Crítica | O Rei (The King)

Nota
3

Inspirado na história de Henrique V, que reinou na Inglaterra durante o início do século XV, O Rei, dirigido pelo australiano David Michôd e lançado pela Netflix, se baseia na série de peças de Shakespeare sobre sua vida – em princípio, sua relutância em aceitar a coroa até sua batalha com os franceses instigada por um suposto assassino enviado para matá-lo.

Ainda que O Rei não seja dos projetos mais ambiciosos da Netflix, de um ponto de vista geral, existe um ótimo equilíbrio na direção entre o clima épico e o controlado, o que funciona em harmonia com a discussão que pauta o roteiro: a divisão de um estadista em sucumbir ao instinto da violência de seus homens/seguidores ou manter seus princípios de racionalidade. O filme se encontra direitinho nessa lógica de um drama histórico, sem nunca perder de vista o amadurecimento forçado do protagonista (convincentemente interpretado por Chalamet) e tirando o personagem constantemente de seu espaço de conforto.

A transição príncipe-rei, no entanto, é um bocado mal resolvida; O Rei põe na mesa elementos da persona do personagem principal que não são nem sugeridas no momento em que ele toma o poder para si. Falta ali um senso de dúvida e de insegurança – ou ao menos de autoquestionamento -, o que é plenamente compensado pelos duelos emocionais com o personagem do muito bom Joel Edgerton.

A cena da batalha final pega alguns elementos sonoros da Batalha dos Bastardos, de Game of Thrones, mas tem como destaque uma proximidade dos soldados muito apropriada para o senso de desastre da guerra (e há pelo menos um plano longo sensacional no meio da lama). Robert Pattinson está se provando cada vez mais versátil, protagonizando a única cena hilária e sarcástica do filme. Já Sean Harris é aquele cara que você sempre deve olhar com desconfiança. Sempre.

 

De Recife (PE), Jornalista, leonino típico, cinéfilo doutrinador.

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