Crítica | História de um Casamento (Marriage Story)

Nota
5

“Vou ama-lo para sempre, mesmo que não faça sentido.”

Charlie (Adam Driver) e Nicole (Scarlett Johansson) formam uma dupla imbatível. Ele é um diretor renomado no cenário novaiorquino, com uma trupe de sucesso que estreia mais um sucedida peça estrelada por sua esposa. Ela é reconhecida em seus papéis, servindo como musa e conselheira nos piores momentos. Mas, o que já foi um maravilhoso casamento, se mostra cada vez mais desgastado e cansativo.

Nicole sente-se invisível para o marido, sendo colocada num papel em que não se sente confortável e sem nenhuma voz ativa em seus próprios interesses. Seus desejos, sonhos e objetivos são ignorados em prol da companhia teatral e sucesso de Charlie, mas a gota d’água chega em forma de uma oportunidade de trabalho em sua cidade natal, Los Angeles, onde ela pretende morar junto com o filho do casal Henry (Azhy Robertson), ao menos temporariamente.

Determinados a torna o processo de divorcio o mais pacífico possível, o casal tenta conciliar seus planos futuros e entrar em acordo mútuo em prol de Henry. Mas, com a chegada dos advogados Nora Fanshaw (Laura Dern) e Jay Marotta (Ray Liotta) tudo sai do controle, tomando proporções que nenhum dos dois queria e despertando o pior em cada um.

Um divórcio nunca é fácil. O ato em si não simboliza o fim do amor, mas o desgaste e a transformação que o sentimento teve durante os anos a ponto de não ser mais o suficiente para que o casal permaneça unido. Tendo isso em mente, o excelente Noah Baumbach inicia seu longa com longas declarações de amor, mostrando as qualidades de seus protagonistas pelo ponto de vista do outro e estabelecendo bem o sentimento que existe entre eles antes de colocar a temática na mesa.

História de um Casamento traz uma dureza cruel para um momento delicado entre duas pessoas que se amam. Evitando cortes e trazendo cenas pesadas emocionalmente, o diretor foge da zona de conforto e exprime o máximo de seus personagens que, somente agora, tem a oportunidade de falar francamente tudo o que sentem.

O longa trás uma mescla entre esperança e egoísmo, trazendo um dilema constante de pessoas tão focadas em si que não conseguem enxergar as coisas ao seu redor. Charlie é a prova disso. Por boa parte do filme, o diretor se mostra esperançoso em ter tudo resolvido como planejaram mas, quando isso não acontece, esse entra em uma espiral caótica que o tira do eixo. Ele é tão preso em seu egocentrismo que não consegue pensar fora do que foi estabelecido em sua mente, e reafirmando acordos que mudaram constantemente a ponto de seus argumentos se tornarem mais fracos a cada vez que ele os pronuncia.

Nicole sempre desejou ter voz e tomar suas próprias decisões, mas quando realmente achou ter conseguido se impor ela percebe que foi manipulada e moldada para algo que nunca desejou. É doloroso acompanhar sua batalha e ver o quão machucada ela fica em cada confronto com aquele que ela ainda ama. As atuações de Johansson e Driver são tão poderosas que nos fisgam nos detalhes. A dor de um abraço não dado pelo filho, a expressão de ódio contida, o cuidado com o que dizer para não ser traído mais uma vez, tudo é tão genuíno e intenso que nos pegamos envolvidos e emocionados ao final de cada cena.

Os advogados pouco se importam com seus clientes, se mostrando cruéis em muitos aspectos, criando uma falsa sensação de acolhimento quando precisam manipular as coisas ao seu favor. É só notar como Nora conduz Nicole, trazendo desejos que não são delas e aplicando golpes sujos para tentar vender (ao mesmo tempo que demonstra uma leve admiração pontual por Charlie quando esta em um momento de pausa em seus ataques, saindo do papel cruel de advogada). Algo espelhado por Jay, que não mede esforços em ser cruel e jogar sujo, criando uma guerra desconfortável entre o casal, que em todo esse momento permanece em silencio aguentando o golpe. É quase poético ver como pequenos atos e palavras podem ser usados contra você, de uma maneira perversa e totalmente fora do contexto, a ponto de se tornar marcas ainda mais profundas em alguém que não pretendia te machucar.

Com atuações viscerais e uma direção impecável, Historia de um Casamento traz uma dolorosa jornada de transformação. Conduzindo com maestria a obra de uma maneira verossímil e arrebatadora sobre o fim de um relacionamento entre duas pessoas, que se amam e precisam se redescobrir no perverso processo que nenhum deles desejava, mas que se mostra ainda mais poderoso do que esperavam.

 

Preso em um espaço temporal, e determinado a conseguir o meu diploma no curso de Publicidade decidi interagir com o grande público e conseguir o máximo de informações para minhas pesquisas recentes além, é claro, de falar das coisas que mais gosto no mundo de uma maneira despreocupada e divertida. Ainda me pergunto se isso é a vida real ou apenas uma fantasia e como posso tomar meu destino nas minhas mãos antes que seja tarde demais...

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