Crítica | Homecoming

Nota
5

Homecoming é o novo documentário da Beyoncé, que está disponível na Netflix. Assim como Life Is But a Dream, lançado em 2013, este é um presente aos seus fãs, onde ela mostra os bastidores de um dos seus maiores shows e todas as dificuldades de voltar aos palcos após sua gravidez.

O Beychella é muito mais do que um show, é um conceito que se tornou um movimento cultural. Desde sua fundação, em 1999, o Coachella nunca teve uma artista negra como atração principal, essa é a premissa que levou Beyoncé a chegar no festival mostrando sua cultura, sua cor.

Neste espetáculo, ela é política, ela é revolucionária, ela é feminista. Afinal, não bastava ser a primeira artista principal negra, ela precisava esfregar isso na cara do mundo, falar quem ela era e para o que veio: conscientizar o mundo acerca da violência sofrida todos os dias por ser negro, por ser mulher; mostrar que a batalha não terminou e apresentar sua cultura, que é escanteada ou marginalizada em muitos lugares do mundo. E ela fez isso com o maior nível de excelência: com uma fanfarra, representando as universidades, com uma banda de mulheres negras, muitos bailarinos e um paredão enorme. E, é claro, algumas participações, desde do Rap, com o Jay Z, até as Destiny’s Child.

“A pessoa mais desrespeitada do EUA é a mulher negra.

A pessoa mais desprotegida do EUA é a mulher negra.

A pessoa mais negligenciada do EUA é a mulher negra.”

Como a artista representou isso citado acima? Com seus 22 anos de carreira. O trecho citado é dito em Don’t hurt yourself, mas é algo que ela sempre fala em suas músicas: opressão e violência da comunidade negra, principalmente as mulheres.

Béyonce performs on stage during the 2018 Coachella Valley Music And Arts Festival

Se no álbum Beyoncé, ela fala sobre o poder feminino, como, por exemplo, em Partition ou Yoncé; no Lemonade, a luta é maior, é um chamado para a formação, para não desistir, pois a luta não acabou e há muito o que fazer. É isso que é dito. No Beychella, ela traz seus maiores hits, desde era Sasha Fierce até o Lemonade, por isso tornou-se a apresentação mais icônica da artista

Assim como falei em Vai Anitta, um documentário não é se promover, é mostrar-se humana, apresentar aos fãs os obstáculos e a dificuldades de ser quem é ou chegar em algum lugar. Em Homecoming, Beyoncé não só fala dos problemas para chegar a conclusão deste projeto… ela também fala das suas dificuldades pessoais. E isso é muito bonito de ver.

O que vimos em Life Is But a Dream sobre ser mãe desemboca aqui quando ela fala da dificuldade de cuidar da família, cuidar de uma criança de 8 anos, de dois gêmeos que precisam dela e de um marido. E como se não fosse pior: ainda tem o problema com peso, resistência, o corpo dando sinais pelo esforço contínuo. Afinal, a artista não é a mesma de 7 anos atrás. E é importante mostrar que ela  – mulher negra, artista, mãe, esposa –  pode estar no lugar que ela quiser, mas, mesmo assim, tem responsabilidades. E por mais pesadas que essas responsabilidades sejam, ela vai superá-las por algo muito maior, sua comunidade e as pessoas pelas quais ela luta e dá voz.

Ao final do documentário, temos a sensação de sermos privilegiados por vivermos numa época em que Beyoncé existe, numa época em que cada vez mais artistas usam o seu alcance para falar do que importa, dar voz a quem precisa ser ouvido, sem medo de dar a cara a tapa. Se Beyoncé queria sair da sua zona de conforto e fazer algo para ser lembrado… ela conseguiu. O Beychella é uma aula de sororidade, luta, representatividade, poder feminino.  Homecoming é o resultado de um processo criativo imenso, pensando e repensado por uma das artistas mais inovadoras (ou a mais) dos últimos anos. No fim, só temos uma coisa a dizer: sua realeza é inquestionável.

“Bitch, I’m back by popular demand.”

Universitário, revisor. E fotógrafo nas horas vagas.

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