Crítica | Mergulho Noturno (Night Swim)

Nota
3

Um filme de terror que explora a água enquanto elemento causador de medo, mas será que causa mesmo? Dirigido por Bryce McGuire, o longa-metragem conta a história de Ray Waller (Wyatt Russell), ex-jogador de beisebol, que se muda com a família para uma casa com uma piscina. Porém, eles não esperavam os acontecimentos sobrenaturais que aquela piscina traria para as suas vidas. Mergulho Noturno é um filme que deixa o espectador se questionando antes de assistir: como a água trará medo? Será através de um aspecto mais psicológico, como a hidrofobia? Explorando a questão da profundidade, escuridão, medo de afogamento? Se passará somente numa piscina? Ou também haverá algum lago, oceano ou rio que carrega mistérios e seres sobrenaturais?

Bom, nesse filme tudo o que acompanhamos acontece somente numa piscina. Vale ressaltar como as cenas de mergulho e os ângulos são totalmente bem pensados e bem executados, assim como a direção de arte que pensou em todos os detalhes, ficando perceptível quando acompanhamos a alusão à água em diversas cenas, adentrando o espectador cada vez mais ao universo proposto pelo filme. Portanto, Charlize Sarroff (cinegrafista) e Hillary Gurtler (diretora de arte) estão de parabéns pelo trabalho bem feito. E então, vale a reflexão sobre o espaço escolhido para acontecer toda a trama: a piscina. Durante o filme, percebe-se que aquele local guarda segredos de diversas pessoas que já faleceram lá. E uma informação chave: a piscina foi construída em um local que foi um lago. Mas, com o passar do filme, se tem conhecimento sobre as vítimas daquela piscina assombrada, mas não do lago.

Outra informação que é passada ao protagonista e sua família, de início, é da capacidade medicinal daquela piscina, por causa da sua ligação com o lago que existia ali. Dessa forma, de forma bastante previsível, acompanhamos o protagonista, o qual inicia o filme com uma doença praticamente irreversível, melhorando de forma drástica. Logo, Ray Waller cria uma ligação muito forte com a piscina, tornando-se o típico personagem de filme de terror que se mantém cético dos acontecimentos perturbadores. Assim, já fica evidente que ele será a primeira vítima das criaturas sobrenaturais daquela piscina. Dessa forma, se tornam óbvios todos os acontecimentos de Mergulho Noturno do início até o fim. Os jumpscares e o caráter clichê do filme fica evidente até mesmo pelo título “Mergulho Noturno”. Noturno só porque que noite remete a um horário mais propenso para o medo? Mas porque “Mergulho Noturno” se o principal mergulho do filme (em que o protagonista é possuído) acontece de dia? Dessa maneira, fica perceptível que o próprio título do filme foi escolhido da forma mais genérica possível, assim como a narrativa no todo, que tinha tudo para ser inovadora.

Contudo, um ponto positivo e interessante de analisar em Mergulho Nortuno é o protagonismo de Eve Waller (Kerry Condon), que se mantém sempre atenta em relação aos acontecimentos, acredita nos relatos dos filhos e é representada de forma bastante forte, tendo a coragem de ir atrás de informações sozinha. É muito bom ver mulheres sendo retratadas dessa forma em filmes de terror, pois quebra o clichê da vítima feminina ingênua, que não consegue reagir de forma ativa, mas permanece sempre passiva a toda a situação. Porém, quando o espectador acha que o filme está se desenvolvendo para um lado mais profundo, fugindo da narrativa típica e trazendo uma complexidade maior para aquela história, o filme acaba. Dessa forma, não é revelada nenhuma informação acerca da principal causa de todos aqueles eventos: o lago.

Mergulho Nortuno tem os seus pontos interessantes, mas se tornaria muito melhor se a narrativa não fosse tão óbvia. A informação de que aquele local antes era um lago, seria muito mais reveladora se fosse liberada somente no final. A questão de ser uma piscina o espaço onde acontecem todos os eventos, e o longa-metragem ser tão curto para tantos mistérios, limita demais o desenvolver da profundidade daquela história. Talvez até transferir a narrativa inteira diretamente para o lago, e fazer o filme um pouco mais longo traria muito mais consistência e terror para toda a obra no geral. A água é realmente um elemento interessantíssimo a ser explorado no gênero de terror, Mergulho Nortuno tentou trazer essa ideia, contudo, falhou em não ter dado o toque principal à obra: originalidade.

 

Estudante de cinema, pernambucana

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