Nota
“As vezes sonhos não se realizam
Mas ainda podem.”
Rudy Ray Moore (Eddie Murphy) sempre sonhou em ser algo mais. Vendedor de discos em uma cidade pequena, o homem de meia idade investe todo seu tempo e dedicação às pequenas apresentações de stand-up, mas tem pouco sucesso em sua vida de comediante. Frustrado e desiludido, ele vê sua vida mudar ao escutar as piadas e rimas dos moradores de rua locais e decidir refiná-las para seu próprio repertório.
Eis que surge Dolemite, um cafetão repleto da ginga, malícia e profanação da rua, que leva todos na lábia e faz rir até o mais carrancudo dos públicos. Não demora muito para que seu alter-ego vire um sucesso estrondoso entre a população negra norte-americana, e seu discos alcancem um patamar que nunca sonhou. Repleto de palavrões e piadas sujas, Dolemite vira uma verdadeira estrela.
Mas é durante sua turnê que Ray percebe seu ultimato. Durante uma sessão de cinema, o comediante tem um estalo magnífico, que promete colocar seu nome em um novo degrau da fama e expandir seus horizontes. Ray quer lançar um filme de Dolemite, estando assim em vários lugares ao mesmo tempo e eternizando seu nome. O que ele não imaginava era a dificuldade de produzir um longa, e muito menos as complicações em lança-lo em circuito nacional.
Determinado a cumprir seu objetivo, Ray aposta todas suas fichas na obra. Juntando sua equipe amadora, usando sua boa lábia e seu dom de se livrar das maiores enrascadas, Ray está disposto a encarar todos os problemas que aparecerem e construir um novo caminho para si… custe o que custar.
Rudy Ray Moore foi uma lenda em seu tempo. Ator, cantor, comediante e produtor americano, ele construiu seu nome do zero, sendo um dos primeiros a explorar o humor sexualmente explícito e sendo pioneiro no blaxploitation. Por muito tempo, um plano para um filme biográfico sobre sua jornada se tornou um projeto na vida de Murphy que, assim como seu personagem, recebeu varias negativas ao longo do caminho até encontrar o momento oportuno para tirar o filme do papel… e ele finalmente chegou.
Mas, como traduzir toda ginga e malandragem do artista sem parecer forçado ou cafona? Como trazer sua alegria contagiante sem deteriorar a imagem do mesmo? Seria possível trazer uma obra honrada para alguém tão marcante e controverso?
Dirigido por Craig Brewer, e roteirizado por Scott Alexander e Larry Karaszewski, Meu Nome é Dolemite marca o retorno triunfal de Eddie as telas mas, dessa vez, por meio do serviço de streaming da Netflix, em uma comedia deliciosamente divertida que seduz e encanta seu público. A cinebiografia retrata com maestria a jornada de Ray sem perder sua originalidade.
Com um roteiro ágil, mas cuidadoso, o filme nos introduz à história americana e à diferença cultural tão presente nos anos 70, dando o peso necessário para seu tema quando pedido, sem perder a malemolência que a trama precisava. Tudo aqui acontece em seu tempo preciso, nos envolvendo em seus dilemas e criando um carinho crescente no público que, quando menos espera, já está completamente rendido aos maravilhosos personagens.
Retratando a época de uma maneira exemplar, o roteiro nos da tempo de conhecer seu elenco e nos envolver emocionalmente com cada um deles, construindo assim um laço verdadeiro com o publico que torce, sofre, se diverte e sente vergonha nos momentos certos. Tudo é tão genuíno que não é difícil se pegar sorrindo ou apreensivo em determinadas situações… sem ao menos esperar por isso. É só notar a sensibilidade que o filme tem em colocar pequenos toques à trama, como a cena do cinema onde o elenco não consegue perceber a graça de um filme de comedia tão diferente de sua realidade, nos convidando a nos sentirmos desconfortáveis com eles. Com um elenco afiado, o longa nos presenteia com atuações memoráveis e divertidas. Seja pelo carisma do elenco, ou pela trama bem escrita, nos encantando com cada um ali presente e acabando nos divertindo com sua jornada de uma forma orgânica.
Eddie está em um dos seus melhores papéis. Vibrante, divertido e conduzindo bem a narrativa, sua atuação se mostra impecável trazendo todo o cuidado que o ator teve com a construção de seu personagem. Eddie entende bem o que precisa ser feito e nos entrega um protagonista determinado e sonhador, que levanta o animo de todos ao seu redor e acredita tanto em seus objetivos que se torna impossível não torcer por ele. Não seria surpresa esperar uma indicação ao carecão de ouro por sua atuação e, muito menos, reconhecer o quão brilhante ele foi nesse filme.
Da’Vine Joy Randolph entrega uma mulher forte que não acredita em si mesma. Acompanhar a mudança de Lady Reed é algo magnífico e notar sua gratidão, por ter alguém acreditando nela, nos emociona de uma maneira tão profunda que engrandece ainda mais a personagem que aprendemos a amar. Wesley Snipes rouba a cena com seu diretor soberbo, D’Urville Martins, que já atuou em grandes filmes (embora nunca em um papel com o mínimo de destaque) e se acha superior a todos os demais.
O longa ainda conta com o forte nome de Ruth E. Carter, responsável pelo figurino e ganhadora de um Oscar por seu trabalho em Pantera Negra, enchendo a trama de tons vibrantes e estampas magnificas que nos mergulha de vez nos anos 70.
Repleto de uma malícia precisa, Meu Nome é Dolemite constrói uma historia de perseverança e sonhos de um dos artistas mais influentes do seu tempo, dando a ele todo afeto e respeito que o mesmo merece. Trazendo novas camadas sem perder sua ginga, o filme nos diverte e emociona na medida certa, além de despertar um sentimento magnifico quando finalmente a tela se fecha para um próximo conteúdo, nos deixando extremamente felizes por podermos acompanhar essa jornada.
“Meu nome é Dolemite. Meu jogo é meter o louco e ninguém ousa dar o troco!”
Phael Pablo
Preso em um espaço temporal, e determinado a conseguir o meu diploma no curso de Publicidade decidi interagir com o grande público e conseguir o máximo de informações para minhas pesquisas recentes além, é claro, de falar das coisas que mais gosto no mundo de uma maneira despreocupada e divertida. Ainda me pergunto se isso é a vida real ou apenas uma fantasia e como posso tomar meu destino nas minhas mãos antes que seja tarde demais...