Crítica | O Fabricante de Lágrimas (Fabbricante di lacrime)

Nota
2

“O charme venenoso dele era infeccioso. Ele era infeccioso.”

Nica tinha oito anos quando seus pais morreram em um acidente de carro, o que a levou para o Orfanato Sunnycreek, ‘carinhosamente’ apelidado por seus habitantes como Grave. Comandado Margaret, o orfanato é um pesadelo para seus habitantes, lá Nica acaba criando uma amizade com Adeline, o que faz com as meninas sejam capaz de aguentar os maltratos que Margaret direciona a todos os órfãos, exceto um: Rigel. Anos depois, quando Nica já é uma adolescente, ela acaba sendo adotada por Anna e Norman Milligan, que também decidem adotar Rigel, iniciando uma vida de altos e baixos para a dupla. Rigel é um um adolescente temperamental, hostil e grosseiro com Nica, mas ele parece não odiar exatamente a garota, é como se algo de diferente existisse, algo que explicasse por que Rigel sempre recusava ser adotado por todos os casais que se interessaram nele, até agora. Mas o que começa como uma relação conturbada, onde Rigel parece sempre ficar infernizando a vida de Nica, logo se revela um amor reprimido, principalmente quando Nica começa a entender lembranças reprimidas do passado dela e de Rigel no orfanato.

Complexo desde sua essencia, o longa dirigido por Alessandro Genovesi para a Netflix é uma adaptação do livro homonimo de Erin Doom, mas o que pensar de uma trama que se propõe a explorar, de forma singela. um amor proibido e doentio? Claro que não existe nenhuma problématica ou tabu no amor que surge entre Nica e Rigel, mas a história, que deveria ser uma trama sobre almas despedaçadas se curando, parece querer seguir por um lado que soa abusivo, intimidador, obsessivo e violento. Apresentando praticamente um Crepúsculo sem vampiros, a trama se torna complicada pela forma como a história de Rigel é incomoda ao mesmo tempo que interessante, claro que o expectador vai se pegar torcendo para o romance do casal protagonista dar certo, para que Nica consiga curar os temores internos que Rigel carrega, mas Rigel não é um principe encantado muito deglutivel. No decorrer do enredo, somos abordados diversas vezes sobre as questões como Nica idealiza um conto de fadas em relação ao amor, e sempre fica claro que, apesar de Nica ser a princesa desse conto de fadas, Rigel é o lobo que sorrateiramente espreita a princesa, jogando sempre no ar as perguntas como: É possivel uma princesa amar um Lobo? É possivel ao Lobo amar?

O conto que mais brilha dentro do longa é a alegoria do Fabricante de Lágrimas, um misterioso artesão de olhos azuis culpado de ter forjado todos os medos e ansiedades que vivem no coração das pessoas. Nica cresceu no orfanato com medo de o Fabricante roubar suas lágrimas, injetar medo em seu corpo, e é justamente esse medo que começa a crescer dentro de Nica quando ela começa a se aproximar de Rigel, um medo do que aquele menino que bateu em um colega pode querer com ela, um medo do por que ela não consegue pensar direito quando está perto dele, um medo de ceder aquele sentimento controverso que cresce no seu peito, um medo de perder o grande amor de sua vida. Caterina Ferioli nos cativa como Nica, ela consegue muito bem construir a densidade da personagem que está lutando para se libertar das dores do passado enquanto reprime os traumas que viveu com Margaret, mesmo que esses traumas vez ou outra venha a tona em pesadelos ou crises de pânico. Simone Baldasseroni é outra grata surpresa como Rigel, ele consegue se manter num ponto quase antagonista do longa ao mesmo tempo que constroi um dos personagens mais densos da trama, que construiu um muro tão alto ao seu redor que nem os expectadores são capazes de lê-lo, uma atuação incrivel para um filme problematico.

Bonitinho a primeira vista, O Fabricante de Lágrimas surpreende e fisga, mas não sabe manter a atenção do espectador e acaba perdendo a mão em certo ponto. A produção tem um fotografia linda, figurinos que são um deleite e um elenco bastante esforçado, mas o que começa como um romancezinho dramático adolescente vai levando por momentos de vergonha alheia, cenas forçadas e começa a soar previsivel, fazendo com que a proposta de abordar traumas e passados despedaçados de crianças que vem de orfanatos comece a se transformar numa cruzada infantil de um garoto problématico para conquistar a menina que está apaixonado, mas que não sabe demonstrar esse amor. A historia de Nica e Rigel, apesar de ser bonita e ter uma certa quimica, vai ficando confusa, apressada e sem ritmo, transformando um filme num romance estranho que flerta com o terrror. O filme é fofo, é envolvente, mas tem falhas que podem facilmente o conduzir a se tornar um guilty pleasure para muita gente.

“- Quem eu sou?
– você é o Fabricante de Lágrimas”

 

Sonhador nato desde pequeno, Designer Gráfico por formação e sempre empenhado em salvar o reino de Hyrule. Produtor de Eventos e CEO da Host Geek, vem lutando ano após ano para trazer a sua terra toda a experiência geek que ela merece.

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