Crítica | O Lagosta (The Lobster)

Nota
4

Num futuro próximo a lei proíbe extremamente a solidão, a sociedade inteira vive em função dos relacionamentos, e é nesse mundo que vive David, um homem que acaba de ser abandonado por sua esposa após um relacionamento de 12 anos, então ele entra para o processo de busca por uma nova companheira, um sistema inteiramente rígido que vai determinar o futuro dele como humano ou se será transformado em um animal.

Como já sabemos, todo futuro distópico tem regras, nesse mundo a regra é o relacionamento, caso você esteja solteiro é enviado a um hotel, onde passa a ter uma estadia de 45 dias, período no qual deve conhecer os outros residentes e encontrar sua alma gêmea, caso seu período acabe, você é enviado para o processo de transformação, onde será transformado em algum animal para viver o resto dos seus dias dessa forma. Há ainda um grupo rebelde, os Solitários, um grupo de pessoas que fugiu do sistema e vive sozinhos, grupo esse que diariamente é caçado pelos residentes do hotel para serem punidos pela rebeldia, para cada solitário que você captura, você tem direito a ganhar um dia extra no seu prazo.

No hotel conhecemos três personagens que se destacam, a Mulher dos Biscoitos Amanteigados, que nos retrata claramente o medo da sociedade em ser transformado em animal, temos a Mulher Sem Sentimentos, a mais dura dos residentes, que nunca se relaciona e já contabiliza mais de 100 dias restantes, pois é uma nata caçadora de Solitários, a terceira é a Camareira, que misteriosamente parece a mais abusada das funcionarias e ao mesmo tempo acaba sendo a mais empática com David, ela é diariamente usada como fonte de estimulo sexual para os homens, já que uma das regras do hotel é a proibição da masturbação e ela serve como escape oficial ao roçar seu corpo nos homens.

Temos ainda um certo destaque para Bob, o irmão de David que passou pelo processo e acabou sendo transformado em um cachorro, que vive o tempo todo com seu novo dono, e é alvo de uma das cenas mais revoltantes do filme, e temos o Homem que Manca, que mostra o outro lado do desespero pelo sistema, um homem que cria uma mentira apenas para ter a chance de se relacionar com uma mulher, e acaba falsificando uma doença para conquistar a Mulher que Sangra pelo Nariz.

Mas claro que o filme não é unicamente de Colin Farrell, ator que vive David, o astro atua muito bem no papel do alvo desse sistema que acaba vivendo tantas coisas que nos deixa abismado com sua resistência, mas também temos a segunda protagonista: Rachel Weisz. Weisz vive a Mulher Míope, uma das membros dos Solitários, e que acaba se apaixonando a primeira vista por David, o grande problema? Dentro do grupo dos solitários é extremamente proibida o relacionamento entre os membros, tendo punições dolorosas para tudo relacionado a isso, tendo inclusive punições para quem é pego flertando e onde é proibido até dançar com outro membro.

O longa realizado e escrito por Yorgos Lanthimos e Efthymis Filippou fez sua estreia mundial em 2015 no Festival de Cannes, e lá mesmo já competiu pela Palma de Ouro e ganhou o Prêmio do Júri. Seguiu no circuito sendo indicado a Melhor filme britânico no BAFTA; nos premios do Cinema Europeu, ele foi indicado a Melhor filme, Melhor diretor e Melhor ator e venceu como Melhor roteiro e Melhor figurino; e claro, recebeu a indicação de Melhor Roteiro Original no Oscar.

Aos poucos vamos entendendo como o sistema funciona em ambos os lados. vemos que no lado socialmente correto os casais pouco a pouco se formam por conta de pequenas características: o Casal Manco, o Casal com Voz Bonita, o Casal que Estudou Ciências Sociais, o Casal que Adora Esquiar, e etc. Já no lado dos rebeldes vemos a formação daquele que podemos facilmente nomear de Casal Míope, que se aproximam cada vez mais e criando códigos comunicativos para evitar ser descobertos pelo grupo rebelde, gestos para falar “te amo”, “quero transar”, “quero dançar”, e etc.

Talvez uma das melhores sequencias do filme seja o momento em que eles tem uma longa conversa através de gestos, uma cena cheia de gestos que nem sabemos o que significa, uma conversa onde não conseguimos entender nada mas que mesmo assim sentimos a magica dessa parceria, uma sequencia sublime que representa claramente uma relação que vai ficando cada vez mais envolvente e coagindo o público a amar essa discreta quebra das regras. O que fazer quando o amor surge no lugar onde menos se espera? Negar o amor ou viver perigosamente esse sentimento mortal?

Aviso aos navegantes, esse é um filme grego levemente cult, então estejam preparados para cenas cheias de caráter simbólico, momentos de reflexão e questionamento moral e um final aberto a interpretações que pode mudar sua forma de ver a vida.

“Ele achou que era mais difícil fingir sentir algo quando não se sente do que fingir que não se sente nada quando se sente.”

 

Sonhador nato desde pequeno, Designer Gráfico por formação e sempre empenhado em salvar o reino de Hyrule. Produtor de Eventos e CEO da Host Geek, vem lutando ano após ano para trazer a sua terra toda a experiência geek que ela merece.

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