Crítica | Enrolados (Tangled)

Nota
5

“Brilha linda flor, teu poder venceu. Trás de volta já o que uma vez foi meu, uma vez foi meu…”

O reino de Corona sempre viveu em paz e harmonia até que sua jovem rainha (que estava grávida) ficou gravemente doente. Todos do reino buscaram por um milagre para salvar a vida de sua majestade, desejando encontrar uma flor muito rara nascida de uma gota de raio solar. Mas a flor era escondida por uma mulher egoísta que usava seus poderes curativos para se manter jovem durante séculos. Felizmente, a flor foi encontrada e a rainha foi salva.

Uma bela menina com os cabelos dourados como a flor nasceu logo depois e trouxe grande alegria a seus pais, que em comemoração a saúde e nascimento da menina soltaram uma lanterna voadora no céu. E por um breve momento tudo foi perfeito até que a jovem princesa foi sequestrada e ninguém conseguiu encontrá-la. Em comemoração a cada aniversário, os reis de Corona lançavam milhares de lanternas aos céus, na esperança de que um dia a princesa perdida as avistasse e retornasse ao seu tão amado lar.

Dezessete anos se passaram e a princesa nunca retornou. Mas escondida no coração da floresta e presa em uma alta torre, Rapunzel observa as estranhas luzes surgirem aos céus a cada aniversário e sente que cada uma delas é para si. Prestes a completar seus dezoito anos, a garota de cabelos enormes recebe a estranha visita de Flynn Rider, um infame ladrão que acabou de roubar a tiara da princesa perdida e traiu seus amigos, encontrando por acaso a torre secreta e sua bela ocupante. Usando seu cabelo como arma e segura com uma frigideira, Rapunzel prende Flynn e vê uma chance única. Decidida a fazer um acordo com o ladrão, Rapunzel propõe devolver a tiara se ele a levá-la para ver as luzes que sobem aos céus e trazê-la em segurança à sua torre antes que sua mãe perceba.

Após A Princesa e o Sapo ter iniciado um novo caminho para a Disney, um grande questionamento foi levantado na empresa mágica do camundongo: como eles poderiam elevar o patamar é trazer antigas obras com uma nova roupagem que se encaixa-se bem com o seu público? A resposta óbvia foi continuar na linha de princesas, mas apostar em um nome mais conhecido. Mas, como trazer isso para um contexto mais atual e não tornar sua protagonista tão passiva ou dependente quanto algumas do histórico da empresa? É ai que surge Enrolados, a 50° obra de animação da empresa e o retorno triunfal ao que parecia perdido nos últimos anos. Se A Princesa e o Sapo serviu para despertar a fagulha adormecida, Enrolados fez a empresa pegar fogo e ganhar o gás necessário para achar seu caminho de vez.

Seguindo as novas diretrizes e abraçando um novo público, a Disney apostou em uma animação totalmente 3D e manter a magia e o encantamento presentes no mundo encantado criado por eles. A arte bem desenvolvida e o roteiro impecável trazem uma nova profundidade a uma trama tão conhecida e sombria, que nos encantou durante nossa infância e que aqui recebe um novo frescor. Dessa vez, a protagonista não tem que lidar com os problemas da guerra ou com a pobreza que a impede de realizar seus sonhos, mas isso não diminui a determinação e força da personagem, nem diminui sua jornada.

Rapunzel (Mandy Moore) é forte e determinada. A garota sempre teve sua mente moldada para se assustar com o mundo lá fora, que pode ser cruel e implacável com alguém tão “ingênua” e frágil quanto ela. Ao longo da trama, a personagem percebe que isso não está certo. A protagonista sabe lidar bem com seus problemas e virar a mesa para se encaixar a seu objetivo. A servidão e controle que sua mãe exercia sobre suas vontades são aos poucos quebrados quando ela começa a querer se provar e a mostrar que não é a flor frágil que ela pensa. Está muito longe disso e, mesmo com sua pureza, ela pode, sim, lidar com o mundo.

Flynn Ryder ou José Bezerra (Zachary Levi) está longe de ser o cavaleiro branco na armadura brilhante que parte para salvar a donzela indefesa. O vigarista aposta em sua lábia e seu belo rosto para escapar das enrascada em que se mete e tenta a todo custo se livrar do trato que fez com a loirinha. Com personalidades tão conflitante é de se esperar situações tão inesperadas e uma química palpável entre nossos protagonistas, assim como um avanço na personalidade e interação que ambos tem com o mundo e consigo mesmos.

Maximus é um poderoso garanhão que passa boa parte do filme no rastro de Flynn. O engraçado é que o cavalo possui mais aspectos caninos que equinos e possui uma personalidade tão forte que rouba as cenas em que aparece. Pascal é o camaleão de estimação da loirinha, tem uma personalidade debochada e cheio de marra que serve muitas vezes como a voz da razão é melhor amigo dela.

Mãe Gothel (Donna Murphy) é diabolicamente controladora. Utilizando o velho argumento de “sua mãe sabe mais”,  ela controla e impõe o medo para restringir a garota que caiu em suas garras,  mostrando-nos um relacionamento abusivo que busca o controle acima de tudo para conseguir seus objetivos e guardar o poder da flor para si. Gothel usa suas brincadeiras para criticar e diminuir os outros, tentando em tudo minar a autoestima e construir, assim, um lugar mais fértil para sua persuasão.

O longa apresenta músicas memoráveis. Começando com When Will My Life Begin?, que mostra o dia a dia da nossa protagonista e seu anseio enquanto aguarda sua vida começar. Passamos pela teatral Mother Knows Best, que nos leva àquela velha frase usada por mães em todo o mundo, onde dizem que sabem o que é melhor para seus filhos, quando muitas vezes elas estão apenas com medo de deixá-los livres. Então, encontramos a gratificante I’ve Got a Dream, que nos mostra que até os mais brutos possuem sonhos e que não devemos julgar um livro pela casa. E o longa culmina na emocionante I See The Light, que nos leva a uma das cenas mais belas que presenciamos em todo o filme.

Divertido, empolgante e cheio de uma nova força feminina, Enrolados coloca a Disney de vez no caminho certo e nos conduz a uma nova era de filmes,  transportando-nos entre o clássico e a empolgação do novo e nos prendendo em seus poderosos fios para nos permitir apreciar cada milésimo de segundo de uma obra encantadora e magnífica, que nos lembra bem os velhos tempos até que possamos ver enfim a luz brilhar no futuro dessa empresa que tanto amamos.

“Vejo enfim a luz brilhar, já passou o nevoeiro. Vejo enfim a luz brilhar, para o alto me conduz… e ela pode transformar de uma vez o mundo inteiro. Tudo é novo, pois agora eu vejo, você é a luz.”

Preso em um espaço temporal, e determinado a conseguir o meu diploma no curso de Publicidade decidi interagir com o grande público e conseguir o máximo de informações para minhas pesquisas recentes além, é claro, de falar das coisas que mais gosto no mundo de uma maneira despreocupada e divertida. Ainda me pergunto se isso é a vida real ou apenas uma fantasia e como posso tomar meu destino nas minhas mãos antes que seja tarde demais...

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