Crítica | Glass Onion: Um Mistério Knives Out (Glass Onion: A Knives Out Mystery)

Nota
4.5

“Blanc, alguém quer ver você… Com uma caixa.”

Em meio a pandemia, o bilionário da tecnologia Miles Bron (Edward Norton) resolve reunir seus velhos amigos, os Disruptores, para mais uma das tradicionais reuniões anuais de jogos de mistério, dessa vez com um final de semana em Glass Onion, sua mansão construída em sua ilha grega particular. Os Disruptores são: Claire Debella (Kathryn Hahn), a governadora de Connecticut que está concorrendo ao senado; Lionel Toussaint (Leslie Odom Jr.), um cientista que trabalha para Miles; Birdie Jay (Kate Hudson), uma designer de moda; Duke Cody (Dave Bautista), uma estrela do YouTube; e Cassandra Brand (Janelle Monáe), a ex-sócia de Miles que foi colocada para trás por ele. Mas, para a surpresa de Miles, apesar de ter enviado apenas cinco convites, uma sexta pessoa recebeu a caixa encriptografada com as informações sobre o evento: o Detetive Benoit Blanc (Daniel Craig), um famoso detetive de renome que sempre está envolvido nos casos mais complexos. Apesar do problema da presença de Blanc, tudo parecia sob controle no evento de Miles, até que tudo saiu do planejado quando alguém aparece morto, obrigando Blanc a assumir a investigação e solucionar o assassinato.

Depois que Knives Out (2019) se tornou o segundo filme original de maior bilheteria do ano que não foi baseado em algum conteúdo existente, o que pode ser considerado um resultado comercialmente bem-sucedido, Rian Johnson recebeu o sinal verde da Lionsgate para produção de uma sequência. Seguindo um estilo semelhante à série de romances de Hercule Poirot, de Agatha Christie, que apresenta um segundo filme independente, com uma nova história e elenco, e gira em torno de um único personagem principal, o Detetive Benoit Blanc. Os direitos de distribuição de Knives Out 2 acabaram sendo leiloados para a Netflix em março de 2021, junto com um terceiro filme da franquia, e sua produção foi iniciada com o retorno de Johnson como diretor, produtor e roteirista, do diretor de fotografia Steve Yedlin, do editor Bob Ducsay, do compositor Nathan Johnson e de Daniel Craig no papel protagonista. Seguindo o padrão de nos apresentar vários suspeitos e suas motivações, o longa se aproveita de quatro dos seis convidados para o evento e adiciona mais três presenças no ambiente, totalizando sete suspeitos que possuem meios e motivos para cometer o assassinato, e do qual teremos que nos aprofundar no decorrer do enredo para solucionar o verdadeiro mistério.

Apesar de ser o grande astro da franquia, Craig se mostra pronto para recuar em maior parte do filme e deixar os eventos se desenrolarem, dando à narrativa um formato que foge completamente ao seu antecessor, mesmo que ainda mantenha o padrão de ocultar informações essenciais para a revelação final e que poderiam atrapalhar a experiencia investigativa do espectador. Todo o foco do longa cai em Norton e Monáe, ambos presos a uma grande dança vingativa que avança e recua a medida que seus personagens vão se desenvolvendo. Norton é o arrogante milionário que parece tratar todos do seu grupo como inferiores, capaz de chantagear cada um deles para força-los a seguir submissos a ele, para ter medo de abandonar a proteção financeira do falso gênio da tecnologia. Já Monáe é a mente verdadeira por trás da empresa, citando (assim como o filme) o longa A Rede Social, temos claramente na relação dos dois um dilema Zuckeberg-Saverin, com uma mistura das personas criadoras do Facebook nos personagens criados do imperial Alpha. Seguindo ao redor dos três astros, temos Hudson numa caçada pela estabilidade, Hahn numa busca por proteger sua imagem, Odom buscando o reconhecimento por seu trabalho e Bautista numa busca por ser levado a sério, todos eles levados ao extremo por Miles para cooperar no lançamento do perigoso Klear, uma proposta de combustível inovador com potencial explosivo extremo. Apesar de tempos de tela distintos, cada peça do elenco tem seu momento e sua função, cooperando harmoniosamente com a história, sendo aprofundados o suficiente para servir ao enredo e provando o quanto o trabalho de Johnson avançou de 2019 para ca.

Intenso, imersivo e inesperado, Glass Onion: Um Mistério Knives Out entrega reviravoltas bem colocadas e criticas acidas, nos divertindo com a forma como a combinação de atores tão diferentes parece quimicamente eficientes. Se mostrando digno de nossa atenção a cada segundo, o enredo evolui de forma fluida, dando espaço até à Peg de Jessica Henwick (a assistente de Birdie) e à Whiskey de Madelyn Cline (a namorada mais nova de Duke), que mesmo desencaixadas em meio aos poderosos amigos de Miles, cumprem suas funções, cooperam com a história e tem seus devidos tempos de tela, e das participações extremamente especiais de Ethan HawkeJoseph Gordon-Levitt, Natasha Lyonne, Hugh Grant e Yo-Yo Ma, personalidades que se inserem na produção pontualmente, apesar de serem escalações mal aproveitadas, mas que preenchem nosso humor junto com tantas outras referências. Novamente temos Johnson usando seus personagens para criticar as elites e suas lutas pela manutenção do status quo, dessa vez nos apresentando a arrogância e a falta de escrúpulos através cientistas antiéticos, bilionários sociopatas e personalidades da internet reacionárias, pessoas que se mostram capazes de qualquer coisa para proteger seu status e àqueles que o protegem. Talvez o maior problema do filme seja esconder quem foi assassinado até meados do filme, o que deixa o espectador desfocado, sem saber de quem suspeitar ou que informações são mais relevantes, e também enfraquece o caráter ‘quem matou?’ da produção, uma questão que bate diretamente contra uma das grandes piadas do primeiro ato envolvendo Gillian Flinn.

“Eu aprendi, através de uma experiencia ruim, que um convite anônimo não é pra se levar na brincadeira”

 

Sonhador nato desde pequeno, Designer Gráfico por formação e sempre empenhado em salvar o reino de Hyrule. Produtor de Eventos e CEO da Host Geek, vem lutando ano após ano para trazer a sua terra toda a experiência geek que ela merece.

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