Crítica | Gasparzinho, o Fantasminha Camarada (Casper)

Nota
3

Após dias cuidando do seu pai doente, Carrigan Crittenden (Cathy Moriarty) pode finalmente descansar e esperar a tão sonhada herança. Mas a sua surpresa é descobrir que o seu pai doou todo o seu dinheiro para diversas instituições de caridade para animais, deixando-a apenas com uma velha mansão que ninguém entrava há anos. Após chegar lá ela tem uma grande surpresa, a velha mansão do seu pai é na verdade assombrada por fantasmas, mas não por qualquer fantasma, quem mora lá é Gasparzinho (Malachi Pearson), um fantasminha solitário que sonha em ter amigos. Na tentativa de vender a casa para conseguir algum dinheiro, Carrigan decide contratar vários exterminadores para acabar com seu problema fantasmagórico, recorrendo até aos caça-fantasmas, mas sem sucesso. Então, um dia que Gasparzinho se vê sozinho assistindo TV, ele descobre o trabalho do Dr. James Harvey (Bill Pullman), um ex psiquiatra que decidiu largar o emprego para investigar fantasmas na tentativa de reencontrar sua esposa falecida, o que cria diversos problemas para sua filha, Kat Harvey (Christina Ricci), que não consegue fazer amigos. Agora apaixonado pela Kat, Gasparzinho usa seus poderes fantasmas para convencer Carrigan a contratar o Dr. Harvey, o que pode dar início a uma bela amizade entre Gasparzinho e Kat. Sucesso desde 1945, Gasparzinho ganha seu primeiro filme live action em 1995: Gasparzinho, O Fantasminha Camarada, que era bastante popular com as crianças dos anos 90 e 2000, especialmente no Brasil, após diversas reprises na Sessão da Tarde, se tornando um clássico da grade de programas da Rede Globo.

Gasparzinho é o primeiro longa do diretor Brad Silberling, que seguiu fazendo trabalhos diversificados ao longo de sua carreira. O filme conta com um elenco não muito famoso, com o destaque para Christina Ricci, que foi eternizada como a Wandinha de Família Adams em 1991, o que faz com que o papel de Kat seja bem apropriado para o momento da atriz, que passou por dois filmes da franquia Família Adams, e então embarca em mais um filme com a temática sobrenatural para o público infantil e para toda a família. Falando sobre o tema, apesar de envolver fantasmas, o filme é bem leve, com resoluções de problemas simples e muitas trapalhadas dos vilões e do núcleo principal do filme, já que o mesmo foi feito para ser um filme divertido e sem muita profundidade, e nisso ele cumpre muito bem o que se propõe. Talvez o filme não agrade muito as crianças de hoje em dia, visto que muitas das suas piadas são bem datadas, contendo inclusive diversas referências a cultura pop da época, como aos Caça-fantasmas, sucesso do cinema na década anterior ao filme, ao autor Stephen King e ao filme O Mágico de Oz de 1939, e com o público atual, sem essas referências de cultura pop, a maior parte das piadas são perdidas, diminuindo assim o interesse do público mais jovem.

Por incrível que pareça, o que Gasparzinho acerta em cheio são os seus efeitos especiais, que, apesar da época, não envelheceram tão mal assim hoje em dia. Ao invés de seguir a rota realista que se tem hoje em dia, o filme escolhe de fato cartoonizar os personagens, como o próprio Gasparzinho, fazendo assim o efeito em computação gráfica dos fantasmas serem cartunescos mas ao mesmo tempo plauzíveis com o contexto das cenas, já que mesmo com suas aparências, por terem “corpos” transparentes, os personagens se misturam muito bem com os cenários e os outros personagens, fazendo assim que o CGI antigo não seja tão gritante como um ponto negativo por conta desse aspecto translúcido. Outra questão que agrega são os efeitos práticos em cenas de ação que auxiliam os personagens digitais e os personagens humanos, assim como também são usados como auxiliares para piadas ao longo do filme. 

Mas o que definitivamente envelheceu mal foi o roteiro do filme. Popular desde os anos 40, Gasparzinho é um personagem que surgiu pelas suas histórias em quadrinhos da Harvey Comics e cresceu em popularidade até ter sua própria série animada em 1958, com diversos outros personagens, mas suas histórias, em sua maioria, envolviam sua busca por amigos que não tivessem medo de sua companhia, até porque a figura do Gasparzinho sempre foi infantil e inocente. Pulando para 95, o filme em live action se propõe a criar uma conexão amorosa entre Gasparzinho e a personagem Kat, que é uma adolescente enquanto o fantasminha solta várias dicas de ser uma criança à medida que eles vão desvendando o seu passado. Isso cria diversos momentos constrangedores para Gasparzinho, que tenta conquistar a Kat, não para ser ser amigo, mas sim romanticamente, o que acaba com todo o ponto do personagem de ser amigável, tendo inclusive cenas que destoa bastante da personalidade “camarada” que foi estabelecida por sua série animada. Ainda assim, o backstory criado para o personagem chega a ser interessante, dando indícios da sua família, mesclando com outras obras clássicas do cinema.

Gasparzinho, O Fantasminha Camarada envelheceu um pouco mal, mas continua sendo um divertido clássico da Sessão da Tarde. Com efeitos especiais que contribuem para as personalidades cartunescas dos personagens fantasmas, o filme do diretor Brad Silberling consegue o seu objetivo principal: divertir famílias independente da idade. Com um enredo simples de fácil resolução, o filme não se propõe a muita coisa e nem se leva muito a sério, o que acaba sendo um ponto positivo, pois desde o começo suas piadas acabam tendo mais graça justamente pela falta de comprometimento com a seriedade. Ainda assim, o filme tenta forçar um romance entre Gasparzinho e a personagem Kat que não faz sentido nem com os personagens e nem com o enredo principal, podendo ter sido facilmente trocado por uma dinâmica de um grupo de amigos novos para o fantasminha. Ainda assim, Gasparzinho: O Fantasminha Camarada é uma ótima pedida para este Halloween para quem não gosta de filmes de terror e só quer um filme bobinho para assistir. Atualmente o filme se encontra disponível no streaming pela plataforma Globoplay, que acaba honrando o seu legado para as crianças dos anos 90 que acompanhavam as tardes da Globo.

 

Ilustradora, Designer de Moda, Criadora de conteúdo e Drag Queen.

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