Nota
Marlène (Marion Cotillard) gosta da vida noturna, de ir à festas todas as noites e sair com vários homens, mas deixa em casa sua filha Elli (Ayline Aksoy-Etaix), o que causa muitos problemas com o Conselho Tutelar, elas já foram afastadas uma vez e a mulher teme que se separem novamente. A menina vê a mãe como um exemplo a ser seguido e deseja ser como ela a todo custo, se maquiando como a mesma, ou imitando seus trejeitos. Os problemas começam quando a garota passa a ingerir álcool para se sentir mais próxima da mãe ausente, entrando em um declínio sem fim.
Após mais uma noite de farra, Marlène chega ansiosa e bêbada em casa, para os braços da menina, que chama de “meu anjo”, irá se casar mais tarde, e precisa descansar para poder aproveitar a festa. Após beber todas durante a festa, ela é encontrada por Jean, seu agora marido, com outro homem. Após o efeito do álcool passar, ela percebe que se tornou alcoólatra e assim toma a decisão de parar de beber, Elli esconde uma das garrafas para si e a mãe não percebe, após várias semanas sem beber ela sofre os duros efeitos da abstinência, mas uma amiga a leva para uma balada, e todo o progresso é jogado fora. Além de estar se tornando alcoólatra, a menina também passa a se interessar por Julio (Alban Lenoir), o misterioso filho do vizinho, que parece se preocupar mais com ela do que a própria Marlène.
Meu Anjo, longa selecionado para competir na mostra paralela ao Festival de Cannes, o Un Certain Regard (Um Certo Olhar), que coloca em perspectiva um cinema mais atípico e recompensa cineastas pouco conhecidos, nos apresenta uma nova perspectiva de péssima mãe, além de nos massacrar com a dura realidade de como funciona uma família desestruturada.
Marion conseguiu entregar uma das piores mães do cinema, mas que ao mesmo tempo que é odiada, é também digna de pena. Quando não está completamente embriagada, ela é uma ótima mãe, carinhosa e prestativa que sempre quer o bem da filha, sua contraparte alcoolizada não liga muito para o bem estar da garota, o que deixa marcas profundas na relação das duas. Alban nos apresenta Julio, um homem que vive tentando buscar o perdão do pai. Possui seus próprios problemas e dificuldades, mas se vê jogado no meio do drama familiar quando a menina misteriosamente se interessa por ele, que logo cria um laço de amizade com ela.
Ayline é a grande estrela do longa, a doce criança que ama e admira profundamente a mulher que lhe deu a vida, se vê influenciada pelas atitudes de Marlène a começar a beber, nesse ponto que sofre a mudança mais drástica, ao mesmo tempo que se aproxima de Julio, também se afasta da ausente mãe. Além de todos os problemas familiares, ainda se vê com problemas na escola, quando todas as meninas se voltam contra ela, chamando-a de papa anjo, de bêbada e atrapalhando momentos importantes durante o longa.
A fotografia passa a ideia de um filme ambientado nos anos 90, mesmo ele se passando nos dias atuais, com o famoso cenário da Riviera Francesa, o enredo possui uma construção tão real que beira o surrealismo, apresenta várias falhas de continuidade que ficam marcantes durante o longa.
Mesmo possuindo cenas chocantes, Meu Anjo apresenta um enredo bem morno. Apesar de possuir cenas revoltantes, na maior parte delas a monotonia se destaca. É notável a falha no sistema do Conselho Tutelar, que permite que pessoas despreparadas e irresponsáveis continuem cuidando de menores incapazes. O longa nos faz questionar os exemplos que podemos dar a uma criança e como isso pode ser destrutivo e irreversível.
Matheus Soares
Graduado em Biológicas, antenado no mundo geek, talvez um pouco louco mas somos todos aqui!