Nota
“Viva ou morra, a escolha é sua.”
Antes de sua morte, John Kramer lutou para encontrar uma cura para o seu câncer, e foi justamente nessa época que acabou reencontrando Henry Kessler, um amigo do grupo de ajuda a pessoas com câncer, que o indicou conhecer o Projeto Pederson, um tratamento experimental e clandestino capaz de curar qualquer tipo de câncer. Desesperado, John contata Cecilia Pederson, filha do criador do tratamento, e viaja para o México, onde passa por todo o processo de cirurgia e tratamento e depois se hospeda em um hotel, onde acaba descobrindo que tudo não passou de uma fraude, a operação na verdade é um pretexto para roubar os desesperados pacientes em estado terminal, que dedicam todas as suas economias ao Projeto. Mas ninguém seria capaz de dar um golpe no lendário Jigsaw e sair impune, imediatamente John aciona seus discipulos, captura os envolvidos na fraude e leva-os ao julgamento dos jogos de Jigsaw.
Depois de uma série de filmes que foi, pouco a pouco, deteriorando a franquia, John Kramer está de volta para resgatar o espirito que tanto agradava aos fãs em Jogos Mortais. Situado entre os eventos de Jogos Mortais e Jogos Mortais II, o longa se torna o primeiro filme da franquia a acontecer fora dos Estados Unidos ao mesmo tempo que busca resgatar tudo que perdeu durante o percurso dos anos de declinio, e uma chance de redenção para Josh Stolberg e Peter Goldfinger, que se mantém no roteiro depois dos controversos Jigsaw e Spiral, e Kevin Greutert, que volta a direção depois de Saw VI e Saw 3D, uma escolha que ajuda na conexão da franquia mas ainda traz um pouco de custo, afinal o trio ainda traz um pouco das caracteristicas que muitos fãs condenaram nos rumos que a franquia tomou. Um aposta bem feita é transformar essa parcela da franquia em uma jornada muito mais pessoal para John, ele não quer se esconder das suas vítimas, ele faz questão de ser visto para que todos entendam por que estão passando por aquele teste, e até brinca com seus jogadores ao coloca-los juntos, um assistindo o teste dos outros, torcendo e incentivando um ao outro a seguir em frente, mas sempre sabendo como colocar cada um diante dos seus limites e com um teste que cai perfeitamente para o nível de culpa que cada um teve na fraude.
Apesar dos dezessete anos que se passaram desde a última vez que vimos Kramer na ativa pela última vez, Tobin Bell volta com toda a força para manter o padrão de seu trabalho, o filme consegue mostrar um lado mais humano em John, chegando a trazer leves piadas e até um momento de reflexão onde ele parece pensar em para com os jogos e aposentar Jigsaw, passando por um inicio de redenção que só fortalece ainda mais o impacto que o personagem recebe quando descobre que foi enganado. Tobin sabe bem manejar os atos de seu personagem e envolver o público, nos fazendo sentir pena do assassino e desejar que cada um dos golpistas sofra ao ser castigado, colocando o público ao lado do assassino de uma forma natural. Infelizmente a passagem de anos pesa para Shawnee Smith, a atriz claramente não consegue manter o ritmo de Amanda Young e perde muito o brilho na tela, até sua aparência deixa a desejar, entregando muito facilmente a diferença de idade entre os filmes e causando uma estranhesa no público. É muito fácil olhar para Smith e sentir falta daquela Amanda energica e impulsiva de Saw II e Saw III. Quem brilha, por outro lado, é Synnøve Macody Lund, que entrega tudo na pele da dissimulada Dra. Cecilia Pederson, ela consegue crescer na trama ao ponto de virar uma antagonista à altura para John, ela percebe que John é Jigsaw logo que vê a primeira armadilha, ela mostra toda a sua potencia a cada desafio, sendo inabalavel e puramente mal, sem remorso por seus companheiros de golpe, algo que só nos faz criar cada vez mais espectativa para assistir o teste que John preparou para ela. A frieza de Pederson entra em completo constraste com a melancolia que preenche John, dá pra perceber que ele está verdadeiramente abalado emocionalmente pelo cancer e por ter sido enganado, tudo isso quebra aquela imagem imponente que a franquia construiu e é muito bem vindo no longa, algo que chega ao ápice no maravilhoso monólogo da médica encarando John e desdenhando de tudo que ele passou e fez como Jigsaw.
Denso e sanguinário, Jogos Mortais X recua para o ponto da história em que a franquia estava em seu ápice, mas erra ao não recuar o suficiente o gore e diminuir o carater de torture porn. Flertando com diversas autorreferências para se renovar, o longa segue muitas têndencias ao mesmo tempo que luta para explorar os limites restritivos que a franquia criou, mas ainda assim deixando claro que está quase entendendo onde tem que mexer para resgatar a glória da franquia. Tobin entrega um sentimentalismo que ajuda a balancear a trama, deslocando um pouco o foco das cenas sanguinárias, que não são poucas, enquanto debate as diversas implicações morais da tortura. Outra subtrama que se mostra relevante é a conexão que começa a surgir entre Amanda e Valentina, com a ex-viciada vendo as marcas do vício na mexicana e torcendo para que ela passe no teste, um plot que possui uma conclusão que pode ter tido grande interferencia nas escolhas feitas por Amanda posteriormente. Deixando de lado os artificios da caçada policial e se passando principalmente dentro de um único espaço, o novo filme da franquia chega perto de revitalizar a saga, apesar de manter o padrão de gore e personagens cheios de decisões burras, mas consegue manter a peteca no ar e ainda mostrar que sabe criar reviravoltas mesmo com uma trama extremamente previsivel, tudo que nos resta, caso seja decidido trazer novos filmes, é que os erros sejam remediados e os acertos sejam mantidos.
“Eu era engenheiro civil […] Agora eu tenho alguns hobbies.”
Icaro Augusto
Sonhador nato desde pequeno, Designer Gráfico por formação e sempre empenhado em salvar o reino de Hyrule. Produtor de Eventos e CEO da Host Geek, vem lutando ano após ano para trazer a sua terra toda a experiência geek que ela merece.
