Crítica | Link Perdido (Missing Link)

Nota
4

“Levarei você lá, ao lugar que pertence. E em troca, você me levará ao meu.”

Em uma época de grandes descobertas tecnológicas e científicas, Sr. Lionel Frost (Hugh Jackman) deseja mais que tudo entrar em um respeitável clube de exploradores aristocráticos. Mas, sua constante obsessão em provar a existência de seres mitológicos o torna uma piada entre seus companheiros. Após mais uma fracassada missão, o explorador recebe uma misteriosa carta, indicando a localização de um dos maiores mitos de todos os tempos: O Pé-Grande.

Sem perder tempo, Lionel invade uma reunião do clube para demostrar sua nova aventura apenas para ser ridicularizado pelo Lorde Piggot-Dunceby (Stephen Fry). Cansado do descaso e das chacotas, Lionel propõe uma aposta: se ele conseguir trazer uma prova concreta da criatura, Lorde Piggot deverá assumir seu erro perante todos e permitir a entrada dele no clube. Contrariado, Piggot aceita determinando que se ele falhar nunca entrará para o seleto grupo.

Motivado pela sua última chance, Lionel parte em busca do Elo Perdido apenas para descobrir que foi o mesmo que lhe mandou o convite para “descobri-lo”. Batizado de Senhor Link (Zach Galifianakis), a solitária e gentil criatura revela que se sente isolado e deseja profundamente encontrar um lugar a qual pertença. Para isso, ele precisa que Lionel o transporte até o Himalaia para que ele possa viver entre seus primos, os Yetis. Caso consiga, ele dará todas as provas necessárias para que o explorador prove sua existência e entre de vez no hall da fama.

A Laika nos presenteou com algumas das melhores obras de animação em stop-motion dos últimos anos. Embora tenha poucos títulos em seu catálogo, o estúdio apresenta uma arte impecável que constrói clássicos instantâneos e que enchem os olhos daqueles que o assistem. São filmes bem elaborados, com um toque sombrio e repleto de uma beleza impar, que rendeu indicações ao Oscar de melhor animação a cada uma de suas obras até o presente momento, e essa qualidade gráfica não poderia ser diferente em seu novo projeto.

Link Perdido é o quinto longa animado do estúdios, mostrando toda a qualidade indispensável que aprendemos a esperar da Laika. Com cenários deslumbrantes, técnicas admiráveis e uma construção visual impecável, o longa nos transporta com maestria para seu universo trazendo toda a magnitude que a trabalhosa animação pode ter.

Fugindo dos tons sombrios que estamos acostumados a associar com o estúdio, o longa entrega uma trama mais linear e simplória que seus antecessores, mas não menos importante e crítica. O filme consegue usar seu lugar comum, com uma história que todos já conhecemos, e transforma em algo único e formidável a seu próprio modo. O roteiro tem um ritmo preciso, sem tempo para barrigas, e uma mira certeira nos assuntos que quer tratar. Suas críticas são bem construídas e seu humor homogêneo que se mostra tão natural que agrada muito ao público.

O filme consegue transitar por diferentes gêneros, sem parecer confuso e perdido (com o perdão da piada). A direção precisa de Chris Butler é formidável, sabendo aproveitar bem o projeto que tem em mãos e construindo cenas de cair o queixo, com ângulos inspirados que prendem o nosso interesse e nos deixam abobalhados com sua estrutura.

O stop-motion impecável trás uma sensação indescritível diante da telona. É inacreditável a maestria do estúdio com seu trabalho, misturando suas diferentes texturas para trazer cenários e cenas deslumbrantes e complexas. A fluidez dos movimentos, somada com a estrutura road movie nos trazem momentos deslumbrantes de um trabalho vivo e caprichado de quem entende o que faz.

Os personagens se mostram outro acerto. O protagonista construído por Jackman é arrogante, prepotente e orgulho mas possuído de um charme que nos faz simpatizar com todo seu porte pomposo. Sua constante fixação em ser reconhecido por aqueles que o detestam são brilhantemente construídas logo em sua primeira cena, onde sua pose e pompa não se perde mesmo nos piores momentos. Cheio de defeitos e sua nobreza trazendo um misto de sentimentos ao espectador, que se mostra estranhamente cativado pelo personagem.

Link/Susan traz uma ingenuidade solitária de alguém que nunca entendeu o que relações humanas realmente significa. O adorável humanoide tem dificuldade ao entender sarcasmo e modos de fala, levando tudo que lhe é dito ao pé da letra e trazendo um humor certeiro e fluido que não soa forçado em nenhum momento. Adelina (Zoe Saldana) é uma mulher forte, determinada e com o sangue quente. A moça não suporta ser deixada de lado, e toma muitas vezes a rédea em suas mãos, sendo a voz da razão do grupo e trazendo um pouco de senso à cabeça dura de Lionel. Sem medo de ser dura quando precisa, a personagem se mostra cativante e energética trazendo um ótimo tempero ao trio e ganhando nossos corações no processo.

Repleto de uma critica social latente e reconstruindo com maestria uma trama saturada, Link Perdido se mostra mais um acerto no curto, mas invejável, currículo da Laika. Divertido e encantador, o filme constrói a narrativa deliciosa que nos deixa ansiando por mais enquanto nos leva em uma magnifica viagem sobre o mais singelo tema e desejo humano: o de pertencer a algo e, enfim, se sentir em casa.

 

Preso em um espaço temporal, e determinado a conseguir o meu diploma no curso de Publicidade decidi interagir com o grande público e conseguir o máximo de informações para minhas pesquisas recentes além, é claro, de falar das coisas que mais gosto no mundo de uma maneira despreocupada e divertida. Ainda me pergunto se isso é a vida real ou apenas uma fantasia e como posso tomar meu destino nas minhas mãos antes que seja tarde demais...

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