Crítica | Enola Holmes

Nota
4.5

“Pode seguir por dois caminhos, Enola. O seu ou o caminho que os outros escolhem para você.”

Enola Holmes (Millie Bobby Brown) é uma jovem brilhante que acaba de completar 16 anos. Perdendo seu pai desde cedo e pouco convivendo com seus irmãos mais velhos, a garota foi criada por sua mãe, Eudoria (Helena Bonham Carter), até o dia de seu aniversário, quando a mesma desapareceu misteriosamente.

Preocupada, a garota procura a ajuda de seus irmãos mais velhos Sherlock (Henry Cavill) e Mycroft (Sam Claflin), apenas para descobrir que eles não estão nem um pouco interessados em resolver o caso. Vendo seu futuro ser menosprezado e decidido por homens que pouco conhece, Enola decide fazer a única coisa que uma garota esperta, destemida e cheia de recursos em 1880 poderia fazer: fugir de casa e tomar a investigação em suas mãos.

Enquanto segue as pistas deixadas pela mãe, Enola explora a Inglaterra vitoriana em seu primeiro caso, repleto personagens e cenários memoráveis. Mas, conforme se aprofundar na investigação, a garota percebe que sua jornada vai muito além do que imaginou, trazendo uma conspiração tenebrosa que pode mudar o rumo da história política de toda Grã-Bretanha.

Baseado no livro “Enola Holmes: O Caso do Marquês Desaparecido”, de Nancy Springer, o longa conta com Millie compondo a produção e um elenco de peso para dar vida aos personagens. Produzido pela Legendary Pictures, o longa seria distribuído nas telas de cinema pela Warner Bros mas, devido a pandemia, a Netflix adquiriu os direitos de distribuição e trouxe seu conteúdo para o streaming. Além disso o Conan Doyle Estate abriu um processo contra a atual distribuidora, alegando violação de direitos autorais.

Ambientado no Sec. XIX, o longa possui uma ambientação impecável, nos transportando para a Inglaterra Vitoriana e seu caótico universo. Desde o figurino de época, ruas de terra, carruagens e primeiros modelos automotivos, o longa crítica e aponta uma sociedade autoritária, onde mulheres não tinham direitos e eram vistas como mero objetos sociais. A fotografia do filme é coesa, o enquadramento ajuda a ampliar o ar de mistério que o enredo precisa enquanto melhora a experiência que é proposta. O enredo deixa um pouco a desejar, a trama principal é empolgante e prende o espectador, mas muitas vezes fica de lado para que subtramas (muitas vezes desnecessárias) tenham destaque, mas no geral não atrapalham o desenrolar do longa.

Millie Bobby Brown definitivamente se superou ao dar vida à irmã mais nova do notório investigador inglês, Enola é tudo o que esperamos que seja: forte, independente, dona de si e acima de tudo, uma mulher carinhosa e que luta por seus ideais. Vale ressaltar que mesmo com um elenco tão poderoso, a atriz consegue trazer o foco das cenas para si, muitas vezes roubando a cena, além disso a quebra da quarta parede que a personagem executa traz ares revigorantes para a montagem final.

Louis Partridge deu vida ao Visconde de Tewksbury, um rapaz que, a primeira vista, é completamente inútil, mas que possui seus segredos. Aproxima-se bastante de Enola e ajuda a jovem mulher a mostrar um lado diferente de si e a encontrar o seu caminho. Quando contracenam juntos, é possível sentir a química que os personagens necessitam, usando isto nos momentos certos e fazendo com que seja impossível não torcer pelos dois.

Henry Cavill recebeu um papel arriscado, o famoso e amado Sherlock Holmes, um homem frio e astuto, capaz de desvendar qualquer mistério. O diferencial desta versão é o fato dele demonstrar um pouco mais suas emoções, é perceptível a preocupação do detetive com o bem estar de sua irmã mais nova, inclusive a incentivando algumas vezes a seguir o caminho que tanto deseja, tornando impossível não desejar um longa onde os dois desvendam casos juntos.

O mais velho dos irmãos, Mycroft, ganhou vida pela maravilhosa atuação de Sam Claflin, um homem obcecado pela sua carreira política e capaz de tudo para se manter bem visto na sociedade. Ele funciona como a contraparte de seus irmãos, com o sumiço de sua mãe, a guarda legal da menina passa para ele, que está disposto a torná-la uma dama. Enola odeia seu irmão, e isto fica refletido na relação dos dois, se acentuando mais graças ao momento histórico em que a trama se passa, rendendo cenas, em grande maioria, revoltantes.

Helena Bonhan Carter definitivamente entrega tudo o que o espectador pede, uma mulher amável e carinhosa que esconde grandes segredos. Eudoria é o tipo de personagem que mesmo aparecendo pouco mantém a chama da trama acesa, ficamos curiosos e ansiosos para descobrir mais e mais desta mulher que ensinou a filha a ser o oposto do que a sociedade espera.

Pecando apenas com o excesso de subtramas, Enola Holmes não foi abalado pela sua falha, ainda entregando um enredo principal muito marcante e coeso que faz um recorte da sociedade inglesa, trabalhando bem a quebra da quarta parede e, acima de tudo, conectando o espectador com os personagens. Sendo baseado numa saga de seis livros, é esperada uma sequência, mas isto depende apenas do sucesso e aprovação do público.

 

Graduado em Biológicas, antenado no mundo geek, talvez um pouco louco mas somos todos aqui!

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