Crítica | Lobisomem (Wolf Man) [2025]

Nota
1.5

O universo dos filmes de terror sempre foi terreno fértil para explorar medos primordiais e transformar os limites do que o público está disposto a assistir. Porém, nem sempre ousadia e inovação caminham lado a lado com consistência narrativa. Esse é o caso de Lobisomem, dirigido por Leigh Whannell, que tenta revisitar a clássica mitologia dos lobisomens, mas tropeça em sua execução.

A trama acompanha Blake Lovell (Christopher Abbott), um pai de família dedicado, que se vê forçado a revisitar seu passado traumático ao retornar à sua antiga casa de infância. O desaparecimento do pai, a tensão familiar e o isolamento do local servem como pano de fundo para os eventos sobrenaturais que se desenrolam. No entanto, ao ser ferido por uma criatura misteriosa, Blake começa a perder o controle de sua humanidade, mergulhando em uma transformação física e psicológica que ameaça sua esposa, Charlotte (Julia Garner), e sua filha, Ginger (Matilda Firth).

Apesar de um elenco talentoso, que inclui Julia Garner e Matilda Firth, e uma entrega intensa de Christopher Abbott, o filme carece de coesão na construção de seus personagens. A interação entre os membros da família nunca atinge a profundidade necessária para envolver o espectador emocionalmente. A direção de Whannell apresenta momentos de tensão bem executados, mas o roteiro peca pela previsibilidade. Logo nos primeiros 20 minutos, o espectador já consegue prever o desfecho da história, reduzindo o impacto das revelações e dos sustos.

As escolhas visuais do filme são notáveis, com uma cinematografia que aproveita o isolamento da floresta para criar uma atmosfera opressiva. Entretanto, o uso excessivo de CGI nos momentos de transformação de Blake enfraquece o impacto visceral que poderia ser alcançado com efeitos práticos. A presença do lobisomem, que deveria ser o ponto alto da narrativa, acaba sendo diluída pela tentativa de modernizar demais o conceito sem se apoiar no “feijão com arroz” que consagrou o gênero.

Outro problema evidente é o ritmo. O filme alterna entre cenas de horror lento e explosões de violência gráfica, mas nunca parece encontrar um equilíbrio entre essas abordagens. Enquanto isso, os temas subjacentes, como trauma geracional e a luta contra os instintos mais sombrios, são apenas superficialmente explorados, sem uma conclusão satisfatória. Apesar de suas falhas, Lobisomem oferece alguns momentos dignos de nota.

A visão do diretor sobre a transformação de Blake, com detalhes perturbadores como pele descamando e unhas caindo, é um ponto alto que demonstra a capacidade de Whannell em criar desconforto visual. Mas, no geral, o longa parece hesitar em abraçar plenamente sua identidade como um filme de lobisomem. Como uma adição ao cânone dos filmes de terror, Lobisomem se posiciona mais como uma curiosidade do que como um clássico em potencial. Talvez tenha algum apelo para quem busca um terror mais leve ou para admiradores do trabalho de Whannell, mas certamente não será lembrado como uma obra-prima do gênero. Se há algo a se destacar, é que o filme se revela como uma eficaz propaganda de vacinas antirrábicas e tratamentos capilares. Uma piada, talvez, mais eficiente que os sustos entregues pela narrativa.

 

Pernambucano, jogador de RPG, pesquisador nas áreas de gênero, diversidade e bioética, comentarista no X, fã incontestável de Junji Ito e Naoki Urasawa. Ah, também sou advogado e me arrisco como crítico nas horas vagas.

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