Crítica | O Homem do Futuro

Nota
4.5

“Eu quero que você fique absolutamente calmo e confie em mim”

Em 2011, João, conhecido por todos como Zero, é um físico brilhante que vive à sombra de uma traumática noite de seu passado, o dia que, há 20 anos, ele foi publicamente traído e humilhado em uma festa de faculdade por sua namorada e recebeu o apelido que carrega até hoje. Zero é o responsável por um dos maiores projetos científicos no Brasil, uma nova fonte de energia sustentável para a humanidade, com apoio de seu melhor amigo, Otávio, e patrocinado por sua colega de faculdade, Sandra. Quando Zero chega a beira da demissão, o amargurado homem resolve ativar sua máquina, que se revela ser uma maquina do tempo, que o manda para 1991, para a noite em que a bela Helena iniciou o evento mais traumático de sua vida e o trocou pelo popular playboy Ricardo.

Lançado pela Globo Filmes em setembro de 2011, o longa escrito e dirigido por Claudio Torres consegue fugir complemente da maioria dos clichês do cinema nacional, trazendo uma comédia que não se desenvolve na base dos palavrões ao mesmo tempo que se consolida como um filme que marcou a história sem ser marcado pela temática da violência urbana. O longa segue um caminho de construção não-linear da narrativa que não nos incomoda em nada, a história não é sobre o presente de João, o longa é sobre o João do passado que sendo afetado por Zero,  o longa é sobre Zero revivendo seu passado e mudando seu futuro. Torres teve a brilhante ideia não só de fazer uma comédia-romântica deslumbrante, brincando com os conceitos de efeito temporal e efeito borboleta de uma forma que prende a atenção do espectador com suas diversas versões dos mesmos personagens, impulsionando a imaginação do público sem tornar a produção confusa.

Se desenvolvendo em cima da eterna questão psicológica do “e se?”, o longa leva seu protagonista e seus espectadores a imaginar as implicações que cada ato feito no passado pode ter para o futuro da trama. Com uma cenografia e figurino excelentes, o longa suaviza cada uma das quebras na narrativa, fortalecendo o enredo escrito pelo filho de Fernanda Montenegro e potencializando ainda mais a atuação de Wagner Moura e Alinne Moraes. Zero/João tem diversas personalidades durante o longa, temos três versões dele, o João do passado, o Zero do presente e o João do futuro, cada qual com sua própria personalidade, suas próprias motivações e sua própria concepção do que é certo, o personagem de Wagner é maravilhoso em todas as suas versões, sendo mocinho e vilão de tantas formas que nos levar a refletir sobre o quanto a vida pode ser dúbia, o quanto cada um dos atos que escolhemos pode gerar uma reação em cadeia capaz de desencadear uma benção e uma catástrofe. Já a personagem de Alinne é a maior surpresa do filme, o roteiro de Torres foi tão preciso que foi capaz de construir uma vilã perfeita que, em um cena, evolui magistralmente para o papel da maior mocinha da história do cinema nacional, que não só surge como catalisador da história como conhecemos como se transforma por trás das cortinas para nos levar ao apoteótico final.

Com um resultado que só esperaríamos ver de um filme americano, o longa é muito bem produzido, unindo o melhor de seus efeitos práticos e especias, possuindo um grandioso cenário que nos imerge profunda na trama de 1991 e também no futuro alternativo criado por Zero. O roteiro de Torres parece seguir as estruturas das melhores comédias americanas, deixando migalhas e buracos pelo caminho que nos incomodam inicialmente mas que, após o final indescritível, se justificam ao mostrar que tudo foi pensado genialmente. O elenco coadjuvante, formado por Gabriel Braga NunesFernando CeylãoMaria Luísa Mendonça, tem suas interferências na trama mas ficam extremamente apagados no enredo, ficando completamente sem vida diante da dupla protagonista, o que é um pouco triste visto o imenso potencial artístico que cada um dos três possui. O tempero final do longa é sua trilha sonora, que contrasta com o fantástico da ficção científica com o nostálgico que transborda de Tempo Perdido, do Legião Urbana, que ganha uma releitura muito melhor executada dentro do filme, e de Creep, da banda britânica Radiohead, que foi regravada por Wagner Moura para compor a trilha sonora do filme.

“Essa noite, eu vou mudar o mundo!”

 

Sonhador nato desde pequeno, Designer Gráfico por formação e sempre empenhado em salvar o reino de Hyrule. Produtor de Eventos e CEO da Host Geek, vem lutando ano após ano para trazer a sua terra toda a experiência geek que ela merece.

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