Nota
“Não importa onde vá, ou como eles te chamem, você sempre será meu filho.”
Mogli (Neel Sethi) é um filhote de homem que vive em meio aos lobos. Achado ainda criança, ele foi acolhido pela matilha de Aleka (Giancarlo Esposito), onde foi criado como um filho de Raksa (Lupita Nyong’o). Treinado por Bagheera (Ben Kingsley), o garoto é constantemente repreendido pelo uso de seus truques, que facilitam sua vida e o colocam em um patamar diferente dos demais lobos da alcateia.
Durante a Trégua D’água, presas e predadores se reúnem para beber na única fonte de água da floresta, esquecendo suas desavenças e entrando em uma paz respeitosa para saciar a maior inimiga no momento: a sede. É nesse momento que Shere Khan (Idris Elba), o animal mais perigoso, cruel e maligno da selva, sente o cheiro de Mogli e da um ultimato para todos ali presente. Ou a matilha entrega o filhote de homem para ele nas próximas chuvas, ou as consequências serão devastadoras.
Sem saber o que fazer, a alcateia se reúne para decidir o futuro do garoto. Cansado de apenas escutar, Mogli sobe até a grande pedra e anuncia que vai partir para livrar sua família do dilema. Bagheera assume seu papel e decide guiar o garoto até a vila dos homens, servindo como proteção do garoto até lá.
Não é surpresa para ninguém que a Disney reencontrou uma verdadeira mina de ouro em seus clássicos, trazendo novas roupagem e atualizando as amadas histórias em suas sequências de filmes live-action, se aproveitando do quesito nostalgia ao convencer verdadeiras multidões a revisitar os cinemas para revisitar suas histórias.
Dirigido por Jon Favreau, Mogli – O Menino Lobo recria e amadurece um dos maiores clássicos do estúdio. Trazendo uma releitura da animação de 67, o novo longa traz uma nova atitude para a fantástica fábula que tanto amamos. O CGI dá um pulo grandioso, mostrando imagens tão verdadeiras que são um deleite aos olhos. Se não fossem pelos fatores fantasiosos, acreditaríamos que o universo aqui mostrado seria algo real e não feito por computação com uma tela verde ao fundo.
O único personagem real no set é o principal, e é através de seus olhos infantis que observamos todo o universo que nos é mostrado. A vivacidade e a fluidez surgem com uma realidade exemplar, ganhando mais força com a excelente dublagem que compõe o filme. São vozes de peso, que dão uma nova vida a cada personagem e nos fazem enxergar ainda mais a alma por trás de cada criatura fotorrealista aqui apresentada.
Os contornos morais, assim como os dilemas sociais dentro da selva, vão ganhando seu espaço trazendo nuances não exploradas. Seja pelo cuidado rígido com as leis da alcateia, ou sobre a nova roupagem de Balu (Bill Murray), tudo aqui ganha um novo sentido que nos ajuda a construir melhor o ambiente em que estamos inseridos. O Ursão, por exemplo, deixa de ser um abobalhado divertido para encontrar segundas intenções em seus planos. Ele se aproxima do garoto procurando tirar vantagem e, mesmo que seu cerne de querer uma vida mais tranquila e sem problemas, ele usa e abusa de jogos mentais para conseguir o que quer.
Bagheera, por outro lado, continua com sua base moral inalterada. Sempre procurando seguir as regras e ter um senso de responsabilidade ativo. Raksa ganha mais espaço de tela, trazendo um toque emocional de uma mãe que está disposta a tudo para proteger seu filhote. Somos fisgados por sua proteção e criamos um verdadeiro vínculo com a loba, boa parte pela atuação magistral de Lupita, que traz verdade a cada fala de sua personagem.
Kaa (Scarlett Johansson) e Rei Louie (Christopher Walken) retiram seu ar cômico para abraçar de vez a malícia ameaçadora de seus papéis. A cobra surge em um momento oportuno, trazendo toda sua sedução em palavras muito bem pensadas para nos deixar apreensivos e temerosos. Embora use da verdade a seu favor, ela se agarra às nossas fraquezas a ponto de acreditarmos, junto com o protagonista, que podemos confiar nela. Já o orangotango aparece como um mafioso italiano, repleto de capangas que parecem saber tudo o que acontece a seu redor. Seu discurso genocida, sobre querer ser mais do que é, nos arrepia e nos envolve em um terror sem fim. No seu tom e nos seus gestos, a letra de I Wan’na Be Like You ganha um novo sentido, nos deixando realmente amedrontados diante do gigantesco primata.
Shere Khan rouba cada uma das cenas em que aparece. Seu ódio fervente e sua imprevisibilidade dão uma nova camada à periculosidade do vilão da trama. Com diálogos bem construídos e um visual impecável de um ser que beira à sociedade e não é bem visto por ninguém, passamos a temer ainda mais um dos maiores vilões das animações, mostrando que se aprofundar e construir novas vertentes são um ótimo acerto às novas narrativas.
Mas, o filme não seria nada sem nosso avatar pessoal. Em meio a toda computação gráfica, o público precisava de alguém que conseguisse dosar nosso senso realístico com a fantasia apresentada, e o jovem Neel consegue fazer isso com maestria. Seu Mogli tem um carisma impecável, que nos faz embarcar em sua jornada sem pensarmos duas vezes. Os dilemas sobre sua crise de espécie são deixados de lado para aprimorar sua aceitação como filhote de homem. O garoto tenta utilizar tudo ao seu redor para reduzir as desvantagens que tem perante os animais, o que não é bem visto, mas em sua jornada ele passa a entender que isso faz parte de quem ele é a ponto de aprimorar tudo o que apreendeu em benefício próprio.
Com uma proposta audaciosa e uma execução exemplar, Mogli – O Menino Lobo traz uma das melhores releituras dos estúdios. Respeitando seu clássico enquanto expande e engrandece seu universo, o longa traz um amadurecimento criativo que deve atravessar gerações e redefinir o rumo de como um remake deve ser feito. Trazendo um marco visual que vai muito além do necessário, o longa marcará a historia do cinema e servirá de exemplo a ser seguido quando relembramos de seus feitos.
“Pois a força da alcateia é o lobo, e a força do lobo é a alcateia.”
Phael Pablo
Preso em um espaço temporal, e determinado a conseguir o meu diploma no curso de Publicidade decidi interagir com o grande público e conseguir o máximo de informações para minhas pesquisas recentes além, é claro, de falar das coisas que mais gosto no mundo de uma maneira despreocupada e divertida. Ainda me pergunto se isso é a vida real ou apenas uma fantasia e como posso tomar meu destino nas minhas mãos antes que seja tarde demais...
