Crítica | Festival Eurovision da Canção: A Saga de Sigrit e Lars (Eurovision Song Contest: The Story of Fire Saga)

Nota
3

“Um dia, eu vencerei o Eurovision Song Contest, e ninguém mais vai rir de mim!”

Em 1974, Lars Erickssong era um garotinho triste após a morte de sua mãe e Sigrit Ericksdottir era uma garota tímida que não falava, mas o momento que o ABBA venceu o Eurovision Song Contest daquele ano com a música Waterloo, a vida dos dois começou a ter sentido, selando de vez a amizade dessas duas crianças, criando o sonho dos dois de, juntos, vencer uma edição do Eurovision Song Contest, e colocando o Fire Saga, banda formada pelos dois, em uma grande jornada em busca de um sonho no momento que, por um acaso do destino, eles são selecionados para completar a cota de participantes do Iceland Song Contest e concorrer à vaga de representar a Islândia no concurso europeu.

Com roteiro de Will Ferrell e Andrew Steele, o longa dirigido por David Dobkin e lançado pela Netflix pode facilmente ser divido em dois grandes polos roteiristicos: uma comédia romântica fluida que utiliza o festival de música como plano de fundo e uma comedia forçada que enche salsicha com piadas sem graça e desnecessárias. A história da dupla é clichê desde o inicio, criada quase que  inteiramente em moldes previsíveis, mas o roteiro brinca com isso ao nos dar formas diferentes de chegar ao ponto final, se negando a aceitar o clichê mor do estilo e nos dando motivos plausíveis para cada nova ‘virada’ da trama. Logo no inicio vemos que a dupla tem uma voz harmoniosa e que tem um grande potencial na música, mas que tem um grande problema por conta da obsessão competitiva de Lars e das composições duvidosas que a dupla possui, o que permite uma evolução mais palpável para os personagens, que começam a enxergar seu potencial e afinar suas aptidões. A cena da explosão do barco, que mata os 11 candidatos da Islândia e só deixa a Fire Saga disponível para competir no Eurovision, é aceitável apesar de ser um pouco forçada, nos deixando o desenrolar perfeito para a necessidade de seu roteiro e nos dando um bom pontapé motivador para o resto do desenvolvimento do enredo.

O Lars de Will Ferrel é o típico personagem de Ferrel, seguindo o clássico estereotipo do crianção que quer abraçar o mundo e não entende as responsabilidades que precisa assumir, tudo unido ao humor dispensável que o ator parece querer colocar na maioria de seus personagens. Sigrit é vivida pela super competente Rachel McAdams, que consegue dar os tons emocionais necessários para sua personagem e ainda consegue acompanhar bem o humor do longa, evoluindo com seu personagem de forma paralela para nos levar ao grande dilema do ato final com uma precisão elogiável. Entre os diversos vilões da produção temos Dan Stevens vivendo o representante da RússiaAlexander Lemtov, um garanhão que já tem presença cativa a um tempo no festival e que enxerga o potencial ignorado de Sigrit, se sentindo imediatamente atraído pela mulher e se inserindo dentro da conturbada relação dos membros da Fire Saga, querendo conquistar o coração e a voz da jovem islandesa. Uma personagem que não tem muito a acrescentar na trama, mas que fica na nossa memoria por sua inconveniente presença, de tela é Katiana, vivida pela ofuscada Demi Lovato, que poderia ter tido uma interferência mais significativa na trama mas é usada apenas para criar mais uma das piadinhas exaustivamente descartáveis do personagem de Ferrel. O elenco ainda se completa com Molly Sandén e Erik Mjönes, que, respectivamente, dublam Stevens e McAdams nas cenas musicais, dando características mais marcantes às vozes de seus personagens.

Numa produção que gira em torno de um concurso de música, é de se esperar a presença de algumas canções marcantes, como é o caso de “Volcano Man”, a música que apresenta a dupla de forma bem clara, com todo o seu exagero visual e musical. A música escolhida para o concurso, “Double Trouble”, é um bom meio termo para a evolução do longa, já que ela se encaixa em todas as alterações de personalidade que os protagonistas passam pelo longa. Um dos grande destaques é o épico “Song-Along”, que nada mais foi do que um enorme tributo ao Festival e ao continente em si, nos presenteando com um maravilho medley de “Believe” (de Cher), “Ray Of Light” (de Madonna), “Waterloo”  (de ABBA), “Ne Partez Pas Sans Moi” (de Céline Dion) e “I Gotta Feeling” (de Black Eyed Peas) em uma apresentação que uniu o elenco a nomes como John Lundvik, Anna Odobescu, Bilal Hassani, Loreen, Jessy Matador, Alexander Rybak, Jamala, Elina Nechayeva, Conchita WurstNetta, alguns dos participantes mais marcantes das edições passadas do Eurovision Song Contest real. A prata da casa fica para “Husavik (My Hometown)”, musica que expressa a evolução final da personagem de McAdams, libertando completamente a personalidade reprimida de sua cantora assim como “Let it Go” faz com Elsa, não é a toa que a música foi indicado ao premio de Melhor Canção Original no Oscar 2021.

Festival Eurovision da Canção é uma coprodução de Estados Unidos, Islândia e Canadá com uma fotografia que nos faz viajar por Islândia, Israel e Inglaterra, que nos leva por uma longa experiência (de 123 minutos) de sentimentos mistos, uma bela homenagem ao Eurovision Song Contest, uma sofrível construção de comédia nada cativante e uma música final que nos arrebata à essência da história do longa. Fica claro brilhantismo de David Dobkin, que nos leva ao amago do Festival ao mesclar cenas do filme com cenas filmadas no palco do verdadeiro Eurovision Song Contest, em sua edição 2019, que foi sediada em Tel Aviv, Israel, o que faz o filme ser muito mais real e envolvente, e o que adiciona a vibe correta para o desenrolar da trama, que tinha tudo para ser uma ótima produção se não fosse pelas suas cansativas piadas. Com uma trama sincera e repleta de ternura, o longa poderia ter ido mais longe se não fosse seus trechos cômicos que não funcionam.

 

 

Sonhador nato desde pequeno, Designer Gráfico por formação e sempre empenhado em salvar o reino de Hyrule. Produtor de Eventos e CEO da Host Geek, vem lutando ano após ano para trazer a sua terra toda a experiência geek que ela merece.

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