Nota
Alice vive tranquilamente com o seu marido, Jack Chambers, na comunidade planejada de Victory, cidade experimental que abriga os trabalhadores do ultrassecreto Projeto Victory e suas famílias, em meio ao otimismo social da década de 50. Victory é uma cidade utópica no deserto, defendida pelo CEO da empresa, Frank, um visionário coach tanto da vida corporativa como pessoal, onde as esposas vivem de dançar, cozinhar, limpar a casa e festas noturnas até que uma delas começa a questionar o projeto e seu objetivo, fazendo surgir rachaduras nessa vida idílica, expondo flashes de algo muito mais sinistro à espreita, sob uma fachada sedutora, Alice não pode deixar de questionar o que exatamente é feito no Projeto Victory e por quê, principalmente quando mulheres acabam se suicidando ou desaparecendo.
De cara é preciso dizer que o longa é muito bem dirigido por Olivia Wilde, a mesma que está cotada para dirigir o vindouro filme da Mulher Aranha para Marvel e Sony, o que tornou um prazer assistir ao penúltimo lançamento da Warner em 2022 que, devo dizer, inicialmente deixou sentimentos mistos a esse jornalista e nerd que vos fala. O longa entrega um primeiro ato perfeito, ele te ambienta numa realidade estilo anos 60/70, época da transição da sem cores ainda, ponto pro destino de produção do filme que está divino. Desde o primeiro momento Florence Pugh (Alice) mostra o calibre de atriz que é, simplesmente de primeiro escala em Hollywood. A química com Harry Styles (Jack) causa uma imersão na experiência que é esse filme, o que faz questionar se os 38% no Rotten Tomates foram realmente justos.
Sem querer entrar em spoiler e estragar a experiência de quem quer assistir ao filme, devo dizer que temos uma mistura de filme futurista com experimento social, que em alguns momentos me lembrou Midsommar, que é protagonizado pela Florence Pugh e um filme ao qual odeio, mas traz semelhança na forma como são projetos ousados. O segundo ato do filme traz Cris Pine (Frank) indo para o lado antagonista do filme, gerando uma ansiedade nos expectadores enquanto tentam entender o que diabos está acontecendo na trama. Mais uma vez Harry e Florence arrasam, Alice é afoita ao tentar descobrir o que se passa na pequena cidade em que vivem, em buscar respostas enquanto aparentemente todos fazem questão de virar as costas para suas ideias e convicções. Alguns takes de Olivia Wilde chamam bastante atenção na forma como se usa a panorâmica e o giro da câmera entre os personagens, muitas vezes sem cortar, dando mais agilidade às cenas.
Não se Preocupe, Querida tinha tudo para fechar com nota máxima, mas, mesmo com o clímax do filme, temos um final completamente inconclusivo, é como se tivesse faltando uns seis a sete minutos do filme para ser filmado, criando um terceiro ato que te deixa sem respostas, o que é decepcionante. A produção até poderia ter uma uma cena pós créditos criando uma finalização, mas isso não ocorreu. O filme tem um elenco de peso, que ainda conta com Gemma Chan e a própria Olivia Wilde, e numa visão geral vale muito a experiência, mesmo sabendo dos problemas que o filme enfrentou na mídia, seja por conta de seu conturbado bastidor ou das discussões e alfinetadas, devo destacar que não interfere em nada na experiência do filme.
Daniel Pereira
Jornalista, torcedor do Santa Cruz e do Milan, Marvete, ouvinte de um bom Rock, uma boa leitura acalma este ser pacífico.