Crítica | Imaculada (Immaculate)

Nota
3

“Bendita. Santa. Todos nós te adoramos.”

Cecilia quase morreu quando era criança, mas devido ela acredita que voltou a vida depois de se afogar por um milagre e se dedicou à carreira religiosa por acreditar que Deus poderia ter um propósito maior para ela. Depois que seu convento nos Estados Unidos é fechado, ela recebe um convite do Padre Tedeschi para um cargo em um convento ilustre no campo italiano, um local que serve como último refugio para as freiras mais velhas passarem suas transições para o céu, mas esse lar aparentemente perfeito logo se revela mais cheio de segredos obscuros. O pesadelo da Irmã Cecilia começa com alguns enjoos, cresce quando ela se descobre grávida mesmo ainda sendo virgem e vai se engrandecendo a medida que começa a sentir que algo perverso se esconde dentro dos muros daquele lugar que deveria ser santo.

Em meados de 2014, Andrew Lobel começou a desenvolver seu projeto narrativo de terror psicológico ambientado dentro do amago de um convento, foi nessa época que a pouco experiente Sydney Sweeney se envolveu pela primeira vez no projeto, fazendo testes para um papel na obra e não sendo escolhida. Anos mais tarde, Sydney começou a crescer com sua atuação em Euphoria, sendo chamada para várias produções, enquanto o projeto de Lobel acabou engavetado. O segundo cruzamento de Lobel e Sydney veio quando, em 2022, Sydney resolveu comprar o roteiro de Lobel e, com a direção de Michael Mohan (com quem já tinha trabalhado duas vezes), retomou a produção do longa, dessa vez garantindo sua presença como protagonista. A produção chega com força e altas expectativas, principalmente depois de seu impacto no South by Southwest e de sua premissa extremamente familiar.

Sydney vive habilmente a Irmã Cecília, uma mulher devota e que ainda não entende por que sobreviveu naquele acidente em sua infância, a forma como ela parece sempre positiva frente às diversas esquisitices do convento agrada, como se tivéssemos vendo um frágil carneirinho indo cada vez mais fundo na toca do lobo. Mas da mesma forma que Imaculada tem uma trama ousada, ela também parece ter vindo da mesma premissa que o recém lançado A Primeira Profecia, o que infelizmente nos obriga a ver o filme com olhares de comparação a medida que a trama de Cecília começa a ficar parecida demais com a de Margaret, principalmente considerando que ambos os filme possuem uma noviça rebelde no papel de melhor amiga da protagonista (GwenLuz) e uma freira esquisitona para dificultar seus dias (Irmã Isabelle Irmã Anjelica). Mas se o desempenho de Sweeney é elogiável no primeiro ato do filme, ele começa a decair a medida que o longa avança, principalmente depois que seu ponto de virada obriga a inocente Cecília a enxergar a verdade e se tornar mais autonoma, questionar suas crenças e se empoderar, um papel que parece não soar bem nas mãos da atriz, como se uma trava a impedisse de viver verdadeiramente a personagem.

Ao redor da protagonista, o elenco brilha de uma forma inesperada, mesmo que o roteiro cometa tropeços notaveis e tenhamos até um grande problema no longa originário dele. Álvaro Morte entrega um papel interessante no Padre Tedeschi, um homem que pode parecer bondoso à primeira vista, mas que claramente esconde algo de Cecília, e pistas sobre o segredo do padre são jogadas em vários momentos do decorrer do longa até sua revelação, mas de uma forma tão sutil que espectador só percebe no momento realmente necessário. Irmã Isabelle, vivida por Giulia Heathfield di Renzi, é dosada e incomoda ao mesmo tempo, ela deixa claro desde sua primeira cena que não gosta da presença de Cecília, mas seu comportamento quase psicótico acaba chamando mais atenção do que o misterio da justificativa por trás desse ‘ranço a primeira vista’, o que deixa a personagem se desenvolver num ritmo que funciona bastante com o filme.

Clichê e mal definido, Imaculada traz uma premissa que promete um terror psicológico profundo, mas não chega a realmente dar medo. Usando muitos recursos que já estão batidos no terror, o longa ambienta o medo através dos sons e até cria takes belos, mas não consegue sustentar a tensão e parece nunca chegar às cenas de verdadeiro terror, avançando de forma lenta e cansativa para uma história que todos nós ja vimos em algum outro filme. Quando o filme realmente começa a engatar, é o ponto que Sydney começa a perder a veracidade de sua personagem e o roteiro começa a querer inserir justificativas simplistas a algumas perguntas que surgem, mas se o começo do longa investe pesado na construção de elementos que remetam à uma seita impura, tudo some como fumaça quando o roteiro se transforma em um debate ideológico religioso e alguns personagens assumem um caráter caricato, o filme perde de desenvolver seus pontos altos para investir numa finalização que poderia ter sido muito melhor executado de outras formas, levando até uma cena final chocante que, apesar de muito interessante para um terror psicológico e religioso, pode soar muito mais polemico e problemático do que realmente intenso. Uma coisa é certa, Imaculada tinha tudo para ser um filme excelente, mas certas escolhas erradas e talvez o momento de sua estréia podem ter sido cruciais para levar o longa pelo caminho errado.

 

Sonhador nato desde pequeno, Designer Gráfico por formação e sempre empenhado em salvar o reino de Hyrule. Produtor de Eventos e CEO da Host Geek, vem lutando ano após ano para trazer a sua terra toda a experiência geek que ela merece.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *