Nota
Todo mundo sempre quer assistir a bons filmes, é claro, mas é importante que os médios, fracos, ruins e péssimos existam para servir de contra-exemplo e, principalmente, para se discutir cinema – afinal, metade da experiência cinematográfica é a sessão em si e a outra, a conversa. Às vezes não importa se foi bom ou não e, sim, se há algo a ser comentado (muitos filmes ruins geram discussões maravilhosas justamente por causa de seus defeitos particulares). Não tem nada pior do que assistir a algo e sair sem ter nada a dizer e é isso que acontece ao final de Goosebumps 2: Halloween Assombrado, um tipo de filme ruim que existe aos montes, fazendo o crítico repetir as mesmas questões e apontar os mesmos erros que já apontou centenas de vezes.
Seguindo a estrutura de Goosebumps: Monstros e Arrepios (2015), seu antecessor, a continuação trata de dois garotos que encontram um manuscrito do autor de terror R. L. Stine em uma casa abandonada, enquanto procuram por materiais sucateados. Aos abrirem o livro e lerem uma frase num bilhete, acabam libertando um boneco de ventríloquo sobrenatural que faz todas as fantasias, brinquedos e objetos de halloween ganhem vida. A fórmula não poderia ser mais básica e a direção de Ari Sandel, responsável pelo recente Quando nos Conhecemos, não poderia ter menos criatividade. E, mesmo o material sendo, de fato, muito simples e modesto (uma aventura de terror e comédia juvenil de subúrbio americano), não custava nada sair um pouquinho da bobagem de sempre e desenvolver, pelo menos, um desenho de produção com mais personalidade.
As criaturas em computação gráfica são ótimas para adormecer crianças (mais ainda os adultos) e quem assistiu ao primeiro filme vai notar a reciclagem de ideias e situações sem muito esforço. Os diálogos são pavorosos e o personagens, qualquer coisa: dos garotos loosers (“perdedores”) até o grupo de bullying, passando pela mãe solteira alienada até a irmã mais velha que tem de tomar conta do irmão enquanto quer sair pra festa. Faz tempo, aliás, que um filme não sabe ao menos disfarçar seus chavões e clichês (o próprio Jack Black os admite, numa tentativa cínica e quase boa de redimir o projeto), recorrendo frequentemente em piadas e pausas e as repetindo, literalmente, na cena seguinte (conte quantas vezes um personagem diz para o outro se virar – mais um pouquinho dava pra cantar “Total Eclipse of the Heart”, com a Bonnie Tyler).
Honestamente, o filme mais parece aqueles episódios baratos produzidos para televisão que as pessoas só assistem quando passa no especial da TV Globinho. Goosebumps 2 tem uma cena boa, usando uma fala da mãe da protagonista para exprimir uma indagação comum da plateia de cinema com sussurros, que todo mundo acaba sempre escutando porque pois nunca são realmente sussurrados. Mas o compromisso aqui é muito mais com a trilha genérica barulhenta e a poluição de CGI do que com sussurros. Para muita gente, é o que basta. Um Lugar Silencioso mandou abraço.