Crítica | Freaks: Um de Nós (Freaks: You’re One of Us)

Nota
2.5

Numa escola, uma mesa é arremessada por uma garotinha, matando seu diretor. A Dra Stern acaba sendo convocada para ir até lá conversar com Wendy, iniciando um tratamento de anos com terapia e remédios. Os anos se passam, agora Wendy é adulta e vive com seu marido e seu filho, ela está presa a uma vida triste, trabalha na cozinha de uma lanchonete de bairro, e precisa lidar com sua chefe abusiva, sua falta de dinheiro e seu filho sofrendo bullying, tudo enquanto segue fielmente a rotina de remédios e terapia. Mas sua vida muda completamente depois que ela conhece um mendigo estranho, que diz a ela que os remédios não são o que parece, que a Dra Stern é perigosa e a desafia a parar de tomar os remédios e ver seu verdadeiro poder.

Depois da cena de introdução protagonizada por Charlotte Banholzer, é impossível não ter dois sentimentos imediatos: primeira, saber que Wendy é dotada de superforça, e segundo, querer desesperadamente saber o que realmente aconteceu naquela escola. O filme vai se desenrolando, nos mostrando a vida comum de Wendy e seu trabalho rotineiro, nos forçando a desejar que uma virada aconteça o quanto antes, tudo acompanhado do carisma incrível que Cornelia Gröschel exala em cena. Mas o roteiro de Marc O. Seng não consegue manter nossa atenção por muito tempo, o enredo vai, pouco a pouco, se tornando mais simples, com soluções bobas e uma trama pouco criativa. Os furos no roteiro da produção alemã, que estreou na Netflix em 2 de setembro de 2020, são forçados ainda mais pela direção de Felix Binder, que apesar de saber manter o tom de mistério no começo vai perdendo a linha. O longa tem todo um potencial quando revela a superforça de Wendy, quando a moça começa a enfrentar seus dilemas, encarar a realidade sobre seu passado e, inesperadamente, se sente impulsionada a usar seus poderes para melhorar sua vida e a de sua família.

Apesar de tentar debater sobre o valor familiar, a humildade e a empatia, características que servem para formar o caráter da nova Wendy, o filme pecou bastante ao não investir em efeitos especiais mais críveis, algo que fica ainda mais evidente quando somos levados a conhecer Elmar (Tim Oliver Schultz), o colega de trabalho de Wendy que, posteriormente, descobre ter o poder de emanar eletricidade de seu corpo, e Marek (Wotan Wilke Möhring), o mendigo que abriu os olhos de Wendy e revela ter o dom da invulnerabilidade. Os efeitos dos poderes da dupla são ainda mais incômodos do que as cenas de Wendy arremessando pessoas para longe, mas tudo isso não se compara às tramas evolutivas de cada um deles, como Elmar, que passa por uma transição de jovem sem perspectivas para uma versão odiosa e egoísta de si mesmo, expondo sua ambição insaciável. O antagonismo da trama fica nas mãos de Nina Kunzendorf, que vive a fria Dra Stern, que traz uma aura materna meio sádica, como se realmente acreditasse em todo o discurso protecionista que vive proferindo, algo que nos deixa sempre em dúvida sobre quem realmente é o vilão da trama, sobre até onde a visão limitada das perspectivas e as crenças cegas podem nos levar.

Com seus 90 minutos de duração, o longa nos leva a explorar uma intensa busca pela verdade ao mesmo tempo que sua protagonista vive um conflito pessoal, entre viver em paz com sua família e enterrar seu verdadeiro eu com os remédios ou assumir sua realidade e enfrentar vilões enquanto machuca inocentes acidentalmente. A autoconfiança de Wendy vai sendo construída, fazendo a personagem viver por uma gigantesca evolução, infelizmente tudo isso se perde no decorrer do longa, quando o roteiro vai se deixando levar pelos clichês e vai perdendo seu brilho. Quando terminamos o longa, temos a sensação de ter visto um piloto de série, principalmente por conta de sua cena final, que deixa um gancho para uma continuação desnecessária. Com pitadas que nos lembram bastante os filmes dos x-men, é possivel sentir uma vaga influencia de produções como Venom, criando muito mais uma ideia de anti-heróis/vilões do que de filme de heróis.

 

Sonhador nato desde pequeno, Designer Gráfico por formação e sempre empenhado em salvar o reino de Hyrule. Produtor de Eventos e CEO da Host Geek, vem lutando ano após ano para trazer a sua terra toda a experiência geek que ela merece.

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