Crítica | Mudbound – Lágrimas Sobre o Mississipi (Mudbound)

Nota
3.5

O pós guerra na década de 40 afetou todos. E mesmo com tantos estadunidenses se unindo nos campos de batalha, a volta para casa mostra como as coisas permanecem na mesma. Mudbound – Lágrimas Sobre o Mississipi acompanha duas famílias que se encontram na ansiedade de receber seus familiares de volta da guerra, e ao mesmo tempo com as preocupações diárias da pobreza dos campos do Mississipi. Laura McAllan (Carey Mulligan), que casou há poucos anos, agora tem que dividir a casa com o seu marido, Henry McAllan (Jason Clarke), e o seu sogro (Jonathan Banks), que se mostra cada vez mais intolerante e agressivo. Enquanto isso, Ronsel Jackson (Jason Mitchell), após lutar na Europa e notar a realidade completamente diferente para pessoas negras lá, vai ter um choque de realidade na volta para casa. Indicada ao Oscar de melhor roteiro adaptado, a diretora Dee Rees traz um filme poético e com visuais deslumbrantes.

Mudbound é inspirado num livro de mesmo nome da autora Hillary Jordan, de 2008, dando à diretora Dee Rees um enorme trabalho para adaptar esse livro para um longa metragem. Também como roteirista, ela e Virgil Williams tem um ótimo trabalho em trazer falas bastante poéticas para o texto dos atores, em especial em momentos de narração no primeiro ato do filme. A narração também faz um papel importantíssimo na trama, mesclando os narradores e fazendo o espectador ter diversas visões e pontos de vista dos personagens, fazendo inclusive um bom desenvolvimento para o núcleo principal. Carey Mulligan, conhecida principalmente por seus trabalhos mais recentes em Bela Vingança e Maestro, tem um grande destaque no filme, com uma atuação com diversas nuances da personagem, mas está longe de ter a melhor performance do filme, mesmo sendo considerada a protagonista. O ator Jason Mitchell também tem um ótimo destaque, em sua maioria nas cenas mais dramáticas, por conseguir transmitir bem as emoções reprimidas do personagem, principalmente toda a raiva que ele sente por tudo que ele passa.

Mas quem realmente rouba a cena é a atriz Mary J. Blige, que recebeu a indicação por melhor atriz coadjuvante pelo papel de Florence Jackson, e mesmo não tendo tanto tempo de tela quanto os outros personagens, ela se destaca bastante em todo momento que aparece, recebendo inclusive uma segunda indicação pela sua interpretação da música tema do filme “Mighty River”. Mudbound também tem uma ótima cinematografia, com cenas de paisagens deslumbrantes que lembram bastante o clássico A Cor Púpura (1985), mas que às vezes pecam pela subexposição, onde para alguns cenários algumas cenas são escuras demais, que atrapalham até a visibilidade das cenas. Apesar disso, a paleta de cores, tanto das cenas quanto dos figurinos, conversam bem com toda ambientação do roteiro, onde os tons sempre terrosos acinzentados, até mesmo nos cenários, exaltam a miséria do povo rural. Apesar de tantas qualidades, o filme não inova na temática de guerra, trazendo os mesmos temas de estresse pós traumático de veteranos que são discutidos desde 1930, como por exemplo em All quiet on the western front, mas apesar disso é interessante como Mudbound discute a participação de pessoas negras na Segunda Guerra, o que parece ser esquecido bastante pelos próprios estadunidenses.

Mudbound é um filme super poético da diretora Dee Rees, sobre um momento crucial da história dos Estados Unidos. Escancarando a hipocrisia estadunidense sobre o respeito máximo aos veteranos de guerra, a diretora traz bastante do racismo enfrentado pelos soldados negros que voltaram da Segunda Guerra Mundial para suas famílias. O grande acerto do filme acaba sendo o roteiro, com o trabalho excepcional de adaptação da diretora Dee Rees e do roteirista Virgil Williams, que conseguem, principalmente no primeiro ato do filme, trazer uma ambientação onde o espectador consegue sentir-se como se estivesse lendo um livro, embora o estilo do roteiro mude completamente a partir da metade do filme. Mesmo com pouco tempo de tela, Mary J. Blige tem um papel importantíssimo no longa, especialmente por trazer duas indicações ao filme no Oscar, pela sua presença que nos deixa uma impressão fortíssima, pela sua versão da música tema do filme e pela sua atuação que resultou na sua merecidíssima indicação ao Oscar de Atriz Coadjuvante. A cinematografia também se destaca em alguns momentos, mesmo deixando a desejar por suas cenas escuras, consegue trazer bem uma identidade ao filme, mostrando paisagens belíssimas que contrastam bem com todo o cinza e marrom da paleta de cores geral do filme.

 

Ilustradora, Designer de Moda, Criadora de conteúdo e Drag Queen.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *