Crítica | Frankeweenie

Nota
2.5

O que acontece quando um jovem coração se depara com a perda, e a ciência se mistura ao sobrenatural? Frankenweenie, dirigido por Tim Burton, revisita temas como amizade, morte e a busca pelo extraordinário, mas desta vez, embalado em uma animação stop-motion em preto e branco que remete aos clássicos filmes de terror dos anos 30 e 40. Ao explorar o delicado equilíbrio entre inocência e obsessão, Burton nos presenteia com uma obra onde a nostalgia encontra a inovação, oferecendo um conto de terror infantil que é, ao mesmo tempo, comovente e sombrio.

Inspirado em seu curta de mesmo nome de 1984, Burton estende o conceito em um filme que homenageia não apenas a ficção científica e o horror gótico, mas também clássicos como Frankenstein, ao mesmo tempo em que transforma essa reverência em algo profundamente pessoal. A trama gira em torno de Victor Frankenstein (Charlie Tahan), um garoto apaixonado por ciências e cinema, que, ao perder seu cão Sparky, recorre à eletricidade para trazer seu amado companheiro de volta à vida. Mas, como em toda obra inspirada em Frankenstein, mexer com a vida e a morte raramente vem sem consequências.

A animação em stop-motion é uma característica marcante da filmografia de Burton. O formato traz vida aos personagens de maneira quase artesanal, com cada expressão e movimento meticulosamente trabalhados. O uso do preto e branco é uma escolha audaciosa e acertada, imergindo o público em uma atmosfera vintage que casa perfeitamente com a narrativa. Além disso, o design de produção é impecável, mesclando a estética macabra típica de Burton com uma delicadeza visual que reforça a ternura da história.

Victor, como protagonista, é um espelho para o jovem cientista obcecado pela ideia de desafiar as leis da natureza. Seu amor incondicional por Sparky é palpável, e a dor pela perda é representada com tanta sutileza que ressoa até mesmo com os espectadores mais céticos. A relação entre o menino e seu cachorro vai além de uma simples amizade infantil, tocando em temas universais como o medo da solidão e o desejo de preservar o que amamos. Mas a forma como Frankenweenie lida com a morte é o que mais surpreende. Não há respostas fáceis, nem soluções mágicas que apaziguem o sofrimento – apenas um olhar agridoce sobre o ciclo da vida e o luto.

Os personagens secundários, por sua vez, são arquétipos divertidos e excêntricos, cada um servindo como uma pequena homenagem às criaturas clássicas do cinema de terror. O professor de ciências, Mr. Rzykruski (Martin Landau), com seu sotaque peculiar e jeito imponente, funciona como uma voz da razão no meio do caos, trazendo à tona o debate sobre os limites éticos da ciência e o que a humanidade está disposta a sacrificar em nome da descoberta. Outros personagens, como os vizinhos de Victor e seus colegas de escola, são mais caricatos, representando o medo do desconhecido e a propensão à paranoia coletiva.

No entanto, apesar de seu charme visual e de seu humor sombrio, Frankenweenie não é perfeito. A narrativa, em alguns momentos, se perde no excesso de referências ao cinema de horror clássico, o que pode parecer, para os não iniciados, um desfile de homenagens um tanto quanto forçado. Há também uma certa previsibilidade nos eventos, especialmente no terceiro ato, quando o filme se inclina para um clímax mais agitado e menos emocionalmente impactante do que o esperado.

Ainda assim, a força emocional de Frankenweenie está em sua simplicidade. Ao escolher focar na amizade de Victor e Sparky, Burton nos oferece uma reflexão delicada sobre o que realmente significa deixar ir. A obsessão de Victor em ressuscitar Sparky pode ser vista como um espelho para a incapacidade humana de aceitar a finitude da vida, uma tendência que, em última instância, nos leva a consequências imprevisíveis. A moral da história, por mais simples que seja, é poderosa: há coisas que não podemos mudar, e aceitar a perda é parte essencial da experiência de viver.

Frankenweenie é tributo àqueles que se recusam a esquecer, que lutam contra a inevitabilidade da perda e que buscam, de alguma forma, trazer de volta o que foi tirado. É um filme que, como seus personagens, se equilibra entre o passado e o presente, entre a tradição e a inovação. Pode não ser o ponto alto da carreira de Tim Burton, mas é uma lembrança de que, em meio a todo o espetáculo sombrio e fantástico, o cineasta ainda é capaz de contar uma história sobre coração, perda e redenção.

 

Pernambucano, jogador de RPG, pesquisador nas áreas de gênero, diversidade e bioética, comentarista no X, fã incontestável de Junji Ito e Naoki Urasawa. Ah, também sou advogado e me arrisco como crítico nas horas vagas.

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