Crítica | Missão de Sobrevivência (Kandahar)

Nota
3

“Fomos descobertos. Vamos partir em 15 minutos.”

Tom Harris é um agente secreto freelance que trabalha, junto com Oliver Altman, em missões clandestinas da CIA no Oriente Médio. Luna Cujai é uma reporter britânica do Der Herold que está no no Irã e, em contato com um informante chamado James Vincent, recebe evidências de sabotagens da CIA aos programas nucleares do Irã. Mohammad “Mo” Doud é um intérprete afegão, tendo fugido do afeganistão depois de problemas com terroristas do Talibã, ele é contratado por Roman Chalmers para retornar ao seu pais e cumprir um trabalho importante, aproveitando para tentar encontrar sua cunhada, uma professora afegã que está desaparecida. Kahil Nasir é um agente do serviço de inteligência paquistanes que está em atividade no afeganistão, fazendo acordos com grupos militares e fundamentalistas em diversas reuniões enquanto espera receber ordens para voltar à ativa. Farzad Asadi é um policial iraniano que está disposto a tudo para defender seu país, incluindo realizar investidas violentas contra potenciais inimigos. Quando a matéria de Luna vem a tona, revelando a recente missão de Tom e Oliver para destruir um reator nuclear iraniano, a nova missão que Tom recebeu de Roman fica em risco, colocando um alvo em no agente e em seu interprete, Mo, que faz eles começare a ser caçado pela policia iraniana, liderada por Farzad, e pela inteligencia paquistanesa, que envia Kahil, enquanto lutam pela sobrevivencia ao tentar chegar a Candaar, que fica a mais de 640 quilômetros do local onde estavam escondidos, para pegar um avião de fuga enviado pelo MI6 antes que ele parta.

Começando confuso ao nos jogar de um lado para o outro do mundo para apresentar a colcha de retalhos formado pelos seus diversos personagens, a trama se inicia com o pé esquerdo ao apresentar um desenvolvimento morno. Felizmente, a medida que a trama vai avançando e os retalhos vão se encaixando, a narrativa vai melhorando, se tornando muito mais dinamica e cheia de elementos que a engrandecem. Enquanto mistura peças como agentes americanos, afegães, iranianos e paquistaneses com grupos como ISIS e Talibã (que apesar de muitos não saberem, são grupos rivais entre si), o roteiro de Mitchell Lafortune vai mostrando sua força, deixando de lado maior parte do megalomanismo cinematográfico para se enredar em uma história muito mais pé no chão, principalmente por ser inspirada nas próprias experiências de Lafortune, do tempo em que serviu em missões no Afeganistão como oficial da Inteligência de Defesa. Muito provavelmente por conta da base real de Lafortune, o longa foge dos padrões de filmes de ação que poderiamos esperar e se mostra muito mais respeitoso com o Afeganistão e sua cultura, trazendo personagens muito mais complexos pelo fato de serem inspirados em pessoas reais que o roteirista conheceu e conviveu na guerra.

A direção de Ric Roman Waugh é de extrema competencia, e fica clara a conexão que existe entre o diretor e Gerard Butler, protagonista do filme, visto que é a terceira vez que eles trabalham juntos. O diretor sabe usar a camera para engrandecer a história de Lafortune, e consegue ótimos resultados quando escolhe usar efeitos praticos para formula as cenas de ação do longa, que por ser tão carnal parece se fortalecer com efeitos que, mesmo limitados, exalam realidade, por outro lado o longa perde algumas cenas por conta da artificialidade que entrega ao empregar CGI, deixando um leve incomodo que corta a imersão da audiencia, mas não prejudica completamente o longa. Butler prova o motivo de ser escolhido para interpretar mais um militar lutando pela sobrevivencia em um filme de Ric Roman, ele consegue transitar facilmente entre a frieza de um agente pronto para derrubar qualquer inimigo e um homem disposto a se arriscar para proteger seus aliados e as pessoas que ele ama, e é justamente a conexão que surge entre Tom e Mo que fortalece o lado emocional do filme, Mo passa a correr risco de vida pelo fato de estar trabalhando com Tom, e ele resolve se comprometer a levar Mo em segurança para o ponto de resgate como pedido de desculpa, arriscando-se em vários momentos para não deixa-lo para trás.

Ao lado de Butler, Navid Negahban vive um Mo intenso, o afegão precisa encarar seu país depois de anos que fugiu, ele precisa voltar para a terra onde seu filho foi assassinado por terroristas e se vê sem pistas de onde começar a procurar sua cunhada, como se não bastasse sua vida vira de cabeça para baixo quando ele precisa fugir junto com Tom, se vendo obrigado a aprender a sobreviver enquanto não tem conhecimento militar nenhum para se defender, criando uma dinamica interessante entre o brutamontes agil que não consegue se comunicar e o interprete indefeso que se torna essencial para que ele interaja com as pessoas com quem encontra na fuga. Travis Fimmel, apesar de ter pouco tempo de tela, marca a trama com sua presença como Roman, um muçulmano convertido que vive em Dubai como um socialite para disfarçar seu trabalho como handler da CIA, e que se mostra cheio de garra quando tenta achar uma forma de ajudar Tom a chegar ao ponto de fuga. Ali Fazal infelizmente se perde na trama, ele poderia facilmente se destacar como principal antagonista no papel de Kahil, mas seu personagem perde completamente a motivação depois de algumas cenas, ficando o tempo todo em um carro ou uma moto num gato e rato com Tom, sem muito a adicionar na trama e sendo facilmente descartado se considerarmos que seu papel poderia ser substituido por vários figurantes que dispensariam um arco narrativo irrelevante.

Sóbrio e correto, Missão de Sobrevivência consegue se levar a sério e fugir dos padrões clichês de filmes de ação, infelizmente ele pode não suprir a expectativa dos fãs de ação hardcore, visto que o filme investe muito mais na dinâmica crível do personagem do em cenas de ação mirabolantes. Apresentando um dialogo muito mais expositivo, que desenvolve os personagens principais e exploram suas motivações e valores, o filme pode não ser tão revolucionário, mas segue um caminho bem diferente dos típicos filmes de ação, que desafiam a nossa inteligencia com cenas fora da realidade e vão fundo em cenas de ação cheia de explosões e tiros que enchem a projeção de barulhos no mais alto volume, o que faz com que o filme consiga fugir da possibilidade de soar brega ou forçado demais. O roteiro de Lafortune, junto com a direção de Roman Waugh e a atuação de Butler parecem ingredientes quimicos bastante reagentes, que entram numa cooperação palpavel e entregam uma qualidade inesperada, apesar de não ser perfeita. Lembrando bastante a proposta de O Pacto, o filme mostra que é possivel ser um bom filme de ação e não ser exagerado, mas comete pequenos deslizes que, se corrigidos, poderiam tornar toda a experiencia muito melhor.

 

Sonhador nato desde pequeno, Designer Gráfico por formação e sempre empenhado em salvar o reino de Hyrule. Produtor de Eventos e CEO da Host Geek, vem lutando ano após ano para trazer a sua terra toda a experiência geek que ela merece.

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