Crítica | Memórias de Ontem (Omohide Poro Poro)

Nota
3.5

“Dia chuvoso, dia nublado ou dia ensolarado… qual você prefere?”

Durante suas férias no trabalho, Taeko (Miki Imai) decide mais uma vez viajar para o campo e trabalhar na colheita. Largando a vida agitada do centro de Tokyo, a moça pega um trem noturno para a cidade de Yamagata, e enquanto a melancólica viagem avança ela relembra de antigas memorias de sua infância, revivendo seus 10 anos e todo o dilemas que a idade carregava.

Aproveitando a vida calma no interior, seu passado se torna ainda mais vívido, refletindo em suas ações no presente e definindo suas interações e escolhas que podem mudar toda sua vida. Confrontada com o inesperado, Taeko tem um único questionamento vivido em sua mente: a garota que ela foi estaria orgulhosa da mulher que ela se tornou?

Durante boa parte da vida adulta visualizamos nossa infância com uma nostalgia curiosa, comparando nossas semelhanças e diferenças enquanto reavaliamos momentos marcantes em nossa história. Seja pelas coisas pequenas do dia-a-dia ou pelos acontecimentos grandiosos, tudo ganha uma nova camada e reflete em nosso eu atual, trazendo antigos questionamentos e novos aprendizados. Focando nesses dilemas tão naturais, Isao Takahata nos entrega mais uma obra sensível e bela em sua delicadeza sem precedentes, que só um bom contador de histórias possuí.

Baseado no mangá homônimo de Hotaku Okamoto e Yuko Tone, Memórias de Ontem traz uma obra introspectiva sobre a infância e o crescimento. Contando sua historia de forma não-linear, o longa nos leva a uma viagem pela vida de sua protagonista, mostrando o contraste entre seu eu da infância e sua versão atual, mais madura e consciente. Mergulhando nos sentimentos de Taeko, o filme utiliza suas memorias como espelhos de sua passagem adulta trazendo reflexos interessante que ajudam na jornada da moça.

Com um ritmo lento e reflexivo, o roteiro aprofunda a psique de sua protagonista, trazendo seus dilemas pessoais sem um grande plot a ser enfrentado. Com diálogos longos e pausados, ele procura entender melhor o cotidiano e o cerne que quer transmitir, focando em algo mais mundano e próximo de nossa realidade. Tudo é mais calmo, delicado e pessoal, ajudando ao público a revisitar seus momentos de transições, gerando uma empatia latente e profunda em algo tão singelo e doce como revisitar memórias.

Taeko é uma personagem bem construída e interessante. Suas duas versões são tão distintas quanto nós somos das nossa criança interior. Sua versão adulta está infeliz com sua vida, buscando refúgio no campo para reviver sua personalidade que se tornou apática e desinteressada. Ela não esta feliz com o rumo que sua vida tomou e encontra liberdade na vida rural, onde ela pode encontrar a melhor versão de si mesma.

Sua versão infantil é um verdadeiro deleite. Seu temperamento sofre mudanças com os episódios que nos são mostrados, ganhando novas camadas a cada volta a infância. Vemos sua versão doce e tímida, ao ser confrontada com o primeiro amor, mas também analisamos seu eu mimado e briguento, ao não conseguir o que quer. Passamos pelos dilemas imaginativos e sua criatividade latente, trazendo pequenos pedaços que constituem um todo vibrante e colorido.

A animação é surreal, trazendo um realismo que verdadeiramente brilha aos olhos. São tons, cores e expressões que trazem toda a beleza e delicadeza que o estúdio sempre conseguiu transpor. Nas cenas infantis, eles optam por trazer algo mais simples e sem detalhamento, transmitindo a sensação evanescente de uma velha memória que perde seus detalhes ao longo dos anos, criando mais um contraste com a vivência presente da protagonista.

Com uma trama singela e sem muitas reviravoltas, Memórias de Ontem pode ser difícil de acompanhar. Tomando seu próprio tempo para uma trama que procura forças no seu interior, o longa pode parecer chato para alguns, mas demostra uma beleza estonteante e uma delicadeza incomparável em algo tão cotidiano quanto nosso dia-a-dia. Uma verdadeira obra pé no chão que não tem vergonha nenhuma de se mostrar como sempre quis ser: adorável e simples.

“Sempre, desde que eu era pequena, eu só fingia ser legal.”

 

Preso em um espaço temporal, e determinado a conseguir o meu diploma no curso de Publicidade decidi interagir com o grande público e conseguir o máximo de informações para minhas pesquisas recentes além, é claro, de falar das coisas que mais gosto no mundo de uma maneira despreocupada e divertida. Ainda me pergunto se isso é a vida real ou apenas uma fantasia e como posso tomar meu destino nas minhas mãos antes que seja tarde demais...

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