Crítica | Hachiko: Para Sempre (Hachiko)

Nota
4

Hachiko: Para Sempre é uma adaptação do filme Hachikō Monogatari (1987), que também deu origem ao famoso remake americano Sempre ao Seu Lado (2008), apresentando a história do cachorro da raça Akita Inu que espera o seu dono por dez anos na estação de trem de Shibuya, Tóquio. Nessa versão, que se passa na China, um professor substituto da universidade encontra um filhote abandonado em uma cidade distante e desabitada e decide adotá-lo, a contra gosto de sua esposa, mas com o decorrer dos anos, só cresce a amizade do cão pelo seu dono e pela sua família. A dupla cria um forte laço de amizade e afeto a ponto do cão acompanhar seu dono até a estação todos os dias e esperá-lo para voltar juntos para casa, mas quando o professor morre, a fidelidade do cão é tanta que o companheiro passa a esperá-lo no mesmo lugar por dez anos, apesar da família decidir deixar a cidade.

O filme começa com um filho com sua mãe apresentando todas as mudanças da cidade, que outrora foram projetos do seu pai, como pontes, teleféricos, com muitos tons acinzentados e sem vida da vida urbana e do estado de vida da personagem, até que chegam na universidade em que o esposo trabalhava e escutamos um nome pelo jornaleiro, Hachiko, o que espanta a senhora e leva a um salto temporal. Somos então colocados na narrativa da família Chen, que vivia num subúrbio, onde o pai da família, Sr. Chen (Xiaogang Feng), era professor substituto da universidade, um homem tradicional, tímido, sossegado e amante de futebol, que vive ao lado de sua esposa, interpretada por Joan Chen, que amava jogar Mahjong com seus vizinhos, apostando e cuidando da vendinha da família, seu filho programador, que é introspectivo e tem dúvidas do amor do pai por ele, e sua filha que está tentando engatar um namoro. Todos numa rotina meio cansativa, onde Chen exige dos filhos, como um bom pai chinês, e a mãe preocupada com as finanças e em como o marido poderia vender suas ideias e projetos, até que, em uma das viagens de campo com o reitor da universidade para um interior, o homem resgata o cãozinho.

É impressionante como o filme começa triste e vai ganhando cor, luz, calor, vida com a chegada no hachiko àquele lugar, a direção de Ang Xu mostra, principalmente, além do afeto do ser humano, de como a vida pode ser bela com um companheiro ao seu lado, como pode tudo pode ganhar mais cor, mais vida, mais energia e mais felicidade. O professor torna-se mais confiante, começa a enxergar o mundo mais feliz, e a se impor e a refletir sobre sua relação, ele começa a amadurecer com seus filhos e suas respectivas decisões de vida. Reflexões sobre as diferenças familiares, e até momentos cômicos como não saber preparar comida do cachorro, são bobos mas trazem um sentimento leve e emocionante, que acalenta. O filme nos conecta na relação do dono com o seu cão, em como aquele homem, mesmo sendo já de idade, era uma pessoa tão boa. A direção também acerta bastante, pois além de treinar o cão, prepara a locação para seguir um roteiro específico, para facilitar de o cão seguir a história enquanto a câmera capta todo o seu percurso. E para não usar um cão tão velho, utilizam maquiagem para dar um aspecto de surrado e cansado com o decorrer dos anos.

Brincando também com cliches de cão enterrar osso, dos chineses comerem carne de cachorro, da vizinhança inteira ter carinho pelo cachorro daquela família querida, superstições, tudo construido de uma forma que transforma o longa em algo bem família e sessão da tarde. Mesmo com uma história que já foi contada algumas vezes, Hachiko: Para Sempre emociona. Tudo é bem crível, a iluminação para transparecer emoções, e outras soluções inteligentíssimas e delicadas, como uma lembrança por uma comida, por uma antiga casa, por um jornal, por uma peça de jogo, por um som de um sino, lembranças pelas pequenas coisas mas que representam tanto de uma pessoa ou de um lugar no coração. A produção ainda traz nos créditos o processo de desenvolver o cão para o filme, desde o resgate até a adoção do mesmo ao término do projeto, nos mostrando a importância de adotar animais de rua. Como todas as versões dessa história real, sempre há espaço para emoções com uma boa direção, e fica no fim a frase marcante do filme que constroi uma camada no emocional do espectador: Os cachorros são iguais aos seres humanos, ambos perseguem a luz.

 

Formado em cinema de animação, faço ilustrações, sou gamer, viciado em reality shows, cultura pop, séries e cinema, principalmente terror/horror

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