Nota
“Bem-vindo à Pizzaria Freddy Fazbear, onde a fantasia e a diversão ganham vida.”
Mike é um jovem problemático e angustiado, ele atualmente é o responsavel por cuidar de sua irmã de 10 anos, Abby, mas ainda é assombrado pelo desaparecimento não resolvido de seu irmão mais novo, Garret, que aconteceu há mais de uma década. Mike foi o último a ver o sequestrador levando Garret, e dedica suas noites a um complexo processo de ritual para explorar as lembranças através dos sonhos, buscando encontrar o rosto do sequestrado e resolver todo o mistério, algo que acaba interferindo diretamente no seu comportamento no trabalho e o impede de se manter em um emprego por muito tempo. Quando sua tia, Jane, o coloca contra a parede pedindo a guarda de Abby, Mike se vê obrigado a aceitar um emprego como segurança noturno de um restaurante temático abandonado: a Pizzaria Freddy Fazbear, ele só não esperava descobrir que a pizzaria não é o que parece, e, com ajuda da policial Vanessa, Mike acaba se envolvendo numa trama perigosa com encontros sobrenaturais e um pesadelo indescritível.
Não é nenhuma novidade falar que a trama de uma adaptação da franquia FNaF giraria em torno de um segurança e suas noites na Freddy Fazbear, mas quando Jason Blum revelou o envolvimento da Blumhouse na produção dessa adaptação, muita expectativa foi criada por todos que são familiarizados pela franquia. Com roteiro de Scott Cawthon (criador de FNaF), Seth Cuddeback e Emma Tammi (que também dirige o longa), o longa parece ter sido criado diretamente para os jogadores mais ferrenhos do jogo, brincando com as inumeras referencias e se fixando profundamente na mitologia pre-existente. Para os mais antenados em FNaF, vai ser um deleite assistir a rápida introdução do filme, onde os creditos passam lado a lado com uma animação silenciosa mostrando William Afton em sua roupa de Spring Bonnie sequestrando as cinco crianças, uma parte importante da premissa do filme que facilmente vai passar despercebida pelos espectadores do filme que não conhecem muito do jogo. Talvez essa seja a grande falha do filme, omitir peças importantes da mitologia dos jogos na narrativa do filme, o que deixam diversas cenas confusas, e ainda tentar completar essa mitologia com novos elementos que possam solidificar o enredo do filme, deixando um resultado que provavelmente só fará sentido para os que conhecerem profundamente a lore dos jogos, e lançando mão de easter-eggs pontuais essenciais, como a aparição do Balloon Boy, o funcionamento dos springlocks e a apresentação do funcionamento do trabalho através de uma adaptação de Steve Raglan como Phone Guy.
Josh Hutcherson encontra em Mike um papel que casa completamente com seu perfil, um homem que perdeu os pais, o irmão, o emprego e está prestes a perder a casa e a guarda da irmã, tudo indica o inicio de um drama de superação e de reinvenção, mas o filme logo nos encaminha para, no desespero, Mike se tornar o homem que encara, sem opção, um emprego extremamente duvidoso, uma pizzaria claramente assombrada. Tudo parecia se encaminhar para um típico filme de suspense, redescoberta e muita tensão, mas o filme não consegue realmente explorar a construção dos bonecos, segurando o momento de trazer a tona informações obvias que o seu público alvo ja sabe e perdendo a chance de explorar informações necessárias o publico geral precisa. Numa trama que parece tratar muito mais sobre a perca da inocencia frente a realidade, e que deixa de lado os astros da franquia de jogos para explorar mais a fundo o elenco humano da produção, talvez surja uma frustração para o publico que foi atraido ao longa, que realmente vai ao cinema por Freddy, Bonnie, Chica e Foxy, e não por Mike, Abby e Vanessa. O longa encontra em sua jornada o obstaculo Blumhouse, que abre mão do potencial violento do filme e foge do terror prometido para garantir uma classificação mais baixa, talvez isso só aumente a frustração de quem espere uma sanguinaria jornada à altura da “Mordida de 87”. Essa sensação de frustração só aumenta pela forma como a Abby de Piper Rubio e a Vanessa de Elizabeth Lail vão ganhando destaque em tela, uma escolha que busca criar uma conexão mais com o público, mas vai tirando o foco do que realmente importa no filme, os animatrônicos e a pizzaria, deixando pouco tempo para aprofundar sobre o passado e levando o longa até uma finalização que, apesar de fiel ao jogo, se torna forçada, como se o filme criasse situações convenientes para fazer a ligação com a forma como o roteiro se encaminhou e os eventos do jogo que querem adaptar.
Five Nights at Freddy’s é o mais puro exemplo de ‘filme para fã’, o filme é feito unicamente para agradar os fãs, o que acaba deixando os ‘espectadores comuns’ para trás. O roteiro de Scott Cawthon é um retalho costurado usando cenas e eventos que constroem o desenrolar dos jogos, toda a mitologia está presente no enredo, algumas partes com disfarces que logo são justificados. A proposta do longa claramente é pegar o primeiro jogo e trazer para as telas com uma história que se completa dando um plano de fundo para Michael Schmidt, o vigilante noturno do jogo, e é justamente por toda essa fidelidade que é possivel afirmar que a experiência para os fãs da franquia vai ser emocionante, o filme é fiel ao adaptar o visual dos animatrônicos, cada detalhe do cenário da Pizzaria, até os detalhes na sala de vigilancia, tudo está extremamente fiel, e a fotografia e trilha do longa só torna a experiência ainda melhor. O problema do filme mora nessa seletividade, o roteiro não se preocupa em explicar a mitologia da franquia, o que vai deixar os espectadores que não conhecem a fundo os jogos completamente perdidos, outro ponto é que o filme flui mudando de tom o tempo todo, passando pelo suspense, drama, aventura e até comédia, fazendo mudanças rápidas que os fãs da franquia já estão acostumados, mas pode não agradar muito àqueles fora da bolha, que vão para o cinema esperando um horror e violencia gráfica que não existe. A direção de Emma é eficiente, mas esbarra no enredo nichado enquanto tenta equilibrar construindo seus protagonistas humanos, o que é suficiente para tornar Five Nights at Freddy’s um filme que é oito ou oitenta, ou você vai gostar e entender tudo, ou vai sair completamente confuso e desgostoso com o longa.
“Você só precisa ficar de olho no monitor.”
Icaro Augusto
Sonhador nato desde pequeno, Designer Gráfico por formação e sempre empenhado em salvar o reino de Hyrule. Produtor de Eventos e CEO da Host Geek, vem lutando ano após ano para trazer a sua terra toda a experiência geek que ela merece.