Crítica | Exorcismo Sagrado (The Exorcism of God)

Nota
4

“A páscoa trará um milagre […] Ressurreição.”

Nombre de Dios, México, 2003. O Padre Peter Williams atente a um pedido de socorro da família Velasquez, a filha do casal, Magali, que sempre se dedicou à igreja e foi uma freira exemplar, está agindo diferente, ela está cada vez mais debilitada e seu corpo está sendo consumido pela possessão de Balban, o que obriga Peter a descumprir as regras do Vaticano e fazer um exorcismo sem estar completamente treinado. Depois de um ritual dificil, o pior vem a acontecer: Peter comete um terrível sacrilégio, cede às tentações de Balban, baixa a guarda, tem seu corpo possuído pelo demônio e acaba estuprando a pobre Magali. Dezoito anos depois, as consequências de seu pecado voltam para assombrá-lo, um jovem prisioneira de uma casa de detenção está agindo estranho, o que faz com que Peter seja chamado para encontrar, possuindo o corpo da jovem Esperanza, o malicioso Balban, que retornou para iniciar uma batalha ainda maior entre o bem e o mal.

Quando tinha 10 anos de idade, o jovem Alejandro Hidalgo assistiu O Exorcista pela primeira vez, e foi naquele momento que ele decidiu se dedicar ao sonho de ser um cineasta, mais de 25 anos se passaram, agora com seu primeiro filme de larga escala, Hidalgo volta a suas origens e homenageia de uma forma envolvente o filme de 1973. Se apoiando na grande religiosidade do México, o segundo longa-metragem da carreira de Hidalgo chega para provar que o homem não teve sorte de principiante, depois do sucesso de A Casa do Fim dos Tempos, a mistura de elementos que circundam a figura de Peter Williams, nos guia por uma profunda reflexão sobre o próprio padre, o que acontece quando um ser puro cede às tentações? Quanto um segredo obscuro pode servir como abertura para que o mal consiga se infiltrar na igreja? Que efeitos a culpa de um padre pode trazer para sua congregação? A culpa de Peter e a vergonha pelo seu pecado são os grandes vilões do longa, e a volta de Balban, que no decorrer do longa prova ter uma conexão inimaginável com o padre, só serve para empurrar ainda mais o religioso para a beira do precipício do desespero.

Vivido por Will Beinbrink (mais conhecido por viver o marido abusivo de Beverly em It: Capítulo Dois), o Padre Peter mostra claramente as camadas que justificam seu protagonismo no longa. Peter em 2003 é um padre inseguro, ele claramente tem muito a oferecer à igreja mas ainda está incompleto, algo que se torna a maior arma de Balban nesse primeiro embate, é deixado claro desde o começo que Peter se apaixonou por Magali, mas ele sempre lutava contra esse amor, mas Balban usa esse amor para fragilizar o padre e faze-lo se deixar possuir. O Peter de 2021 é um novo homem, ele construiu uma redoma em volta do seu segredo e começou um intenso trabalho voluntário na busca por se redimir pelo seu erro, mesmo que nunca tenha tido coragem de cumprir sua penitencia e contar o que fez ao Bispo Balducci, ele agora cuida de uma vila, protegendo as crianças locais e apoiando o hospital local, e é justamente essas crianças que Balban usa agora. O elenco protagonista ainda se completa com Padre Michael Lewis (Joseph Marcell), o único padre que enfrentou Balban e venceu, e Magali (Irán Castillo), que ainda tem pesadelos da noite que foi estuprada por Peter/Balban e precisa a se unir a Peter para salvar Esperanza.

Cheio de referencias a O ExorcistaExorcismo Sagrado vai fundo ao questionar a religião e seus segredos, o que pode ter sido uma aposta perigosa considerando as chances de o longa ser boicotado por colocar o dedo numa ferida tão sensível, mas para aqueles que tiverem a mente aberta para se deixar levar pela trama não vão se arrepender. Com muito potencial, Hidalgo dá um show com as cenas de possessão, como a intensa cena de abertura da possessão de Magali, que entrega o quão medonho o filme pretende ser, a tensa cena do Cristo demoníaco, que brinca com o limiar entre real e imaginário e com a paralisia do sono, ou a poderosa aparição da santa possuída, que gela até nossos ossos com seu jeito calculista e impiedoso. Com uma primorosa fotografia, ótimos efeitos gráficos e uma maquiagem notável, não é de se surpreender que o longa tenha sido indicado a Melhor Filme de Terror durante o Fantastic Fest, um dos principais festivais de cinema de horror dos Estados Unidos.

“Ajude-me padre. Por favor!”

 

Sonhador nato desde pequeno, Designer Gráfico por formação e sempre empenhado em salvar o reino de Hyrule. Produtor de Eventos e CEO da Host Geek, vem lutando ano após ano para trazer a sua terra toda a experiência geek que ela merece.

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