Crítica | O Macaco (The Monkey)

Nota
2

“Não sei se todo pai passa um medo secreto para o filho, o meu passou.”

Hal e Bill Shelburn são irmãos gêmeos que foram abandonados, muito pequenos, pelo pai, Petey. Um certo dia, enquanto reviravam as coisas antigas deixadas por ele, eles encontraram um macaco de brinquedo interessante, cuja caixa dizia “como a vida”. O que eles não esperavam é que aquele macaco pudesse trazer um gigantesco mal assassino para a vida deles toda vez que ele é acionado, o que resultou na morte da babá Annie e da mãe deles, Lois, e os fez jogar o brinquedo num poço. 25 anos depois, todo o mal parece retornar quando eventos terríveis começam a se desdobrar e Hal começa a temer pela vida de seu filho, Petey, enquanto busca o macaco para encerrar de vez com a maldição que ele carrega. Inspirado em um conto de Stephen King, o filme promete uma tensão crescente que persegue os gêmeos Shelburn e coloca em risco as pessoas que eles amam, mas é preciso sempre lembrar que nem todo filme cumpre o que promete.

Lançado em 1980, “O Macaco” foi inicialmente incluído numa edição da revista norte-americana Gallery, chegando a ser indicado como Melhor História CurtaMelhor Terror no British Fantasy Award de 1982. O conto narra a história de Hal Shelburn, um homem que passa a ser assombrado pelas memórias trágicas de sua infância quando seu filho, Petey, encontra um macaco de brinquedo no sótão, um macaco que traz uma maldição que matou várias pessoas proximas a Hal e que ele tinha deixado para trás depois de joga-lo num poço anos atrás. O conto, que no Brasil foi lançado como parte do livro Tripulação de Esqueletos, acabou sendo adquirido pela Black Bear Pictures, que contratou Osgood Perkins (Longlegs) para comandar a direção e o roteiro do longa, e ainda contou com a produção de James Wan, mas nem mesmo a união de vários nomes gigantescos como King, Perkins e Wan foi suficiente para garantir que o processo de adaptação do conto para o filme resultaria em algo bom. Perkins parece ter descartado grande parte do conto na construção do seu roteiro, pegando até alguns eventos do conto para repetir no filme e os nomes dos personagens, mas ele usa sua liberdade criativa para criar algo que destroi a proposta de King, chegando até a tirar grande parte do misticismo que envolve o Macaco.

Começando até bem, a produção vai perdendo sua força a medida que vai se desenvolvendo, ficando cada vez mais forçado da metade para o final, principalmente pela forma como a construção da história de Hal Shelburn é fraca. Theo James tem a árdua missão de guiar duplamente o enredo do longa, de um lado ele interpreta o quebrado Hal, que se afastou da cidade onde tudo aconteceu e até tentou construir uma vida, mas seus traumas vieram a tona e o fizeram fugir de sua familia, resultando em um complicado divórcio e uma precária relação com seu filho. Do outro lado, James vive o misterioso Bill, que tem uma lábia poderosa e consegue seduzir as pessoas para fazerem o que ele deseja, chegando ao ponto de conseguir convencer Hal a ir à casa de Tia Ida para investigar se as mortes que começaram a acontecer na cidade podem ter relação com o Macaco que eles jogaram no poço há anos, e que poderia ter sido reencontrado por alguem. Colin O’Brien pode estar bem presente no filme, mas infelizmente seu Petey não tem foco em maior parte da narrativa, deixando o ator escanteado, simplesmente como um companheiro de viagem de seu pai, sem muito desenvolvimento. Quem acaba sendo mal aproveitado no longa é Elijah Wood, que ganha pouquissimo tempo de tela em um papel sofrido, mas que poderia ter sido melhor trabalhado para somar ao enredo, principalmente pelo carater canastrão de ser o padrasto que escreve livros sobre paternidade e poderia trazer várias piadas sobre a capacidade de Hal.

Com uma vibe que parece uma mistura de Premonição com um terror trash, O Macaco poderia ser um filme muito bom, mas faz muitas escolhas erradas. Toda a mitologia que envolve o ‘antagonista’ é confusa, mudando a todo instante, indo muito além do fato de o Macaco escolher uma vitima e matar quando quer e como quer, o que talvez seja um dos pontos que prejudica a consolidação da narrativa. A trama dos gêmeos é outro ponto fraco, algo que foi criado para o filme e acaba não ficando legal em tela, principalmente quando maior parte do tempo de tela é reservado às mortes, algumas divertidas, algumas exagerados e muitas completamente sem sentido dentro do roteiro, mas uma coisa é certa: O que salva o filme são as cenas trash, que vão despertar risadas sinceras em momentos macabros e vão garantir que o espectador aguente o filme até o ato final. Um bônus que o filme ainda é oferece é a ‘cena pós-credito’, um interessante teaser do próximo lançamento de Oz Perkins: Keeper, previsto para ser lançado ainda este ano.

“É o que é. Palavra de Deus.”

 

Sonhador nato desde pequeno, Designer Gráfico por formação e sempre empenhado em salvar o reino de Hyrule. Produtor de Eventos e CEO da Host Geek, vem lutando ano após ano para trazer a sua terra toda a experiência geek que ela merece.

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