Crítica | Entrevista com o Vampiro (Interview with the Vampire: The Vampire Chronicles)

Nota
2.5

Louis (Brad Pitt) é um vampiro que viveu por muitos anos, e após o tanto que ele passou na sua vida, ele decide revelar todos os segredos de sua vida secular para o jovem repórter Malloy (Christian Slater), que a princípio não acredita que Louis é de fato um vampiro, mas após ouvir sua história sua opinião pode mudar. O jovem Louis viveu na antiga Nova Orleans, após ser transformado em um vampiro pelo misterioso Lestat (Tom Cruise), que decidiu ensiná-lo a ser um vampiro e de todas as maldições que vieram com esse “dom”: A caçar humanos para se alimentar e sobreviver. Mas ao longo do tempo, Louis acabou se cansando dessa vida de matar humanos, já que, com seu coração ainda empático, ele não conseguia mais matar, o que o levou a caçar animais pequenos como ratos para se manter vivo, o que alimentava a raiva de Lestat. Mas, após uma doença levar diversas pessoas da cidade, Louis conhece Claudia (Kirsten Dunst), uma jovem menina que acabou de virar órfã, e que para agradar Louis, faz Lestat também a transformar em uma vampira para os três conviverem juntos. Mas nem tudo será tão simples nessa história de amor, solidão, traição e uma fome muito sombria, Entrevista com o Vampiro, que foi inspirado nos épicos literários da mente brilhante de Anne Rice, foi a primeira adaptação da série de crônicas vampirescas.

Dirigido por Neil Jordan, que já tinha certa experiência em dirigir filmes de fantasia, assim como também ser um novelista, Entrevista com o Vampiro adapta o livro de mesmo nome da autora Anne Rice, que também participou como roteirista para a adaptação de 94. Apesar da autora participar ativamente da produção e do roteiro do filme, diversas alterações foram feitas para deixar o filme mais “comercial” para a época. Anne Rice comentou algumas vezes em suas páginas da internet sobre como o filme mudou diversas vezes, como a ideia de Louis ser uma personagem feminina para facilitar o romance entre os personagens, ou como houve uma mudança no passado de Louis, o colocando com esposa e filhos mortos para impor a sua heterossexualidade. Essas mudanças implicaram diretamente na dinâmica dos personagens que acabam sendo ambíguas e incompletas, tornando o desenvolvimento de todos do filme muito raso e acelerando demais o ritmo do filme, retirando contextos importantes do backstory do núcleo principal do filme. O ritmo acelerado do filme inclusive altera bastante a percepção de tempo em que os personagens se encontram, fazendo com que algumas interações de personagem pareçam desconexas, sem demonstrar bem, por exemplo, a passagem de tempo da personagem Claudia com suas questões internas de crescer mentalmente mas não fisicamente, onde o tempo passa mas suas roupas e cenários não acompanham, o que dá-se a entender que o tempo se mantém o mesmo.

Apesar de contar com nomes de peso, Entrevista com o Vampiro não tem grandes momentos com as suas atuações. Brad Pitt, que já havia feito diversos filmes, ainda não tinha conseguido seu momento em uma grande produção, mas que ainda sim, o galã não chega a convencer como Louis du Lac. O personagem de Louis é extremamente conturbado com sua nova realidade, tendo suas nuances entre sua empatia com os humanos, seus valores antigos que não conseguem se adaptar a sua nova vida vampiresca, e uma certa ingenuidade de acreditar em tudo que o Lestat fala, e que todas essas variáveis de sua personagem são transmitidas apenas com a apatia que o Brad Pitt carrega ao longo do filme. Tom Cruise, por sua vez, já havia participado de filmes de sucesso como Top Gun (1986) e o ganhador de melhor filme Rain Man (1988), mas apesar da popularidade dos seus filmes, o ator nunca foi reconhecido por grandes atuações. Como Lestat, Cruise consegue trazer a insanidade do personagem à tona do começo ao fim, seja nos primeiros momentos quando há ainda um mistério de sua personagem que acaba deixando-o contido na frente do Louis, ou nas reviravoltas até o clímax do filme deixam nítido o esforço do ator em se distanciar das suas atuações passadas com uma performance mais dinâmica.

Ainda assim, a grande estrela do filme é a jovem Kirsten Dunst, com apenas 12 anos na época e em seu quinto filme, ela conseguiu dar a vida brilhantemente à vampira Claudia. Mesmo sendo uma criança, Kirsten consegue transmitir muito bem a passagem do tempo para a personagem com a sua atuação, trazendo uma Claudia madura em dado momento que nos faz perceber que de fato o tempo passou para ela e o seu corpo não acompanhou, elevando o nível de atuação das cenas e carregando o drama do filme nas costas. Outra escolha sábia de elenco foi Antonio Banderas como o vampiro Armand, que traz também o mistério do personagem, além de desenvolver muito melhor uma química entre o seu personagem com o Louis, trazendo uma das cenas mais emblemáticas do filme que expõe o subtexto gay presente na história original de Anne Rice. Seu personagem sofreu também alterações, como por exemplo sua idade, que no livro consta que Armand foi transformado com apenas 17 anos, e, segundo boatos, a escolha de Banderas foi justamente para não alimentar estereótipos envolvendo LGBTQ+ com aliciamento de menores.

Entrevista com o Vampiro foi um marco nas histórias de vampiros, mas que envelheceu mal comparado ao que já temos hoje em dia. Sendo a primeira adaptação da obra de Anne Rice, é impossível não fazer comparação com obras mais recentes, como a série de 2022 da AMC+ de mesmo nome, que consegue entregar um roteiro melhor, com personagens mais bem explorados e com personagens abertamente LGBTQ+. As performances dos protagonistas do filme não conversam bem entre si, visto que a atuação do Brad Pitt não acompanha a dos seus companheiros de cena, e que hoje em dia foi superadíssima pela atuação de Jacob Anderson, que interpreta o Louis du Lac com muito mais nuances que o personagem pede. Apesar disso, Tom Cruise e Antonio Banderas têm performances satisfatórias, conseguindo trazer a atmosfera misteriosa ou sombria dos personagens quando necessário. Mas a jovem Kirsten Dunst é de fato a estrela do filme, com uma atuação que provavelmente inspirou as próximas representações da Claudia, com as atrizes Bailey Bass e Delainey Hayles, visto que a atriz de 12 anos conseguiu superar seus companheiros mais experientes em cenas de conflito. Ainda que com diversos problemas, Entrevista com o Vampiro pode agradar os fãs da obra por conter uma visão diferente da autora para a sua própria obra, além de representar muito bem o terror gótico da época.

 

Ilustradora, Designer de Moda, Criadora de conteúdo e Drag Queen.

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