Crítica | Emília Perez

Nota
1.5

Rita (Zoe Saldana) é uma advogada que atua na área desde seus 24 anos, mas que ainda não conseguiu uma posição de destaque e nem que lhe pague bem, então ela segue vivendo sua vida resolvendo casos para outros advogados receberem os créditos em seu nome. Em meio a diversos casos injustos, ela recebe uma proposta misteriosa para ganhar muito dinheiro, e mesmo com suas dúvidas ela decide ir de encontro a esse misterioso solicitante. Ao chegar no local ela descobre que o maior líder do cartel mexicano, Manitas (Karla Sofia Gascón), a chamou para um pedido no mínimo inusitado, ele deseja sumir da vista de todos, mas porque Manitas deseja transicionar o seu gênero para viver como Emília Perez (Karla Sofia Gascón). Após correr o mundo para achar o melhor médico para esse caso, Rita consegue deixar tudo resolvido para Emília, inclusive de relocar seus filhos e esposa Jessi (Selena Gomez) para sair do México e morar na Suíça, longe de seus rivais e em segurança, e agora Rita pode descansar e viver uma vida de luxos longe de seus chefes abusivos e finalmente crescer na carreira. Após 4 anos, Emília a encontra novamente em Londres, e Rita percebe que seus serviços não se encerraram após a transação milionária que ela recebeu 4 anos atrás. Dirigido pelo diretor francês Jacques Audiard, Emília Perez é um musical dramático com bastante suspense que tem dado o que falar nas premiações do final do ano de 2024. 

Em uma coprodução entre Estados Unidos, França e Bélgica, Emília Perez é uma produção audaciosa do diretor Jacques Audiard, após diversos filmes em língua francesa, onde o diretor traz diversas atrizes americanas com descendência latina para atuar e cantar em espanhol, o que acabou sendo colocado em evidência após os rumores e polêmicas do filme que supostamente contou com interferência de Inteligência Artificial no seu processo criativo, que fica nítido pelo roteiro mal escrito, que deixa a sensação que as falas não foram escritas originalmente em espanhol. O longa, conta com uma história interessante de uma criminosa que decide largar tudo para transicionar, e o enredo de fato é a questão mais envolvente do filme, mas o fator musical do filme deixou bastante a desejar por suas músicas com letras nada envolventes e, apesar de no elenco contar com Zoe Saldana que tem uma certa experiência com musicais, deixar as atrizes cantarem ao vivo foi de fato um erro por não favorecer nem a voz de cantoras experientes como a Zoe e nem de outras atrizes como a Karla Sofia, que visivelmente não tem tanta experiência com musicais, assim como Selena Gomez que não é conhecida por seu alcance vocal.

Além do fator musical, que de fato era um ponto importantíssimo do filme e que não funciona, outro ponto que deixa a desejar são algumas atuações. Por ser um filme majoritariamente feito em língua espanhola e interpretado em sua maioria por atrizes, mesmo que com suas descendências latinas, ainda assim americanas, o filme não transmite naturalidade nos seus diálogos, deixando nítida a barreira linguística que as atrizes estão passando, visto que especialmente no caso de Zoe Saldana, seu sotaque americano não deixa que a atriz nos convença como uma personagem mexicana. Ainda assim, essa barreira de sotaques beneficia a personagem de Selena Gomez, pelo contexto de sua personagem que tem uma família que mora nos Estados Unidos, então um sotaque mais americanizado acaba sendo condizente com sua performance, mas ainda assim, a alternância de línguas que é feita pela personagem acaba sendo um fator de inconsistência na atuação de Selena, não ficando claro se era de fato a intenção da personagem ser assim ou se por uma incongruência da direção que passou para a edição final e que acabou se tornando uma característica da personagem. 

O roteiro de Emília Perez era a grande promessa para o filme, por trazer de fato uma premissa interessante e com grande margem para a trama ser envolvente como o diretor planejou, mas as suas inconsistências atrapalharam até mesmo as performances das atrizes principais. Para começar, o diretor já assumiu em entrevistas que não estudou sobre a cultura mexicana para produzir o filme, o que levou a muitas discursões online onde diversos mexicanos falaram sobre a falta de representatividade no elenco e sobre as más representações de sua cultura que leva a estereótipos nocivos. Além disso, a personagem principal, Emília Perez, acaba não tendo um foco suficiente para ser bem desenvolvida, visto que todo o ponto de vista da trama cai em cima de sua advogada, Rita, dando margem para a Zoe Saldana conseguir mais espaço no filme, o que não quer dizer que a atriz Karla Sofia não entregou uma boa performance, muito pelo contrário, visto que com os poucos momentos de desenvolvimento a atriz consegue criar uma personagem bastante carismática, que de fato é a alma do filme, mas que ainda assim ainda recai bastante na sua falta de desenvolvimento, onde realmente falta ser exposto as reais motivações da personagem e o seu backstory que é passado muito rapidamente havendo a necessidade de aprofundamento. Apesar inclusive de roubar a cena, literalmente, a personagem de Zoe Saldana também tem pouquíssimo aprofundamento de sua personagem, externalizando pouquíssimo das suas reais intenções e motivações. O que também mostra uma inconsistência do roteiro, visto que o início do filme foca 100% nos conflitos morais e éticos da personagem e como esses conflitos afetam a sua vida, e com os conflitos se mantém ao longo de sua jornada com Emília, mas que ainda assim a Rita se torna uma personagem rasa que serve apenas para mostrar os conflitos morais do contexto de Emília, mas que não se aprofunda em nenhum outro aspecto de sua vida. 

Emília Perez embora seja uma promessa para levar diversos Oscars em 2025, contando com 13 indicações, acaba sendo uma das maiores decepções da temporada. Tentando inovar com técnicas diferenciadas de fazer um musical, o filme consegue entregar performances musicais medíocres, tanto em questão as letras das músicas que nem sempre transmitem bem o sentimento das personagens, nem para com a mixagem de som que não favorece nenhuma das atrizes, nem quanto com as coreografias que empobrecem as cenas musicais pela falta de sincronia e atenção a interação das personagens que cantam com o ambiente que elas se encontram. O roteiro, que a princípio era bastante inovador e instigante, não consegue se sustentar por não desenvolver bem nenhuma das personagens, praticamente deixando sua personagem principal como uma coadjuvante da história, coisa que provavelmente também será refletida nas épocas de premiações. Ainda assim, Zoe Saldana e Karla Sofia tentam ao máximo se esforçar para entregar boas performances, e as duas conseguem fazer as suas interações entre si funcionarem muito bem, tendo uma ótima dinâmica que vai se transformando do começo ao fim da trama.

 

Ilustradora, Designer de Moda, Criadora de conteúdo e Drag Queen.

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