeno distrito em que cresceu ser dominado por empreiteiros que não desejam nada além de cobrar taxas absurdas e dizimar o comércio local.

Repletos de dificuldades financeiras e com poucas oportunidades para um futuro melhor, os habitantes do Heights mantém sua alegria diária, visando superar seus problemas. Em meio a romances, partidas e um inesperado evento que promete mudar de vez suas vidas, os moradores tentam sobreviver aos infortúnios da vida enquanto conservam seus pequenos sonhos e sua grande vontade de viver.

Que Lin-Manuel Miranda é um dos maiores nomes do cenário musical da atualidade ninguém duvida, mas poucos sabem que antes do aclamado Hamilton, o diretor nova-iorquino deu seus primeiros passos em uma peça que se tornaria um verdadeiro divisor de águas nos palcos da Broadway.

Após uma verdadeira odisseia, a versão cinematográfica de In the Heights dava seu ar da graça, trazendo toda a grandiosidade que construiu a estrada para o reconhecimento merecido de Miranda nos palcos. Em um Bairro de Nova York traz uma pluralidade exuberante, ao celebrar a herança latina no cerne de uma cidade tão emblemática.

Dirigido por Jon M. Chu, o longa aposta suas fichas no cotidiano e pluralidade de um bairro nova-iorquino, trazendo uma mensagem atemporal sobre o que significa ter um sonho em tempos tão complicados. Com uma base política e social tão realista, o roteiro aprofunda os dilemas enfrentados pelos imigrantes em solo americano, transpondo as dificuldades enfrentadas e a negação dos direitos básicos daqueles que lutam diariamente para sobreviver em tal ambiente. Seja a xenofobia enfrentada em um ambiente educacional, ou a dificuldade em alugar uma apartamento, tudo aqui é apresentado de forma coesa e poderosa, tornando ainda mais necessário a discussões levantadas.

Cheio de ritmo, cores e coreografias exuberantes, essa última assinada pelo brilhante Christopher Scott, o filme nos convida a conhecer cada um de seus diferentes personagens, trazendo dinâmicas distintas enquanto somos aprofundados em cada propósito apresentado. Logo em sua primeira música (In the Heights), o filme mostra todo seu carisma e propósito, introduzindo, através da visão de Usnavi, sua rica comunidade em uma introdução de tirar o fôlego.

Por falar nele, o protagonista tem uma presença marcante com a qual nos apegamos de imediato. Originalmente interpretado por Miranda, Usnavi foi passado para o brilhante Anthony Ramos, que consegue passar todo carisma, simpatia e desejos necessários para seu personagem. Usnavi é nosso fio condutor dentro da narrativa, mas não impede que outros apareçam em meio ao texto afiado do longa.

Uma das provas disso se deve à presença de Nina (Leslie Glace), o orgulho do bairro que conseguiu ingressar na universidade de Stanford mas foi obrigada a largar seus sonhos por situações tão absurdas e reais que machucam profundamente ao espectador. Sem saber como contar a todos, Nina tenta encontrar seu lugar no mundo e entender novamente seu propósito ali.

Vanessa (Melissa Barrera) trabalha arduamente para conquistar seu futuro longe dos Heights. Charmosa e determinada, a moça deseja muito mais do que qualquer pessoa pode lhe proporcionar, sabendo muito bem que, para conquistar seus sonhos, ela precisa batalhar constantemente e fazer seu nome. É com ela que certos assuntos são abordados em momentos aparentemente felizes da trama, demonstrando que, por mais que se tente superar tudo, os problemas ainda estão presentes a cada esquina.

Benny (Corey Hawkins) é o melhor amigo de Usnavi, que trabalha na empresa de táxi do pai de Nina, onde sonha assumir o negócio quando seu chefe se aposentar. Ele serve como apoio para os questionamentos de Nina, trazendo uma química latente e um aprofundamento maravilhoso para ambos. Sonny é consciente e divertido, trazendo dilemas profundos de alguém que não sabia a extensão de sua atual situação no país em que vive. O rapaz pensa no conjunto e em como melhorar sua comunidade, trazendo ótimos momentos que alfinetam a onda de ódio que cresce a cada novo dia em solo norte-americano.

Daniela (Daphne Rubin-Vega), Carla (Stephanie Beatriz) e Cuca (Dascha Polanco) formam o divertido trio de fofoqueiras que trabalham no salão de beleza local. Embora a dinâmica do grupo seja maravilhosa, a terceira integrante, criada exclusivamente para o filme, pouco tem a acrescentar na narrativa, a não ser o carisma natural de sua intérprete.

Abuela Cláudia (Olga Merediz) é o coração do longa. Repleta de uma ternura latente e uma doçura sem igual, a gentil senhora nos conquista logo em seu primeiro momento, conquistando nossa simpatia e refletindo tantas outras abuelas que conhecemos ao longo da vida. Olga foi a única a reprisar seu papel da Broadway, e demonstra aqui todo domínio que tem sobre a personagem. Seu solo, Paciencia y fe é o mais tocante de todo longa, trazendo um dos momentos mais magníficos e profundos que só alguém com sua potência emocional poderia construir. Acredite, ninguém passará ileso dessa música e ela nos marca tão profunda que continuará mesmo após os créditos subirem.

Por falar na questão musical, o longa traz um verdadeiro deslumbre visual e sonoro. Cada passo é magnifico, assim como a musicalidade envolvente de ritmos latinos com o conhecido rap que Miranda adora introduzir em sua narrativa. Cada música envolve e avança a trama, construindo momentos primorosas que divertem e encantam.

Como é o caso da brilhante 96.000, que traz um dos melhores e mais dinâmicos momentos da narrativa. Breathe nos convida para uma falta de ar latente e o constante medo de decepcionar quem amamos, principalmente quando tem tantas coisas depositadas em nossos ombros. No Me Diga é divertida e chamativa e, assim como Piragua (interpretada pelo próprio Lin-Manuel), serve para quebrar o clima tenso criado. Já Carnaval del Barrio é um grito profundo sobre o orgulho e a alegria de sermos quem somos, honrando nossas raízes mesmo nos momentos mais sombrios.

Emocionante, divertido e bastante diferente do que vimos em palco, Em um Bairro de Nova York consegue absorver seus dilemas e trazer um brilhantismo magnifico para sua trama. Repleto de um frescor esplêndido, o longa consegue atravessar barreiras e abraçar suas raízes, demonstrando que o caminho está montado e que, com um pouco de Paciência, fé e bastante luta chegaremos lá.

“Paciencia y fe”

 

Preso em um espaço temporal, e determinado a conseguir o meu diploma no curso de Publicidade decidi interagir com o grande público e conseguir o máximo de informações para minhas pesquisas recentes além, é claro, de falar das coisas que mais gosto no mundo de uma maneira despreocupada e divertida. Ainda me pergunto se isso é a vida real ou apenas uma fantasia e como posso tomar meu destino nas minhas mãos antes que seja tarde demais...

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *