Crítica | No Ritmo do Coração (CODA)

Nota
5

“Nunca fiz nada sem a minha família.”

Ruby é uma garota simples, que mora em uma cidade pequena no norte dos Estados Unidos e, durante todas as manhãs antes do início de suas aulas, parte em uma jornada de pescaria com seu pai, Frank, e seu irmão, Leo, para ajudá-los. Ela tem a maior das responsabilidades, e por isso adiou seus sonhos e se sacrificou para ajudar sua família, mas isso pode mudar agora que decidiu entrar para o coral da escola. Sendo a única pessoa ouvinte de sua família, ela carrega diversas responsabilidades, a principal é a da comunicação da sua família, e a comunidade surta com pessoas ouvintes, ajudar sua família com a comunidade de pescadores e fazer a ponte das vendas, assim os negócios podem funcionar melhor.

Se encontrando dividida em diversas situações, ela conhece Mr. V (Eugenio Derbez), o professor de música que a incentiva a cantar e a seguir seu sonho na música, contudo Ruby é incompreendida pelos seus pais, que se preocupam mais em como seu afastamento pode interferir nas finanças e em manter a família.

O longa se baseia no filme A Família Bélier, lançado em 2014, mas, mesmo com o tom do clichê de uma adolescente tentando encontrar seu lugar e ainda assim ser leal a sua família, a produção traz toda uma grandiosidade, pois o que realmente importa é a felicidade dos pais e irmão ao ver a Ruby cantar.

Na maioria das cenas é possível perceber a presença da ASL – Língua Americana de Sinais, o que torna a expressividade em suas falas extremamente importante, expondo emoção e uma melhor construção visual para as cenas. Assim como na LIBRAS, a atenção na expressão facial facilita o entendimento durante a comunicação, pois expressa sentidos, sentimentos e tantos outros elementos do sistema linguístico.

O longa afirma a necessidade de Ruby seguir seus sonhos na música, mas também sua busca por incluir sua família nesse sonho, para fazê-los sentir e entender que tê-los nesse momento faz toda diferença.

A fotografia do longa parte do comum, sem visuais grandiosos, mostrando apenas o necessário para enriquecer o filme, eles apostam apenas no visual da cidade, com efeitos para controlar iluminação e outros detalhes técnicos. No mesmo caminho, temos a simplicidade da trilha sonora, que ganha um enriquecimento maior com o uso da ASL, dando destaque ao visual ao trazer som e imagem caminhando juntos durante todo o longa.

CODA pode ser um longa simples, típico e com uma historia que muitos já possam deduzir e até mesmo imaginar, mas o longa torna-se grandioso por seu enredo e pela delicadeza é tratado. Partindo desde a escolha de atores surdos para o elenco ao total respeito e inclusão, o longa pode te surpreender, a comunicação, quando entendida, é capaz de te levar a fortes emoções, mas todo apoio, afeto e compreensão que vemos no fim das contas vale muito a pena.

Certas situações sugestivas tratadas durante o longa foram extremamente importantes para entender que nem sempre podemos estar divididos entre sonhos e família, precisamos acreditar em nos mesmos e mostrar a nossa capacidade. Ruby levou a inclusão da música para sua família da forma mais doce e delicada, mostrou que sonhos precisam ser vivenciados e não silenciados, CODA nos mostra que é preciso viver, incluir e existir, no fim das contas.

 

Formado em Letras, atualmente cursando Pós-graduação em Literatura Infantil, Juvenil e Brasileira. Sentindo o melhor dos medos e vivendo a arte na intensidade máxima. Busco sentir histórias, memórias, escrever detalhes e me manter atento a cada cena no imaginário dos livros ou numa grande tela de cinema.

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