Crítica | Evidências do Amor

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“E nessa loucura de dizer que não te quero
Vou negando as aparências
Disfarçando as evidências
Mas pra que viver fingindo
Se eu não posso enganar meu coração?
Eu sei que te amo!”

Quem nunca imaginou que em algum momento utilizariam aquela que é considerada quase um segundo Hino Nacional como base para produzir um filme? Pois esse momento chegou como uma grata surpresa e vem sendo um expoente na renovação do cinema nacional. “Evidências”, música de José Augusto e que ganhou ainda mais força na cultura popular nas vozes de Chitãozinho e Xororó, para muitos é um louvor que deve ser cantado em todo momento de confraternização, sendo também a música de diversos casais desde seu lançamento. Por outro lado, acaba sendo também uma maldição para aqueles que não a suportam tocando em todo e qualquer lugar, trazendo lembranças que não gostariam de revisitar. Seguindo essa premissa, somado a uma pitada de Fábio Porchat e Sandy Leah, surge a comédia romântica Evidências do Amor.

Evidências do Amor emerge como uma comédia romântica brasileira que se destaca em meio a uma renovação do cenário cinematográfico nacional, trazendo uma história simples, porém cativante e envolvente. Sob a direção e roteiro de Pedro Antônio (Tô Ryca e Tô Ryca 2), o filme acompanha o casal Marco e Laura, interpretados por Fábio Porchat (Especial de Natal: Se Beber, Não Ceie) e Sandy Leah, respectivamente, cujo encontro em um karaokê, ao som da música que definiria a vida do casal, desencadeia um romance que aparenta ser perfeito até seu súbito término, dando origem a uma “maldição” que faz a vida de Marco virar de cabeça para baixo.  A trama se desenvolve de forma fluida, com Marco sendo obrigado a reviver momentos do seu relacionamento passado a cada vez que a música Evidências toca em qualquer lugar e assim percebendo que nem tudo foi da forma que ele lembrava.

A química entre os protagonistas proporciona momentos hilariantes e emocionantes ao longo do filme, de forma fluida, mesclando humor e romance de maneira equilibrada, ainda que por vezes tenda mais para o lado do melodrama do que da comédia. Porchat entrega uma performance carismática e divertida, mas continua com seu “Q” de acabar interpretando uma versão exagerada de si mesmo. Se fosse qualquer outro ator talvez isso incomodasse, porém esse é um aspecto que o acompanha desde o Porta dos Fundos e que é sua marca registrada. Já Sandy, em seu retorno às telonas após uma década, traz leveza e charme ao papel de Laura, embora sua atuação não seja suficiente para elevar o filme a um patamar memorável e sendo notável o uso de jogos da direção para disfarçar falhas na atuação. É gostoso rever a Sandy atriz por quem temos um carinho, sendo uma boa volta as telas, porém será interessante que sejam oferecidas novas oportunidades para vermos sua evolução após tanto tempo afastada.

O roteiro, assinado por Pedro Antonio em colaboração com o próprio Porchat, Luanna Guimarães e Álvaro Campos, é construído explorando temas como relacionamentos, arrependimento e autodescoberta. A trama se desenrola por meio de lapsos temporais e situações cômicas, oferecendo uma abordagem criativa e divertida aos clichês do gênero. No entanto, o filme carecia de algo mais “seu” em certos momentos, e acabou seguindo uma fórmula previsível de comédia romântica. Mesmo que de forma diferente, podemos traçar paralelos com filmes como Questão de Tempo, principalmente na importância dada na relação de Marco e o pai.

Apesar de suas qualidades, Evidências do Amor não está isento de falhas, como diálogos previsíveis e uma conclusão um tanto esperada. No entanto, o filme compensa esses pontos fracos com sua fluidez narrativa e momentos de humor e emoção genuínos.  A utilização da música “Evidências” como elemento central da trama é uma escolha inteligente, acrescentando uma camada adicional de significado e nostalgia à narrativa. É uma opção agradável para quem busca uma história leve e descontraída, mas pode não deixar uma marca duradoura na memória do espectador. No geral, “Evidências do Amor” é uma adição bem-vinda ao catálogo do cinema nacional, oferecendo uma experiência divertida, despretensiosa e comovente para o público. Mesmo que não revolucione o gênero das comédias românticas, o filme se destaca pela sua execução competente e pelo carisma de seu elenco.

 

Pernambucano, jogador de RPG, pesquisador nas áreas de gênero, diversidade e bioética, comentarista no X, fã incontestável de Junji Ito e Naoki Urasawa. Ah, também sou advogado e me arrisco como crítico nas horas vagas.

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