Crítica | O Retorno de Mary Poppins (Mary Poppins Returns)

Nota
5

“Nada se foi para sempre, só não esta no mesmo lugar”

Anos após uma família aprender uma poderosa lição e se divertir empinando papagaio, a Rua das Cerejeiras parece um esqueleto sombrio do que foi um dia. A Grande Depressão assola Londres e seus moradores não são mais os mesmos. Michael Banks (Ben Whishaw) agora é um recém-viúvo, pai de três crianças, que tenta a todo custo manter sua vida e sua casa em ordem enquanto se sente desmoronar por dentro. Além de lidar com os problemas cotidianos, Michael recebe a notícia de que se não pagar o empréstimo que tirou no banco em que trabalha ate o badalar do Big Ben a meia-noite da sexta feira ele perderá a casa de sua infância e terá que ir com os filhos para o olho da rua.

Desesperado, ele se junta a sua irmã Jane (Emily Mortine) para encontrar as ações bancárias que seu pai deixou para os dois. É neste momento, em meio a uma ventania que quase arrasta seu filho mais novo, George Banks (Joel Dawson), com uma antiga pipa verde no céu londrino, que uma curiosa babá reaparece para cuidar mais uma vez das crianças Banks e reavivar a magia e a inocência perdidas com tantos desfortúnios. 64 anos após aterrissar em nossas vidas e conquistar gerações de fãs, Mary Poppins volta magicamente em um momento tão preciso e encantador que parece escolhido pelo próprio Walt Disney. O clássico estrelado por Julie Andrews é tão magnífico e incomparável que parece intocável, levantando fortes receios sobre a nova adaptação e nos fazendo questionar se realmente precisávamos de uma continuação. Respondendo a pergunta, sim. Precisávamos.

Dirigido por Rob Marshall e roteirizado por David Magee, O Retorno de Mary Poppins mostra um conteúdo novo e primoroso enquanto faz claras referências ao clássico atemporal que o precedeu. Tudo esta lá, mas ligeiralmente diferente. Seja por um atraso no disparo de um canhão, ou a falta de uma tigela de doces, tudo parece familiar, mas ao mesmo tempo novo e desconhecido. Os tons mais sombrios escolhidos para permear a trama representam bem o clima que o filme quer passar. Todos os mínimos detalhes são precisamente pensados para nos fazer embarcar de cabeça na poderosa viagem que se estende a nossa frente. Os tons de azul e verde da realidade habitual dos Banks são tratados de forma mais escura enquanto contrastam com as cores chamativas dos ambientes mágicos da babá encantada.

Por falar nela, Emily Blunt nos entrega uma encarnação perfeita a Mary Poppins, respeitando o que já foi estabelecido e, mesmo assim, dando camadas novas a sua personagem. É impossível desgrudar os olhos dela e não perceber em seus pequenos gestos as palavras não ditas. Emily rouba a cena mesmo quando esta em segundo plano e sabe brincar e lidar bem com a personalidade forte e encantadora da babá mais amada de todos os tempos. Jack (Lin-Manuel Miranda) herda o sotaque carregado e meio errado de Bert – o que faz total sentido, já que o personagem é um aprendiz do clássico limpador de chaminé –, servindo com o mesmo propósito de acompanhar Mary e as crianças Banks em suas aventuras, mas levando novas camadas e um leve romance ajudado pela babá.

Ben Whishaw constrói um Michael Banks cheio de dilemas e sofrimentos. O antigo garotinho parece ter perdido seu rumo e os prazeres mágicos da infância, muitas vezes despertando aspectos semelhantes ao do seu pai, com um jeito burocrático e bastante bagunçado. O personagem tenta ser forte a todo custo, mas precisa mais de ajuda que qualquer um na trama. A cena em que ele finalmente desaba em frente aos filhos é emocionante e arranca lágrimas dos desavisados, mostrando o poder de uma boa atuação. Já Jane tem os mesmos sentidos revolucionários de sua mãe. Emily Mortine traz uma doçura e um charme único a sua personagem que mesmo não tento tanto destaque quanto o irmão agrada e emociona na medida certa.

As crianças são simplesmente magníficas. John (Nathanael Saleh) e Anabel (Pixie Davies) precisaram crescer muito rapidamente para ajudar seu pai com seus problemas em casa. Tomando certas responsabilidades pra si, os dois são muito unidos e se acham capazes de consertar as coisas. Quando olhamos para eles, parece que os mesmos já perderam boa parte da magia de sua infância, tornando-se práticos e eficientes e mais rígidos em acreditar no inacreditável. Já o doce George é um sonhador nato, ele acredita na magia sem pensar duas vezes e ainda transmite o encanto da infância e seu grande poder de imaginação o transforma no verdadeiro crente.

Wilkins (Colin Firth) é um verdadeiro lobo na pele de cordeiro. Ganancioso e estratégico, o vilão tem sua outra face mostrada em um dos encantadores mundos visitados por Mary. É engraçado como tantas coisas nos são apresentadas nas animações para fazerem ponte com o mundo real dos Banks. Os dois mundos, o fantástico e o real, colidem e se misturam de uma forma tão natural e encantadora que enche os olhos de quem ver. O filme ainda apresenta participações pra lá de especiais, como a divertida cena de Topsy (brilhantemente interpretada por Meryl Streep), que acentua ainda mais o cenário lúdico enquanto nos transmite uma importante lição, e a incomparável presença de Dick Van Dyke que nos deixa emocionando e aquece os corações dos amantes do primeiro longa. Mas o filme parece perder uma chance perfeita de colocar Julie Andrews de volta ao mundo mágico (sendo compreensível, já que a mesma não quis participar do projeto), fazendo-nos sentir que aquele momento podia ser ainda mais significativo.

Musicalmente, o filme tem momentos memoráveis. Como a mágica Can You Imagine That?, que mostra com perfeição o retorno do mágico e como podemos voltar a acreditar. A Cover is Not The Book mostra que não devemos nunca julgar um livro pela capa e que as aparências realmente enganam. A lúdica Turning Turtle nos mostra que até os piores dias podem ser maravilhosos se olharmos por outro ângulo e a Trip a Little Light Fantastic nos ensina que mesmo nos piores momentos, sempre podemos achar nosso caminho se seguirmos a luz, trazendo também uma das melhores coreografias do longa, com ângulos bem explorados e passos de tirar o fôlego, além de um ritmo empolgante e contagiante. Mas a musica que nos arrebata de uma maneira sem igual é a emocionante The Place Where Lost Things Go, que nos ensina o maior ensinamento que o filme poderia passar: nada realmente se vai, só muda de lugar.

Perfeito em quase tudo o que faz, O Retorno de Mary Poppins é como voltar para casa depois de um longo dia. Com toques leves e precisos, o longa desperta sentimentos adormecidos que pareciam perdidos para sempre, mostrando-nos a importância da magia de um filme que tem tudo para se tornar um clássico instantâneo e conquistar uma nova legião.

“Quando a vida estiver assustadora, seja a sua própria luz e brilhe sua chama para que todo o mundo veja.”

Preso em um espaço temporal, e determinado a conseguir o meu diploma no curso de Publicidade decidi interagir com o grande público e conseguir o máximo de informações para minhas pesquisas recentes além, é claro, de falar das coisas que mais gosto no mundo de uma maneira despreocupada e divertida. Ainda me pergunto se isso é a vida real ou apenas uma fantasia e como posso tomar meu destino nas minhas mãos antes que seja tarde demais...

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