Crítica | Está Tudo Bem Comigo? (Am I OK?)

Nota
4

Está Tudo Bem Comigo? é quase como um abraço em mulheres sáficas que se descobriram na idade adulta. O filme de 2024, dirigido por Tig Notaro, retrata a jornada da protagonista Lucy (Dakota Johnson), que com 30 anos descobre que é lésbica. A obra foca bastante na amizade dela com Jane (Sonoya Mizuno), sua maior parceira, com quem compartilha os altos e baixos da vida. Seguindo uma linha de episódio de série, a obra de drama com toques de comédia trata de um assunto pouco discutido de uma forma extremamente leve e real.

Está Tudo Bem Comigo? traz um acalento no coração de diversas mulheres sáficas por aí que se identificam com a protagonista. Descobrir-se lésbica com 30 anos é uma experiência pouco compartilhada, mas extremamente comum. A personagem passa por diversas fases até, enfim, se aceitar. O filme consegue retratar essa temática, portanto, de uma forma muito bonita, delicada e real. A cena em que a Lucy desabafa com a Jane é tão palpável e identificável. Além dela, o momento em que a protagonista faz “quizzes” de “eu sou gay?” no computador do trabalho é algo que só alguém que já passou por isso saberia representar. Por isso, é importante reconhecer o louvável trabalho realizado pela diretora Tig Notaro, a qual também é uma mulher lésbica com mais de 30 anos. Portanto, ela soube trazer a noção de representatividade com maestria para a sua obra. Assim, Está Tudo Bem Comigo? consegue ser um respiro para mulheres sáficas, diante de tantos filmes em que a questão da sexualidade, principalmente para pessoas já adultas, quase sempre é retratada enquanto um tabu.

Contudo, o real acaba sendo transpassado por vivências e experiências tristes. Por exemplo, se relacionar com mulheres “hétero” que estão apenas se “divertindo” é algo infelizmente compartilhado por diversas mulheres sáficas. Entretanto, mesmo com a protagonista tendo esse momento de “quebrar a cara”, é bem interessante como a obra consegue trazer leveza as situações melancólicas. A amizade da Lucy com a Jane é o suporte de tudo. É aquele ombro amigo dizendo que, apesar de tudo, vai ficar tudo bem. Que não existe idade “certa” para essas coisas, tudo acontece no momento que tem que acontecer. Dessa forma, o longa traz a mensagem de que mesmo que não esteja tudo bem no momento, uma hora vai ficar.

Fica perceptível que Está Tudo Bem Comigo? não tem grandes ambições, mas consegue atingir seu objetivo principal: prender o espectador e cativá-lo. A partir de uma fotografia básica, figurinos simples e até mesmo um enredo voltado a situações reais do dia a dia, a produção deixa sua marca e mensagem ao público. O filme consegue ser único e autêntico, sem  muitos elementos extravagantes, apenas  por retratar aquilo que não é falado. Dessa forma, o empenho da Dakota Johnson e Sonoya Mizuno merece ser bastante reconhecido, devido a suas entregas na atuação, que conseguem ser tão espontâneas e reais. A conexão das duas  é algo que encanta o público do início ao fim, dando à obra o toque mágico que ela merece. Porém, a semelhança do filme ao formato de série é um fator que deixa o espectador esperando por mais. O tempo curto e o rápido desenrolar dos acontecimentos, gera essa sensação de “quero mais” ou de “está faltando alguma coisa”. Apesar disso, ele  cumpre o seu papel mais relevante. Portanto, Está Tudo Bem Comigo? é aquela obra que com certeza vai se tornar o “comfort movie” de muitas mulheres homoafetivas espalhadas pelo mundo.

 

Estudante de cinema, pernambucana

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *