Crítica | Mais que Amigos (Bros)

Nota
3.5

“Hey, what’s up?”

Bobby Lieber é um jornalista e podcaster gay de 40 anos que nunca se apaixonou, ele não acredita no amor e vive de marcar encontros casuais através do Grindr. Após ser chamado para fazer parte da direção do Museu Nacional da História LGBTQ+, ele acaba indo a uma festa gay onde conhece Aaron Shepard, um advogado gay que trabalha com testamentos, é extremamente padrão e age como garanhão enquanto dança sem camisa, o início de uma inesperada relação. Seguindo completamente a ideia de ‘os opostos se atraem’, Bobby e Aaron acabam se conectando por compartilharem uma visão crítica sobre o mundo gay e acabam iniciando uma cumplicidade intensa.

Dirigida por Nicholas Stoller, que tem em seu currículo uma vasta lista de comédias de verão e comédias românticas, o filme se propõe a ser uma comédia romântica gay mais ácida, fazendo inúmeras referências ao mundo queer em forma de piadas e criando um cenário confortável para desenvolver uma história que vai além do fato de termos protagonistas gays. Infelizmente o roteiro de Stoller e Billy Eichner parece ter dificuldade no começo do filme para acertar seu tom, exagerando nas piadas de estereótipos e brincando com algumas piadas bem pontuais de nicho, o que faz o longa começar amargo e não capturar a audiência, felizmente o segundo ato do filme refina seu tom e vai aparando seus excessos a medida que vai se tornando uma comédia romântica mais militante, dando destaque a história queer americana e à evolução da relação de Bobby e Aaron. Abordando em forma de piadas as problemáticas dos aplicativos de pegação e do comportamento das pessoas no mundo queer, a produção consegue ir fundo em questões sobre a representatividade das letras do LGBTQ+, exalta os espectros da sexualidade e até chega a criticar os filmes de gays para divertir héteros, infelizmente há momentos que Bros parece tentar ser um desses filmes, o que talvez justifique o motivo de o filme não agradar completamente nenhum dos dois públicos.

Interpretado pelo próprio Eichner, Bobby é uma representação clara dos traumas do roteirista, trazendo a tona durante o filme dilemas ao redor do significado de crescer como gay na sociedade moderna, trazendo um discurso que cita alguns casos de homofobia velada que o próprio Eichner viveu (como quando Bobby cita que foi rejeitado por ser ‘gay demais’ para trabalhar na TV). Bobby é a representação da resistência, daqueles que lutam pela validação da sociedade e pelo direito de ser quem ele realmente é, apesar de estar carregado de clichês, o personagem tem uma evolução graciosa a medida que vai descobrindo o amor e precisa encarar suas inseguranças. Já o Aaron vivido por Luke Macfarlane se mostra com uma masculinidade frágil, com mais travas e receios quanto a se envolver romanticamente com alguém e quanto ao fato de Bobby não fazer seu tipo, mas mesmo assim o atrair, se encaixando do clichê do crossfiteiro que toma testosterona e age como macho alfa, uma personalidade que vai sendo quebrada no decorrer do filme e dando espaço para a evolução do personagem, que se mostra um desafio principalmente por que Aaron se vê preso a um emprego que odeia simplesmente pra fugir do que ele considera gay demais. Outro grande ponto de destaque do filme é que, além de Eichner e Macfarlane, a maior parte do elenco é composto por atores LGBTQ+, a primeira vez da história que isso acontece em uma comédia romântica queer de um grande estúdio.

Evitando revolucionar demais com seu roteiro, Mais que Amigos não se arrisca muito e ainda assim consegue ser representativo, ele não situa plenamente seu publico alvo e por isso talvez se complique em certos desenrolares de trama, mas no fim das contas deve ser considerado como uma experiencia divertida carregada com bons papos. A presença de ícones do universo queer como Kristin Chenoweth, Amy Schumer e Debra Messing só tornam a experiencia ainda mais envolvente, deixando talvez nas costas de Bobby o personagem mais dificil de se conectar, principalmente pela forma como beira o insuportável com sua militância inacabável, um artificio que leva o longa a debater sobre sexo, drogas, monogamia, dilema de apresentar o namorado aos pais, respeito ao legado histórico, responsabilidade social, formação de família e tantos outros, algo que acaba sendo a base para a construção de uma das melhores cenas do filme: a cena do jantar de natal. O longa também brinca bastante com os filmes clichês da Hallmark Channel e sua tentativa de representatividade LGBTQ+ depois de se envolver com algumas polémicas envolvendo o meio, exagerando na diversidade dos filmes para transformar a situação em uma piada que funciona melhor do que o esperado. Se você é hetero, queer ou assexual, não importa sua identidade de gênero, o filme vai te divertir bastante, principalmente se você estiver pronto para obstruir os problemas de seu primeiro ato.

“Eu prefiro ser clichê do que ser infeliz.”

 

Sonhador nato desde pequeno, Designer Gráfico por formação e sempre empenhado em salvar o reino de Hyrule. Produtor de Eventos e CEO da Host Geek, vem lutando ano após ano para trazer a sua terra toda a experiência geek que ela merece.

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