Crítica | O Brutalista (The Brutalist)

Nota
3.5

Devastado após seu país ser devastado pela Segunda Guerra Mundial, o visionário arquiteto László Toth (Adrien Brody) tenta levar a vida agora nos Estados Unidos, após ter sido forçado a ficar longe de sua esposa, Erzsébet (Felicity Jones), que continua na Áustria-Hungria. Após chegar na Pennsylvania, László buscou abrigo com seu primo, Attila (Alessandro Nivola), que tem uma loja de móveis que conquista os americanos locais por seu ambiente familiar. Lá, os dois vão criar diversos projetos modernos, que desagradam a esposa de Attila, mas acaba atraindo o filho de um dos mais ricos investidores na área de construção civil. Quando Attila e László reformam por completo o escritório de Harrison Lee Van Buren (Guy Pearce), e o transformarem em uma biblioteca super moderna para a época, o milionário expulsa os dois de sua propriedade, o que faz com que o primos entrem em um enorme atrito e que leva László a ir em um caminho separado do primo. Porém, após alguns anos, depois de diversos elogios e reconhecimento da imprensa, Harrison decide procurar novamente László para usar do seu talento para participar de um projeto super ambicioso. Porém uma proposta tão tentadora irá custar caro para o arquiteto húngaro. Com 10 indicações ao Oscar 2025, O Brutalista acompanha a biografia imaginária de um arquiteto refugiado ao mesmo tempo que tenta acompanhar os desdobramentos do movimento estético arquitetônico real conhecido como “brutalismo”, que teve seu auge durante as décadas de 50 a 70.

Após 4 projetos audiovisuais que não conseguiram reconhecimento em premiações, mesmo sendo estreladas por grandes figuras de Hollywood como Tom Holland e Natalie Portman, o diretor estadunidense Brady Corbet estreia seu 4º longa metragem, que ganhou um enorme reconhecimento nas premiações de 2025. O filme, que levou 10 indicações ao Oscar, já levou diversos prêmios em premiações anteriores ao Oscar, com 3 prêmios no Globo de Ouro, incluindo Melhor Filme, Melhor Ator e Melhor Direção. Já no Bafta, conhecido popularmente como o Oscar britânico, o longa também levou a melhor, com 4 estatuetas para casa, novamente como Melhor Ator e Melhor Diretor, mas dessa vez tendo destaque em categorias técnicas como em Melhor Fotografia e Melhor Trilha Sonora Original, o que acaba sendo um bom termômetro para o Oscar, por indicar o filme como favorito nessas categorias. O Brutalista é um filme clássico de premiações, mas que está tendo um lançamento conturbado após diversas polêmicas prévias durante sua campanha ao Oscar 2025. Juntamente com Emília Perez, Duna: Parte 2 e Um Completo Desconhecido, o filme foi exposto pelo portal Variety, assim como muitos outros portais, por utilizar Inteligência Artificial de alguma forma em suas produções, o que levou o portal a clamar à Academia do Oscar para pedir aos seus indicados a informarem do uso de I.A. nas suas produções.

O uso de Inteligência Artificial em O Brutalista pode ser inclusive sentida na premiação do Oscar, visto que vários votantes da Academia foram fortemente apoiadores da greve de roteiristas de 2023, que mobilizou Hollywood pela regulamentação do uso de I.A. nas produções, e isso pode acabar enfraquecendo a campanha do filme, fazendo-o perder algumas indicações, visto que a Academia se mostra mais moderna e politizada do que outras premiações, como o Bafta, que segue tendo votantes com critérios muito engessados. O uso da tecnologia pode ser sentida muito sutilmente no início do filme, visto que o diretor já afirmou em entrevistas, como para a Vanity Fair, que usou recursos para melhorar o sotaque húngaro do ator Adrien Brody, que tem ascendência húngara mas não é fluente na língua, e em diversos momentos sente-se que as falas de Brody são dessincronizadas com o movimento de seus lábios e que suas falas não seguem mostrando o rosto do ator do começo ao fim, tendo leves cortes desviando a atenção da sincronização do áudio. Ainda assim é muito difícil que o Oscar de Melhor Ator chegue a sair das mãos de Adrien Brody, que já tem uma ótima reputação após receber o prêmio em 2003 por sua performance em O Pianista, se tornando então o ator mais jovem a receber o prêmio, com apenas 29 anos. A corporeidade de Brody é o grande destaque de sua atuação como László, pois independente do seu sotaque seja em inglês, seja em húngaro e seja com interferência de I.A. ou não, a sua expressão corporal fala mais alto do que seu texto.

O Brutalista é, de fato, um filme que reúne grandes atuações, não é atoa que o filme conseguiu três indicações em categorias de atuação. Tendo destaque na cultura pop por seu papel em Star Wars: Rougue One, Felicity Jones recebe sua segunda indicação ao Oscar por Atriz Coadjuvante, com um trabalho excepcional que acaba moldando o ritmo que o filme leva. No início, com sua ausência, ela já tem um bom destaque por narrar os acontecimentos por meio de cartas, mas é de fato no segundo ato que ela brilha, ao trazer não só conflitos importantíssimos para a trama como também por moldar a dinâmica do filme, deixando-o mais caótico, como se no primeiro ato houvesse uma estabilidade e que fosse rompida com sua chegada, quase como se isso conversasse com o próprio conceito do movimento estético do Brutalismo, que visava em quebrar os padrões tradicionais da arquitetura, e é esse o papel de Erzsébet, ser um choque de realidade que irá mudar o destino de László. Além disso, um outro destaque positivíssimo é a atuação também indicada ao Oscar de Melhor Ator Coadjuvante do ator Guy Pearce. Pearce é um personagem que faz o impensável, ao mesmo tempo que ele tenta manter as aparências de bom moço. Pearce é incrível como o bilionário descontrolado que é o Harrison, embora seja um tipo de atuação “fácil” já que a complexidade do personagem se mostra pelo roteiro e reviravoltas de seu personagem, enquanto o trabalho de Pearce é de dar a vida aos surtos e explosões de Harrison, que o ator consegue fazer com excelência. 

Tecnicamente, o filme que disputa cinco categorias técnicas no Oscar, é um filme excelente. As cenas de abertura já nos surpreendem com uma trilha sonora de tirar o fôlego que acompanha as extensas 3 horas e meia do filme, e que de fato é um bom elemento para prender a atenção do espectador em um filme tão longo. Além disso, a edição do filme é excepcional, mesmo em momentos ruins onde a edição serve para cobrir os erros criados pelo uso de I.A., mas que são notadas pela forma que as cenas são dispostas, sem falar das escolhas estéticas nas cenas de abertura, encerramento, pausa e transição entre atos que conversam muito com o movimento estético inspirado. Mas sobretudo, a cinematografia do filme é surpreendente, com takes que acompanham o estado mental dos personagens, sendo mais estática em momentos estáveis e mais descontrolada em momentos de instabilidade, especialmente em um clímax de conflito onde a câmera nos transporta para dentro da cena, e acompanhamos toda a resolução do conflito, sem cortes, e desnorteados assim como os personagens ficam, numa sequência de fato muito bem pensada. Apesar disso, nem tudo são flores. O Brutalista é de fato um filme muito politizado por tratar de diversos temas políticos como o final da segunda guerra, racismo e principalmente questões de imigração, onde os personagens precisam se lembrar o tempo inteiro que são imigrantes. Porém, o diretor deixa bem claro a sua posição política com a questão palestina, especialmente quando, sem contexto com o que acontece durante o filme, é tocado um áudio sobre a criação do Estado de Israel na ONU, alavancando o discurso Sionista, especialmente após seus personagens tão fervorosamente expressarem seus desejos a se mudarem para Israel, e citarem como eles irão “voltar para casa”, mesmo todos eles sendo europeus.

O Brutalista surpreende com sua excelência técnica e tenta levar o máximo de prêmios, mesmo com suas polêmicas pré Oscar. O filme que chega aos cinemas no dia 20 de fevereiro, chega com o formato ousado e inédito para o Brasil de um intervalo de 15 minutos no meio da exibição, por conta de seus extensos 215 minutos, e abre o debate de se esse formato será implementado posteriormente por outros filmes, já que é muito comum filmes com intervalos lá fora. O filme que conta com 10 indicações no Oscar, já tem praticamente um Oscar garantido com Adrien Brody, mas ainda tenta levar outras estatuetas e possivelmente vai após o sucesso que o filme vem tendo em premiações pré Oscar, mostrando que as controvérsias sobre Inteligência artificial podem não afetar a sua campanha. Além disso, o filme tem trabalhos excepcionais com relação a suas técnicas, com uma edição, cinematografia e trilha sonora excepcionais, que se assemelha muito a filmes épicos da clássica Hollywood, explicando também o interesse da academia pelo filme. Apesar de tantos sucessos, o roteiro parece não agradar a todos da crítica especializada, visto que não se propõe a explicar muito do que acontece onde os olhos do personagem principal não se encontram, fazendo os olhos desatentos perderem muitos detalhes sobre a construção de cada personagem. 

 

Ilustradora, Designer de Moda, Criadora de conteúdo e Drag Queen.

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