Crítica | Missão Pijamas (The Sleepover)

Nota
3

“Uns ninjas levaram seus pais!”

Margot Finch é uma dona de casa comum, ela é casada com Ron, um simples confeiteiro numa padaria de subúrbio, e tem com ele dois filhos, ClancyKevin, a mais velha que vive brigando com ela por conta das limitações que a mãe impõe e o mais novo que vive sofrendo bullying na escola. Numa certa noite, quando Kevin recebe seu amigo, Lewis, para uma festa do pijama e Clancy está fugindo de casa com sua amiga, Mim, para ir à festa na casa do menino que ela está a fim, um dupla de bandidos invade a casa e sequestra Margot e Ron, revelando que a mulher está no Programa de Proteção à Testemunha. Margot na verdade é Mathilde Tremblay, uma habilidosa ladra que se redimiu há 15 anos, mas agora chegou o momento de reviver o passado, e Margot terá que se unir a Leo, seu noivo da época de crimes, para finalizar o grande roubo da Coroa de Durámuran.

Apesar de o grande acontecimento do filme ser a história de Margot/Mathilde, a trama não é focada na mulher. Durante o enredo, a volta de Margot ao crime é um catalisador, mas a grande evolução fica a cargo do quarteto infantil. Quando Lewis testemunha o sequestro de Margot e Ron, o grupo se une para descobrir o que realmente aconteceu, o que os leva a conhecer Henry Gibbs, o agente federal responsável por ser o contato de Margot, e Jay, uma das antigas parceiras de roubo de Margot, que revelam detalhes sobre o passado de Margot e ajudam as crianças, acidentalmente, a crescer mentalmente e alcançar um novo patamar de maturidade, descobrindo suas melhores qualidades, criando um laço cada vez maior e se desafiando na busca por descobrir o paradeiros dos pais dos Finch. A trama começa como qualquer filme familiar, onde conhecemos uma família formada por um pai indiferente, uma mãe severa, uma filha angustiada, um filho pateta e um cachorro descontrolado, logo depois o longa vai assumido aquela fórmula clichê que já foi, exaustivamente, usada em todos os filmes no estilo da franquia Pequenos Espiões, mas acaba que no fim do seu primeiro ato o longa mostra que quer se sair do padrão, criando um enredo bem mais descontrolado e divertido, que consegue manter a atenção do publico por seus 100 minutos de duração.

Dirigido por Trish Sie, o longa lançado, pela Netflix, em 21 de agosto de 2020 se perde completamente em seus detalhes, trazendo cenas (como a revelação do armazém secreto) onde Margot parece muito mais ser uma super-espiã do que uma super-ladra, criando um contraste enorme com o que vemos nos esconderijos de Jay e de Leo, que realmente lembram portos-seguros de ladrões, algo que não prejudica o enredo do filme (na verdade é usado oportunamente para impulsionar certas cenas) mas prejudica o resultado final do longa, que cria uma visão completamente distorcida para sua protagonista, nos incomodando muito. Quanto ao roteiro de Sarah Rothschild, há muito a se questionar. Temos uma aventura bem gostosa, mas que parece não ir fundo em seu potencial, se limitado a uma comédia mediana, bem no estilo dos filmes ‘Sessão da Tarde’, que faria o maior sucesso nas tardes de férias da TV aberta, um espaço onde suas piadas sutis e inocentes fariam todo o sucesso. O longa vai bem no clichê do humor familiar, deixando as melhores cenas de risadas a cargo do Kevin de Maxwell Simkins, deixando seu jeito bobalhão e desastrado roubar a cena. Quando se trata do resto do elenco, fica claro que temos um timing de piadas bem ruim, apesar de ser agradável ver um elenco protagonista com representantes latinos e asiáticos para exaltar a diversidade.

Sadie Stanley vive uma trama e uma evolução bem ao estilo coming-of-age, mostrando sua angustia adolescente ir se transformando num amadurecimento e numa provação, que nos leva a ver mais do potencial de Clancy, que se mostra auto-suficiente como sua mãe. Lucas Jaye vive um Lewis cheio de limitações, o garotinho vive sob as regras absolutistas da mãe e amadurece ao entrar de cabeça numa aventura que coloca sua vida em risco, soltando pequenas piadas em meio ao filme que vão, pouco a pouco, perdendo a graça e se tornando apenas um elemento solto de um roteiro sem muita força. Cree Cicchino é a descolada do grupo, que vive grudada ao seu celular e, pela primeira vez, começa a enxergar a existência de vida offline, vivendo uma aventura sem igual e arriscando sua vida em busca de ajudar aquela família a qual já se sente inserida. No elenco adulto temos Malin Åkerman como Margot, mostrando uma dupla personalidade muito bem equilibrada entre a dona de casa vulnerável e a imbatível ladra badass; Joe Manganiello como Leo, trazendo um homem confiante, um concorrente de peso para Ron e uma mente criminosa perigosa, que deixa até o público em dúvida do quanto esse novo trabalho pode estar mexendo com ele e o quanto ele pode estar mexendo com Margot; e Ken Marino como Ron, que surge como o alivio cômico do elenco adulto, sendo o desajeitado marido que busca, com todas as forças, ser superior ao ex-noivo de Margot, lutando para não perde-la.

Missão Pijamas pode parecer apenas mais um dos inúmeros filmes familiares que vemos por aí, mas ele luta com toda as forças para se sobressair do padrão, e quase consegue. Ele se desenvolve com aquela típica narrativa previsível para os mais velhos, mas que consegue ser bem recheado da ação e da aventura que agrada ao publico mais novo, dando uma rasa lição de moral sobre vínculo familiar, algo que é ainda mais potencializado por seus doces personagens, pelas gratas surpresas, pelos atores esforçados e, principalmente, pelo talento de Maxwell Simkins.

“Eu não tenho permissão para andar no modo predador!”

 

Sonhador nato desde pequeno, Designer Gráfico por formação e sempre empenhado em salvar o reino de Hyrule. Produtor de Eventos e CEO da Host Geek, vem lutando ano após ano para trazer a sua terra toda a experiência geek que ela merece.

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