Crítica | Meu Amigo Totoro (Tonari no Totoro)

Nota
5

“É impossível ter fantasmas numa casa tão boa.”

Satsuki (Noriko Hidaka) e Mei Kusakabe (Chika Sakamoto) são irmãs inseparáveis. Junto com o pai, Tatsuo (Shigesato Itoe), elas se mudam para uma pequena vila rural, com o objetivo de ficar próximos da mãe, que se encontra internada em um hospital da região. Animadas com a mudança, as garotas correm pelos domínios da nova casa, que todos dizem ser mal-assombrada. Lá elas descobrem uma árvore gigantesca cercada por um bosque.

Com a ajuda dos vizinhos, a família consegue colocar em ordem a pequena casa, tornando-a minimamente aconchegante. Satsuki logo começa a estudar na escola local, fazendo novos amigos e criando sua rotina, enquanto Mei explora os arredores da sua residência. Em uma dessas explorações ela encontra um ser mágico semitransparente que a leva por caminhos misteriosos dentro da floresta, até ela cair em um buraco na grande e árvore e encontrar o monstruoso Totoro: um guardião místico que se torna visível apenas para crianças. A princípio, apenas a garota o vê, mas logo sua irmã tem um encontro com o risonho e dorminhoco espirito da floresta que leva as meninas para inúmeras aventuras secretas nos arredores do seu lar.

Após o sucesso estrondoso de seus outros longas, Hayao Miyazaki decidiu deixar de lado suas grandiosas aventuras fantásticas e focar em algo mais intimo e singelo, construindo um cotidiano pacato e mundano de duas irmãs no âmbito rural. Curiosamente, essa simplicidade o catapultaria a um reconhecimento internacional, e se mostraria um dos seus mais amados longas, se tornando um marco cultural e o símbolo dos Studios Ghibli.

Dirigido e roteirizado por Hayao Miyazaki, Meu Amigo Totoro é o terceiro filme do Studio Ghibli. Lançado simultaneamente com Túmulo dos Vagalumes e sendo exibido em sessões duplas com o mesmo, o longa conseguiu um espaço grandioso e um reconhecimento notável, engrandecendo ainda mais o trabalho do diretor e lhe dando um novo espaço no universo cinematográfico.

Assumindo o manto de um velho contador de histórias, Miyazaki traz um enredo mais simples sobre o cotidiano rural de duas irmãs com problemas mundanos. Embora não tenha suas cenas épicas e conceitos elaborados, a trama nos conquista com sua doçura e delicadeza, nos aproximando de seus personagens em suas aventuras e descobertas. É na inocência infantil que o filme ganha forma, trazendo os deleites que só uma mente mais jovem pode construir.

O imaginário e a pureza de suas protagonistas são latente e seu misto de sensações ditam o tom que o longa vai seguir. O primeiro contato com a natureza, o encontro com o mítico e até mesmo as tarefas comuns, criam um novo significado e impacto nos levando de volta à nossa infância. Tendo como referência uma parte de sua própria história e o insano construído por Lewis Carroll em Alice, Miyazaki traz poderosos paralelos em seu referencial. Seja pela mãe adoentada ou o icônico Cat-Bus, acompanhamos uma maestria sem tamanho na construção simplista de seu próprio imaginário. Não é a toa que Mei persegue uma criatura parecida com um coelho branco, que a leva direto a um buraco por onde ela cai no fantástico.

As cenas construídas são de uma delicadeza impecável, que não utiliza de exageros visuais para fisgar seu público. Tiro, por exemplo, a espera das irmãs pelo pai no ponto de ônibus, que consegue transmitir com maestria toda a carga sentimental que precisa sem utilizar seus diálogos para isso. Esse momento é tão poderoso que foi recriado inúmeras vezes na cultura pop, se transformando em um referencial que mesmo quem nunca assistiu o longa vai reconhecer.

Outro ponto crucial são os personagens. Mei é animada e inquieta, seguindo a irmã por todo lado enquanto tenta imitar sua maneira de agir e falar. A pequena é nossa porta de entrada para o imaginário, com sua constante curiosidade de pureza que escancara seus sentimentos para todos aqueles que estiverem próximo para olhar. Satsuki é um pouco mais contida e madura, mesmo sendo extremamente divertida ela consegue esconder melhor seus sentimentos para não machucar os demais. O relacionamento entre elas é um dos deleites do filme, trazendo camadas verdadeiras que encantam e emocionam o telespectador além de trazer humanidade para as mesmas.

Kanta (Toshiyuki Amagasa) tem uma, não tão secreta, paixonite por Satsuki, com a qual ele não consegue lidar. Atordoado com seus sentimentos, ele a encara com birra enquanto não consegue esconder de ninguém a confusão que se passa em seu interior. Vóvó (Tanie Kitabayashi) é uma antiga conhecedora dos espíritos naturais, é ela que nos dá as informações precisas, demostrando sua vivência pessoal com as criaturas quando tinha a idade das garotas. Doce, atenciosa e extremamente carinhosa, ela é a construção perfeita de uma avó carinhosa que conta velhas histórias na fogueira enquanto cuida de seus netos.

Dorminhoco, brincalhão, risonho e extremamente fofo, Totoro se tornou um sucesso imediato. Sua popularidade foi tão estrondosa que é impossível não achar referências e passagens do guardião da floresta em nossa cultura. O espirito ganhou tanto espaço por sua doçura e carisma que se tornou o símbolo dos Studios Ghibli, consolidando ainda mais o cuidado e carinho que o estúdio sempre demonstrou com suas produções. Totoro é tão fantástico em sua simplicidade que nos deixa felizes apenas por simplesmente existir.

Tocante e delicado, Meu Amigo Totoro é uma obra-prima da animação. Assumindo o sonho infantil, o estúdio conseguiu alcançar um patamar surreal enquanto espalhava sua historia ao redor do globo, consolidava ainda mais seu poderoso nome. Com uma trilha sonora maravilhosa e um cuidado magistral, o filme nos convida a revisitar nossas infância e conhecer um adorável amigo que nos conquista desde o primeiro momento, e dificilmente nos deixará, mesmo nos momentos mais difíceis que possamos enfrentar.

“Você deve ter conhecido o guardião dessa floresta, e é uma coisa muito boa. Mas nem sempre é possível acha-lo.”

 

Preso em um espaço temporal, e determinado a conseguir o meu diploma no curso de Publicidade decidi interagir com o grande público e conseguir o máximo de informações para minhas pesquisas recentes além, é claro, de falar das coisas que mais gosto no mundo de uma maneira despreocupada e divertida. Ainda me pergunto se isso é a vida real ou apenas uma fantasia e como posso tomar meu destino nas minhas mãos antes que seja tarde demais...

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