Crítica | O Estranho Mundo de Jack (The Nightmare Before Christmas)

Nota
5

“Ei crianças, venham ver. Algo estranho vai acontecer e quem nos acompanhar com certeza vai se assustar.”

Em meio ao mundo das celebrações, atravessando uma árvore em forma de abóbora, existe a Cidade do Halloween. Lá, todos os seus habitantes celebram a maior festa do ano, criando novas peças para aterrorizar a todos na terra durante a noite de Halloween, mas nenhum deles se compara a Jack Skellington (Chris Sarandon).

Considerado o Rei do Horror, Jack se mostra cansado com a monotonia do seu reino. Após mais um bem sucedido Halloween, o esqueleto decide vagar pela floresta sombria e se encontra tão perdido em seus próprios pensamentos que só toma consciência de sua andança quando encontra um misterioso lugar.

No centro de uma clareira, um círculo de árvores com estranhos símbolos se encontra postado. Cada um deles é uma porta que leva a um outro reino de celebrações, o que desperta a curiosidade de Jack. Acidentalmente, ele vê-se sugado para dentro de um desses portais, parando assim na Cidade do Natal, onde todos alegremente se preparam para a festa em dezembro.

Deslumbrado com o novo local, Jack volta a seu próprio mundo trazendo algumas das ideias e símbolos que encontrou. Enquanto tenta entender o que significa o Natal, o monstruoso líder tem uma ideia genial, que anima a todos na cidade: esse ano, eles sequestraram o temível Papai Cruel (Ed Ivory) e tomaram o Natal para si.

Enquanto começam a se preparar para o evento, Jack torna-se obcecado pela ideia, mas Sally (Catherine O’hara), uma boneca de pano que secretamente é apaixonada por ele, tem um péssimo pressentimento sobre os planos do esqueleto. Mas seria ela capaz de fazer Jack enxergar o erro que esta cometendo ou estaria destinada a ver seu amor destruído por seus caprichos?

Quando mais novo, Tim Burton adorava a época entre o Halloween e o Natal, e como as lojas permaneciam em um estado macabro entre ambas festividades. Mas foi durante uma de suas visitas a um comércio local, que permanecia com ambas decorações, que ele teve uma ideia: o que aconteceria se uma celebração invadisse a outra? Com esse pensamento na cabeça, Burton escreveu um conto que, mais tarde, tornaria-se um dos longas animados mais sombrios feito pela Disney.

Mesmo sendo uma obra inegavelmente Burtoriana, O Estranho Mundo de Jack não tem a direção do mesmo. Estando ocupado com outros projetos, Burton apenas participou como roteirista e produtor do longa, deixando a direção nas hábeis mãos de Henry Selick, que se tornaria um dos marcos na criação de filmes em stop-motion e referência no mundo cinematográfico.

Inicialmente, o longa foi considerado tenebroso demais para os padrões Disney, ganhando apenas o selo de uma subsidiária e não recebendo tanta atenção midiática, mas devido a aclamação do publico e a importância na cultura pop internacional, o longa ganhou seu próprio espaço e o respeito do rato que trouxe todo clamor necessário para a obra.

O filme nos apavora na mesma proporção que nos encanta, construindo um rico universo com visual gótico e sombrio, sem nunca perder o deslumbre magnifico de um sonho (ou pesadelo) infantil. Com uma construção de mundo impecável, a obra é um deleite visual. A riqueza nos detalhes e o contraste proposital nos transportam a magia escondida em cada mundo, nos mergulhando em seus universos enquanto nos apresenta suas singularidades.

O mundo de Jack é estranho e obscuro, repleto de espirais e construções distorcidas que logo são deslumbradas pela clareza e cores do universo natalino. Até mesmo quando os habitantes da Cidade do Halloween tentam readaptar a festa, eles inserem muito de si em cada novo aspecto, remodelando e reconduzido de maneira bizarra signos tão conhecidos em nosso universo.

Jack, por outro lado, mostra um vazio interior que não consegue saciar. O elegante esqueleto é amado por todos ao seu redor mas se sente incompreendido e frustrado com a corriqueira rotina. A crise existencial traz uma complexidade magnifica ao personagem, conseguimos entende-lo e até mesmo simpatizar com sua dor, criando um laço afetivo poderoso que nos engloba durante o longa.

Sally é ingênua e doce, mas uma das mais sensíveis da trama. É ela que reconhece os perigos das ações do amado e como elas podem ser prejudiciais a todo, saindo do seu lugar comum para lutar por aquilo que acredita ser certo. Sentindo-se presa e acuada, a boneca vive isolada dos demais por seu possessivo criador, a ponto de, mesmo quando está entre os demais, se isolar e se retrair para que possa passar despercebida. Sally sempre aprendeu a esconder seus sentimentos mas não deixa de lutar nos momentos certos.

O Prefeito (Glenn Shadix) surge como uma critica política. Embora seja eleito pelos demais moradores, ele não possui qualquer poder administrativos na cidade, dependendo de Jack para toda e qualquer decisão, o que o leva a um pânico crescente quando o mesmo desaparece. O personagem ainda possui a singularidade de ter duas faces, uma sempre visível para os eleitores (a feliz e otimista) e outra encoberta que sempre aparece em momentos de estresse (a carranca tristonha e acentuada).

Tranca, Choque e Rapa (Paul Reubens, Catherine O’hara e Danny Elfman, respectivamente) são um deleite. O trio de crianças diabólicas conquistam o publico com suas travessuras, sendo apresentados como ajudantes do vilão do longa e explicando que, além de gostarem das maldades do mesmo o ajudam para se manterem seguros naquele lugar.

O Monstro Verde (Ken Page) parece isolado e preso, mostrando que, até mesmo para os padrões da cidade, ele é perigoso e terrível. Canastrão e dissimulado, o mostro aparece em meio às sombras, trazendo uma crescente até sua revelação, elevando nossa curiosidade. Seu número musical, extremamente colorido e vibrante, traz uma nova perspectiva e confirma a excentricidade magnifica do personagem.

Por falar em música, ela se mostra extremamente esplêndida e bem colocada. Danny Elfman (que dá voz às canções de Javk) mostra todo seu brilhantismo ao misturar os sentimentos nas canções, trazendo letras profundas e melodias memoráveis em cada aspecto. O longa inicia com a poderosa This Is Halloween, que nos apresenta a esse novo universo e nos introduz esses magníficos personagens. Logo em seguida, Jack’s Lament mostra os sentimentos de nosso protagonista e toda sua insatisfação com o ambiente ao seu redor. Ele tem plena ciência que é o melhor no que faz, mas nem isso é o suficiente para suprir seu desalento.

What’s This? é um momento de virada, trazendo o deslumbramento de Jack com as maravilhas do Natal, que ele tenta repassar para os seus súditos na caótica Town Meeting Song. Sally Song é uma das mais poderosas na trilha, demostrando toda falta de esperança da boneca com o futuro de seu amor em um momento verdadeiramente deslumbrante para o longa. Kidnap The Sandy Claws é bizarramente divertida, trazendo todas as atrocidades imaginativas de três mentes malignas que conseguem distorcer qualquer ordem para se divertirem.

O Estranho Mundo de Jack mostra a bizarrice Burtoriana em sua essência, construindo um universo cativante que encanta ao mesmo tempo que assombra. Criado como uma fábula, o longa consegue conversar com ambos os momentos festivos que se propõe, trazendo em si os ensinamentos natalinos e a diversão monstruosa do Halloween em uma obra tão precisa e poderosa que encanta crianças desde seu lançamento. Afinal, nunca é tarde para um bom filme, nem para o pesadelo mais fabuloso que uma criança pode ter.

“A escuridão me invade assim, como uma dor que não tem fim. Eu sou um rei com fama e poder que só queria não mais sofrer.”

 

https://www.youtube.com/watch?v=ZDnrf8wzwas

Preso em um espaço temporal, e determinado a conseguir o meu diploma no curso de Publicidade decidi interagir com o grande público e conseguir o máximo de informações para minhas pesquisas recentes além, é claro, de falar das coisas que mais gosto no mundo de uma maneira despreocupada e divertida. Ainda me pergunto se isso é a vida real ou apenas uma fantasia e como posso tomar meu destino nas minhas mãos antes que seja tarde demais...

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