Crítica | Jonas [2015]

Nota
2.5

“A Branca voltou, mano.”

Jonas é um típico garoto da classe mais pobre, filho de uma empregada e envolvido, mesmo que bem superficialmente, no tráfico, mas sua vida acaba mudando completamente no dia que Branca Marques, a menina que pertence à classe média rica paulistana, é filha da patroa de sua mãe, sua amiga de infância que ele não vê há anos e seu grande amor, acaba voltando para a cidade, tudo isso na véspera de carnaval, o que leva Jonas a se envolver numa louca e inesperada ação criminal que, pouco a pouco, se transforma numa intensa história de amor.

O filme, que é roteirizado por Lô Politi e Élcio Verçosa e dirigido pela Politi, busca explorar a fundo a situação de Jonas, que surge como um elemento inserido na interseção, racial e social, da elite paulistana e do submundo do crime, mas acaba deixando toda essa questão de lado quando começa a evoluir para o lado romântico da trama. Logo de inicio vamos conhecendo os vários cenários e personagens que vão se envolver na trama, com Dandão fornecendo drogas, Jander, o irmão mais novo de Jonas, trazendo noticias de Branca, , o namorado de Branca, reprimindo a presença de Jonas em seu espaço ao mesmo tempo que surge como um de seus clientes, e Janice, representando a típica mãe da classe baixa, um mulher lutadora, que vive para dar uma boa vida a seus filhos e sabe muito bem quem eles são e, como adicional, que trabalha duro fora do trabalho no Barracão como uma das costureiras de uma escola de samba. É ainda nesse cenário que somos apresentados à Baleia, um dos elementos mais fundamentais para o próximo ato da trama.

A trama é comandada por dois grandes nomes do cinema nacional. De um lado temos Jesuíta Barbosa, com toda a sua inocência jovial nos apresentando um Jonas que acabou cedendo ao crime por sua ambição em crescer, ele não é um criminoso completo, ele é apenas um entregador de drogas que transita facilmente entre os mundos por conta de sua boa aparência (branco com os olhos claros) que o deixa livre de preconceitos, mas é seu amor por Branca, que acaba ressurgindo quando o, agora homem, revê sua amada, quem o transforma do nada num monstro criminal, o que o faz, acidentalmente, matar uma pessoa por ciúmes e sequestrar Branca, se trancando dentro da Baleia. O outro lado do protagonista fica a cargo de Laura Neiva, que vive uma Branca bastante provocativa, orgulhosa, que parece saber do amor que Jonas sente e brinca com isso, instigando esse amor a cada olhar, toque ou troca de palavras, sem perceber o monstro que está criando com sua atitude dissimulada. O elenco ainda conta com a participação de Criolo como o chefe do tráfico, Dandão, que surge como uma figura protetora para Jonas mas acaba se transformando frente aos nossos olhos; de Chay Suede, que aparece rapidamente como , ciumento e agressivo, praticamente possessivo com Branca; de Karol Conká, vivendo Miria, um garota que vive dando em cima de Jonas; além das aparições pontuais, e essenciais, de Ana Cecília Costa (Janice) e Chris Couto (Rita Marques).

Enquanto estão no ‘cativeiro’, o jogo de sedução vai se intensificando, o que vai fazendo essa relação perigosa tomar tons de síndrome de Estocolmo e virar um  jogo de sedução entre sequestrador e vítima. O maior problema do longa é o fato de ele não trazer novidade nenhuma sobre os temas que escolhe falar, temas esses que viraram um clichê de tão debatidos no cinema nacional, e isso só piora pelo fato de o roteiro não trazer complexidade a seus personagens e situações, algo que prejudica, e muito, a atuação do elenco, deixando espaço apenas para a revelação de Luam Marques, que se destaca no longa enquanto interpreta Jander. Trazendo uma fotografia marcante, Jonas parece querer se galgar usando a alegoria de suas metáforas bíblicas, com toda a história do profeta engolido pela baleia, mas se perde em sua insistência desnecessária e perde a força na construção da metáfora. A produção ainda cria um enorme clímax para o seu ato final, construindo uma história que nos faz ter tedio de inicio, gostar em sua metade, nos fazendo pensar se realmente esse amor surgiu da síndrome de Estocolmo, mas que culmina com uma qualidade vergonhosa, com efeitos decepcionantes e uma trama tragicamente insatisfatória.

“Como é que uma pessoa sequestra e mata sem querer, Jonas? Me fala agora.”

 

Sonhador nato desde pequeno, Designer Gráfico por formação e sempre empenhado em salvar o reino de Hyrule. Produtor de Eventos e CEO da Host Geek, vem lutando ano após ano para trazer a sua terra toda a experiência geek que ela merece.

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