Nota
“É preciso fazer de tudo para defender a democracia da America.” – Roy Cohn
Depois de receber inúmeras ameaças por parte de investidores e do próprio Donald Trump, enfrentar problemas de distribuição e os Estados Unidos serem ironicamente um dos últimos países a conseguirem distribuidor, O Aprendiz chega aos cinemas brasileiros no dia 17 de outubro para chocar e surpreender com cenas de tirar o fôlego. Dirigido e produzido por Ali Abbasi, O Aprendiz é uma cinebiografia sobre a vida e a ascensão de Donald J. Trump (Sebastian Stan) e sua relação com o seu advogado e mentor Roy Cohn (Jeremy Strong) durante as décadas de 70 e 80, antes de conquistar toda a fama e riqueza.
Inicialmente vemos um jovem Donald tímido e um pouco recluso obcecado pelos bilionários de Nova York até que ele conhece Roy. A partir desse momento ocorre uma conexão motivada pelo desejo de ambos: salvar a América e torná-la grandiosa novamente. Depois de estabelecerem uma amizade sólida com seu mentor, Roy Cohn ensina ao seu aluno passo a passo destrinchando três regras de como se tornar grandioso e um verdadeiro matador. O filme segue mostrando todo tipo de imoralidade, corrupção, lavagem de dinheiro e chantagem que constrói a personalidade de Trump, que criou quase que absolutamente sozinho um dos maiores impérios imobiliários dos Estados Unidos.
O olhar imparcial de um diretor não americano foi essencial para o desenvolvimento do filme, já que ele conseguiu contar a história do homem que se tornou o maior símbolo da direita nos Estados Unidos sem tornar sua obra uma grande campanha eleitoral para o candidato a presidência. Ali Abbasi já é conhecido por seus filmes controversos e polêmicos como Holy Spider (2022), que enfureceu o Irã, país natal do diretor, por criticar o machismo e o governo do lugar. Aqui não foi diferente. A critica social é nítida no momento que vemos homens ricos e poderosos passando por cima das leis para alcançar seu objetivo e usando a justificativa de que isso é para salvar ou reerguer o país que está passando por uma crise.
Enquanto assistimos as cenas muito bem dirigidas de Abbasi, percebemos uma mudança de filtro no meio do filme indicando a virada da década de 70 para 80 e isso se encaixou de forma espetacular, apesar de talvez passar despercebido por quem estiver assistindo. A trilha sonora é com toda certeza a cereja do bolo, que muda drasticamente quando uma cena mais tensa está prestes a ganhar vida ou quando utiliza de clássicos como Blue Monday do New Order para uma transição de acontecimentos em uma pegada mais descontraída.
A caracterização e o figurino são excelentes, mas ponto chave é como o Sebastian Stan conseguiu incorporar todos os trejeitos físicos do Donald Trump desde sua expressão facial, ao seu jeito de andar, olhar e até sua postura, que foi mudando à medida que mostrava o amadurecimento do personagem. Em uma entrevista recente o ator afirmou que passou horas assistindo aparições antigas de Trump e escutando diversos áudios durante a pausa das gravações do filme na tentativa de encarnar a figura controversa da melhor forma, e sua dedicação para o papel foi transmitida na personificação do Trump na tela de cinema com uma atuação magnífica. A cada pequeno salto temporal ficava mais difícil diferencia-lo do verdadeiro Donald Trump que conhecemos hoje. Jeremy Strong não ficou para trás com seu olhar penetrante e assustador a medida que dava vida a Roy Cohn, mostrando sua frieza pela sua postura centrada e sua fala confiante, mas a medida que a historia seguia conseguimos ver seu lado vulnerável e ele conseguiu flutuar bem entre essas duas nuances.
Apesar do filme se passar na década de 70 e 80, ele aborda muitos assuntos atuais que podem ser levados em conta no dia de hoje desde a politicagem que está presente em quase todo o filme além da integridade e até que linha podemos cruzar para justificar nossos atos. O Aprendiz é um filme sobre o Donald antes de se tornar O Trump e como a mentoria do infame advogado Roy Cohn o transformou no homem que ele é hoje. Sebastian Stan e Jeremy Strong dão um show de atuação em um filme frenético que faz você questionar até mesmo a sua moralidade.
Luanna Cavalcanti
Médica Veterinária que ama cinema e adora tudo envolvendo a cultura pop.