Nota
Com o final de uma fase gigantesca do MCU, já se especula sobre os rumos que os personagens da nova fase irão tomar de agora em diante. E, apesar de não ser propriamente uma peça fundamental de fechamento, este Homem-Aranha: Longe de Casa tem uma conexão orgânica e muito significativa com o resto do universo sem deixar de funcionar sozinho.
A continuação é dirigida por Jon Watts, que também comandou o primeiro filme, e segue o Peter Parker de Tom Holland numa viagem de férias pela Europa, tentando desviar das constantes chamadas de Nick Fury. Calha que, no entanto, o motivo das ligações de Fury está justamente em Veneza, uma das cidade pelas quais o garoto está passando na excursão de férias. Eis que entra em cena na missão o Mr. Beck, ou “Mysterio”, intepretado por Jake Gyllenhaal, um super-herói da Terra de uma realidade alternativa.
A partir dessa lógica temática mais grandiloquente de perigo, Longe de Casa consegue se sair muito melhor do que seu antecessor – tanto no que diz respeito ao visual quanto à trama em si. Se De Volta ao Lar, de 2017, era burocrático, meio óbvio e até um tanto datado na sua perspectiva de filme de herói “juvenil”, Longe de Casa – embora conte com um primeiro ato intimista – abraça a fantasia bem mais rápido e se permite criar uns dois clímax com 40 min de projeção. A segunda metade vira os acontecimentos de ponta cabeça de maneira até protocolar, o que não tira a graça de ver algumas boas viradas se concretizando uma encima da outra.
Preservando a estrutura dramática básica da Marvel, o roteiro traça um comentário oportuno em seu segundo ato sobre essa lógica megalomaníaca das adaptações de quadrinhos, ridicularizando de maneira curiosa os elementos mais tradicionais do gênero. Jon Watts se mostra muito mais seguro também tecnicamente, com sequências de ação muito mais fluidas e inventivas, além de uma geografia valorizada por planos mais longos e cortes que dinamizam muito mais do que confundem. E há uma sequência particular de ilusionismo que figura entre os melhores momentos da Marvel recente.
O humor, infelizmente, não amadureceu tanto quanto a forma e continua aquela bobagem previsível, enquanto o romance adolescente, ainda que funcional, não consegue escapar da criancice artificial. Mas talvez o maior êxito de Homem-Aranha: Longe de Casa seja a conciliação muito sólida entre o núcleo teen/high school e a linha heroica principal; essa junção ganha mais vida aqui graças à atenção real que é dada aos coadjuvantes, que, no filme anterior, apenas atrasavam a narrativa.
O roteiro e a ação integram com muita inventividade esse componente, um bocado paródico, da história grandiosa e desse núcleo intimista, estabelecendo uma unidade dramática que é capaz de sustentar até as piores punchlines com cara de 5ª série – e isso, pensando no futuro do MCU, já é um avanço.