Crítica | Matrix Resurrections (The Matrix Resurrections)

Nota
4.5

“A escolha sempre foi uma ilusão”

Thomas Anderson segue sua vida normal após os acontecimentos da franquia principal. Trabalho, terapia, carga infinita de informações, as quais todos são atribuídos dia após dia com o estresse da vida cotidiana, e um sentimento de que algo está esta errado. Sua vida volta a lhe dar a ilusão da escolha e adentrar novamente na Toca do Coelho, para enfrentar seu destino. Matrix Ressurections é o retorno aos cinemas de uma das maiores franquias de todos os tempos, que teve seu primeiro filme lançado em 1999 e que é considerado um épico que definiu uma geração de fãs e do gênero. Será que, 20 anos depois, o impacto do reavivamento da franquia será o mesmo?

A resposta para a questão anterior é simples: sim, mas não da forma que se espera. É inegável o trabalho revolucionário das Wachowski na construção da primeira trilogia, com seu universo binário com intensas discussões filosóficas misturadas com kung-fu, o êxtase e impacto que o público recebia, junto com a tecnologia de efeitos especiais da época. A história tem uma progressão diferente do ritmo dos anteriores, se concentrando mais em acompanhar o ritmo de um Thomas, ou Neo, mais velho e que enfrenta dilemas diferentes do que sua versão mais nova. Keanu Reeves continua excelente, dentro dos seus limites, no papel que o consagrou, e consegue transmitir facilmente as inquietudes daquele que é conhecido como O Escolhido.

É necessário aplaudir o papel tão merecido que a figura da Trinity de Carrie-Anne Moss assume na história, e o carinho palpável que a atriz tem pela personagem, se entregando completamente e trazendo a nostalgia de vê-la em cena. Sendo um dos pináculos da primeira trilogia, pode-se dizer que assume um local de alicerce para o que o filme traz. Em questão de entrega, ninguém supera Yahya Abdul-Mateen II, uma escolha acertada para encarnar a figura de um Morpheus com aparência jovem, de roupas coloridas e com justificativa para tal. Sua cena de introdução é uma das melhores do filme e o ator consegue orgulhar o personagem interpretado Laurence Fishburne ao mesmo tempo que deixa sua marca.

As escolhas para a utilização dos novos personagens podem levantar divergências, principalmente quando se trata da subutilização e dinâmicas deixadas de lado que poderiam ser melhor exploradas. Essa nova parte do conto da Matrix é comandada somente por Lana, sem sua irmã Lilly, o que não necessariamente torna a obra ruim, porém é estranho perceber a falta da assinatura das duas. Sendo assim não é estranho que Lana tenha decidido trazer um elenco de outra obra tão bem avaliada, e que tem um público fiel mesmo após o seu fim: Sense8. Os atores Max Riemelt (Sheperd), Eréndira Ibarra (Lexy) e Brian J. Smith (Berg) foram trazidos para cumprir papeis específicos, mas nenhum recebeu tratamento melhor entre os antigos atores da série do que o Seq de Toby Onwumere. Suas interações com a Bugs de Jessica Henwick, teorizada na época dos anúncios do filme como uma versão feminina de Neo, fazem da dupla um o complemento do outro em cena.

Antigos rostos, como o de Jada Picket Smith, e novos, como Jonathan Groff, com uma atuação espetacular de Neil Patrick Harris, que se torna algo além do Barney de How I Met Your Mother, se unem aos debates levantados no primeiro ato e trazem o simbolismo do nome escolhido para a quarta parte do Conto da Matrix: uma ressurreição de uma franquia amada para os novos tempos. Pode não ser o que se espera para o filme, mas ele consegue ser o que se precisa.

 

Pernambucano, jogador de RPG, pesquisador nas áreas de gênero, diversidade e bioética, comentarista no X, fã incontestável de Junji Ito e Naoki Urasawa. Ah, também sou advogado e me arrisco como crítico nas horas vagas.

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