Crítica | Estômago 2 – O Poderoso Chef

Nota
2.5

Estômago 2 – O Poderoso Chef leva embora toda artimanha e brasilidade presentes em Estômago (2007). Dirigida por Marcos Jorge, a sequência da obra brasileira, que chega às telas agora em agosto de 2024, consegue surpreender negativamente o espectador que assistiu o filme de 2007. A narrativa foca na história de um famoso e mafioso cozinheiro e ator italiano, o Don Caroglio (Nicola Siri) que, almejando tanto da vida, acaba indo parar na prisão. Raimundo Nonato (João Miguel), deslumbrado com aquela figura estrangeira, se alia ao italiano, gerando uma grande confusão entre diferentes lados na penitenciária. Esse cenário de disputa, portanto, acaba levando Nonato a um caminho totalmente inesperado e contraditório perante a primeira obra. Assim, essa perda de essência e inserção do filme em um molde hollywoodiano se destoa completamente da grandiosidade que foi Estômago.

Tendo em vista que Estômago, tem como protagonista Raimundo Nonato, é de se esperar que essa segunda obra continue tendo foco nele. No entanto, não é o que acontece. O surgimento da figura do italiano na prisão transforma completamente a essência de Estômago 2 – O Poderoso Chef, como o próprio título engana. O espectador imagina que o poderoso chef se trata de Nonato, no entanto é o Don Caroglio. Isso se torna evidente pelo fato da primeira cena do filme já ser iniciada com ele, e o diretor começar a criar situações intrigantes, que levam o público a querer entender mais sobre o personagem e sua contribuição para a narrativa e os personagens principais. Contudo, ele rouba a cena totalmente, tendo mais momentos seus do que do próprio protagonista. Então, o que o público pensa ser somente um desenvolvimento do personagem no início, não imagina que na verdade a existência do estrangeiro é o que cria a narrativa inteira. O foco é tão forte na vida do Don Caroglio que, contraditoriamente, o filme (que é brasileiro) acaba por ter mais da metade das suas cenas em italiano. Isso acaba excluindo a brasilidade de Estômago 2 – O Poderoso Chef, tornando-o algo completamente desconectado da obra original.

Sendo assim, essa exclusão da brasilidade, originalidade e continuidade à Estômago, faz com que Estômago 2 se insira em um molde muito mais fechado e hollywoodiano de enredo, perdendo a sua essência. Fica perceptível que essa imposição de modelo de narrativa limita demais o filme de 2024, ao inserir os personagens em diversas categorias pré-determinadas, trazendo uma certa previsibilidade, não existente na essência do primeiro Estômago. Além disso, a obra deixa uma sensação de apagamento de continuidade da narrativa, tendo em vista que o protagonista que literalmente cometeu um feminicídio no filme anterior (matou uma mulher por puro ciúmes) é simplesmente liberto da prisão e tem um final feliz. Então, de certa forma é como se sua jornada inteira do primeiro filme para o segundo fosse totalmente romantizada. Logo, a sensação que a obra de 2024 passa é que criaram um enredo completamente descolado na premissa anterior, inserindo-a em um molde comercial e tornando-a extremamente diferente.

Por conseguinte, apesar de o tempo apresentar novas tecnologias que permitem novas técnicas de filmagem, com uma melhor qualidade do que Estômago, como planos belíssimos, uma fotografia e cenografia incríveis, fica evidente que Estômago 2 deixou muito a desejar. Tornar um filme brasileiro icônico uma obra que 90% do tempo está no idioma italiano, falando sobre a cultura italiana, com personagens italianos, é fugir totalmente da premissa do autêntico Estômago. Além disso, tornar o protagonista um mero coadjuvante, e ainda por cima apagar tudo que ele fez no primeiro filme, é literalmente o ato de fazer a continuação para um filme não lendo o seu roteiro anterior, apenas pegando como base a sua sinopse. Dessa forma, Estômago 2 – O Poderoso Chef não serve nada de inovador para filmografia brasileira da atualidade.

 

Estudante de cinema, pernambucana

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