Crítica | Free Guy: Assumindo o Controle (Free Guy)

Nota
4.5

“Essa é Free City […] Aqui, os caras de óculos são os heróis.”

Free City funciona completamente fora dos padrões conhecidos, ela é principalmente uma cidade comandada pelos Caras de Óculos, pessoas que surgem com roupas e cabelos estilos e usando um óculos escuro específico e tem permissão para fazer tudo o que quiser na cidade, incluindo roubar carros e namoradas alheias e enfrentar a polícia. É nessa cidade que vive Guy, um otimista funcionário de banco que vive ali desde que se conhece por gente, interagindo com seus amigos e seu peixe e acostumado com todo o caos que reina no arredores da cidade, que vive tendo tiroteios em suas esquinas, chuvas de tiros de helicópteros quando menos se espera e assaltos a banco quase que diariamente, a vida perfeito para o cara perfeito… Até o dia em que ele cruza com a molotovGirl, a garota dos seus sonhos, e resolve quebrar a rotina, descobrindo que Free City, sua vida e até ele, são apenas partes de um mega famoso jogo online.

Com inspiração claras em Fortnite e GTA, foi criado por Matt Lieberman, em meados de 2016, o primeiro rascunho do roteiro do que viria a ser Free Guy, escrito em três semanas, o roteiro acabou sendo adquirido pela 20th Century Fox, que repassou o roteiro para o cineasta Shawn Levy, que o rejeitou e engavetou. Os anos se passaram, a Disney acabou adquirindo a Fox e, por meio de uma ponte de Hugh Jackman, Levy acabou conhecendo Ryan Reynolds que aceitou se unir a ele para trabalhar em Free Guy. Em 2019, após muita empolgação, a produção do longa começou, aproveitando todas as portas abertas que a Disney trazia e toda a concepção criativa que já vinha desde a Fox. O longa lançado em agosto de 2021 brinca com um novo ponto de vista para o mundo dos jogos, colocando um NPC no lugar do protagonista e, de forma calorosa, nos lembrando diretamente dos eventos de O Show de Truman, ao mesmo tempo que consegue habilmente dividir seu enredo em duas partes: Uma parte focada na evolução de Camisa Azul (nome pelo qual Guy passa a ser conhecido) e a outra focada na busca de Millie pela vingança contra a Soonami.

O Guy de Ryan Reynolds é o típico cara inocente, aquele personagem que é arrastado para o olho do furacão, sem saber onde está se metendo, enquanto sente o chamado da aventura para cumprir seu dever. Guy literalmente se torna o cara legal e começa a encontrar novas formas de jogar o jogo, mantendo seus princípios ao mesmo tempo que segue crescendo de nível e se aproximando da garota que ele vive sonhando. Dentro do jogo, Millie se torna molotovGirl, uma mulher forte e voraz como nunca, que consegue criar camadas para a personagem que nos envolve, dando um ar rígido na garota que está buscando os segredos de seu inimigo ao ar doce da pessoa por trás do avatar, uma garota que acreditou demais num executivo e acabou sendo jogada fora. Fora dos jogos, a personagem de Jodie Comer mostra suas verdadeiras camadas, sem aquela armadura do jogo mas ainda mais forte em seu amago, dedicada a encontrar a prova que precisa para provar que Antwan a enganou e roubou sua ideia. O antagonismo do longa fica a cargo de Taika Waititi, que no papel do excêntrico presidente da Soonami entrega toda a sua diversidade, mostrando que é capaz de dar múltiplas facetas para o mesmo personagem e pode ser o vilão mor sem nos fazer odiá-lo. Completando o elenco de destaque temos Joe Keery vivendo Keys, o antigo sócio de Millie que acabou caindo na armadilha de Antwan e se tornou um simples programador menor na empresa que devorou seus sonhos, mas ele acaba também sendo uma peça chave em vários momentos de virada do longa.

Mostrando uma essência semelhante com a entrega de Ryan em Deadpool, o longa consegue se desenvolver de forma divertida ao mesmo tempo que é conciso, criando um enredo que pode até parecer insano em vários momentos, mas que evolui de uma forma linear pelas entrelinhas e conta uma história direta, um romance misturado com uma aventura, com pitadas de ficção cientifica e utopia, uma típica viagem que só uma produção Disney seria capaz de fazer. Deixando claro que realmente é uma produção Disney, o longa ainda vai fundo no mundo das referencias e das participações, temos a aparição de um Mega Buster (Mega Man), de uma arma de portais (Portal), das picaretas de Fortnite e até do escudo do Capitão América, assim como temos a participação dos youtubers Seán William McLoughlin, Tyler Blevins, Imane Anys e Lannan Eacott, e aparições de Tina FeyHugh JackmanDwayne JohnsonChanning Tatum John Krasinski. Marcando ainda mais a evolução do longa, temos a participação de Aaron Reed e o surgimento de Dude, que levam o filme a um outro patamar e nos surpreende positivamente.

Completamente psicodélico em sua formação e complexo em seu esqueleto, Free Guy é uma grande mistura de um conceito inteligente, um humor leve e autoconsciente e um elenco bastante charmoso, mas esbarra em alguns limites quando se considera seu roteiro. O enredo parece comodista em certos pontos, quando vemos que Levy começa a mudar as regras do jogo a medida que a produção avança, abrindo portas necessárias para a evolução que poderiam ser uma solução para um problema anterior, tornando tudo uma interessante tentativa de embarcar no sucesso de criações como as de Matrix e Uma Aventura LEGO. Com todo o seu caos visual, o longa parece trazer a fórmula perfeita para se tornar um grande sucesso de público, o que só foi provado quando o longa superou sua expectativa de bilheteria na semana de estreia, reforçando ainda mais o quanto Reynolds foi a escalação perfeita e Comer adicionou um tom de soberba e charme no enredo caótico, dando uma moral que não soou forçada no final do filme.

“Não tenha um bom dia, tenha um grande dia.”

 

Sonhador nato desde pequeno, Designer Gráfico por formação e sempre empenhado em salvar o reino de Hyrule. Produtor de Eventos e CEO da Host Geek, vem lutando ano após ano para trazer a sua terra toda a experiência geek que ela merece.

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