Crítica | Ford vs Ferrari (Ford v Ferrari)

Nota
3

Em meados da década de 1960, a Ford resolveu entrar na disputa da mais antiga corrida de carros esportivos do mundo, a Le Mans, realizada desde 1923. Carroll Shelby (Matt Damon), ex-piloto e designer de automóveis é contratado para liderar a construção de veículo mais ambiciosa da empresa e, de quebra, selecionar o sujeito que estará capacitado para pilotar na corrida; no caso, o engenheiro tremendamente bruto Ken Miles (Christian Bale). Entrementes, o que se desenrola é a disputa das decisões mais lúcidas e objetivas dos dois amigos e o aspecto da imagem da companhia defendida pelo agente de marketing. O “inimigo”, então, deixa de ser apenas o principal concorrente da Ford, a Ferrari, e torna-se também a batalha interna na empresa.

Em parte, acaba sendo interessante acompanhar todo o jogo empresarial – mesmo de forma super simplista – durante o primeiro ato de Ford vs Ferrari, dirigido por James Mangold (mais conhecido pelo seu recente trabalho em Logan, de 2017). Embora o filme esteja muito mais preocupado em entreter com suas muito bem filmadas e montadas sequências de corrida, ele faz um trabalho de obstáculos muito bacana que deixa a narrativa sempre dinâmica. Mangold não foge do tradicional no seu tratamento visual e lida com um tom um bocado uniforme, mas consegue criar um paralelo eficiente entre a disputa de negócio e a corrida em si.

Ali e aqui há momentos de maior irregularidade ou humor meio desajeitado que tiram um pouco a direção dessa seriedade confortável (muito boa a cena que Matt Damon convence outro personagem através de uma corrida aleatória, por exemplo). E é ótimo que o filme saiba que seu maior potencial está na ação e na maneira como os personagens reagem a cada obstáculo que surge pelo caminho. São situações que – reais ou não – ajudam a dar um peso isolado bem funcional a cada sequência de corrida (o que quase esconde a falta de qualquer profundidade nos dois protagonistas).

Só não dá pra negar os lugares comuns que conseguem ser previstos a quilômetros de distância (o prólogo com uma corrida noturna que claramente está sendo imaginada ou recordada e frases didáticas como “já faz um ano, Caroll”). É tudo feito para fechar os arcos da forma mais redonda possível, o que impede o roteiro de atingir picos de desafiadores ou qualquer peso mais real àqueles acontecimentos. Mas só por James Mangold ter conseguido tornar corrida de carro um programa minimamente envolvente já é uma façanha.

 

De Recife (PE), Jornalista, leonino típico, cinéfilo doutrinador.

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