Crítica | O Senhor dos Anéis: A Guerra de Rohirrim (The Lord of the Rings: The War of the Rohirrim)

Nota
3.5

183 anos antes da jornada dos hobbits na terra média, houveram histórias que acabaram não sendo repassadas para as novas gerações, sendo perdidas em meio aos campos de batalhas Rohirrim. Wulf, o lorde Dunlending, seguia na expectativa de casar-se com Héra, a filha do rei Helm Hammerhand, com quem ele nutria sentimentos desde a infância, mas essas expectativas foram quebradas em meio ao conflito entre seu pai, Freca, com o rei Helm, que resultou na morte de seu pai. Com sede de vingança, Wulf jurou a morte de toda a família de Hammerhand, planejando diversos ataques surpresas. Para se defender dos ataques, e para salvar seu povo, Helm Hammerhand foi forçado a responder aos ataques, usando a antiga fortaleza de Hornburg como a última resistência. Para destruir o seu novo inimigo, Héra, deve criar coragem para liderar a resistência em meio a esta situação tão desesperadora. Produzido pelo diretor Peter Jackson, a franquia de O Senhor dos Anéis ganha mais um capítulo com o filme animado O Senhor dos Anéis: A Guerra de Rohirrim, fruto da mente brilhante do diretor japonês Kenji Kamiyama.

Peter Jackson, que esteve por trás das duas sagas da franquia de O Senhor dos Anéis, agora vem como produtor executivo de O Senhor dos Anéis: A Guerra de Rohirrim, deixando o trabalho criativo para Kenji Kamiyama, conhecido por dar vida à série animada de Ghost in the Shell em 2002. Dessa vez o diretor coloca a tona uma protagonista feminina numa história de O Senhor dos Anéis, sendo uma novidade para a franquia, que muitas vezes coloca suas personagens femininas sempre em segundo plano, e que cria uma história para a filha de Helm, que antes mesmo nem havia seu nome citado nas histórias de Tolkien. Esse novo roteiro baseado nas obras de Tolkien, segue simples, mantendo um foco maior nas ambientações e batalhas entre personagens do que propriamente desenvolver cada personagem mais profundamente. Como por exemplo, o rei Helm Hammerhand é quem de fato tem sua história no mundo de Tolkien, e sua narrativa é pouco explorada durante o filme, o que pode vir a desagradar fãs por não focar tanto na sua perspectiva, mesmo em momentos que seria necessário, mas ainda assim o filme foi feito para ser visto pela perspectiva da Héra, e de fato toda a evolução de personagem é somente dela, enquanto os coadjuvantes não são bem explorados. 

O Senhor dos Anéis: A Guerra de Rohirrim traz de volta, da saga de O Senhor dos Anéis, Miranda Otto, na voz de Éowyn, que dessa vez assume o importante papel de narradora da história, nos transportando para a jornada de Hera. Ainda assim, alguns personagens não tiveram o mesmo destaque com a escolha de elenco, como por exemplo com o ator Luke Pasqualino, que entrega sua voz ao antagonista Wulf, que acaba não sendo tão bem sucedido. Apesar de um bom ator, Luke acaba não transmitindo bem suas emoções para o personagem, numa performance que poderia funcionar muito bem para o live action, mas não para a dublagem de uma animação onde as reações precisam ser mais bem expressadas ou até exageradas para conseguir se adequar especialmente ao estilo de animação escolhida pelo diretor. A atriz de Héra, Gaia Wise, também tem momentos que não acompanha bem a personagem, pelos mesmos motivos do Luke Pasqualino, o que faz se questionar se é de fato pela falta de experiência dos dois com dublagem ou se a dublagem original do filme na verdade foi em japonês, que se mostra com um desempenho melhor que na dublagem inglesa.

Ainda assim, O Senhor dos Anéis: A Guerra de Rohirrim coloca nas telonas um filme esteticamente diferente de outras produções japonesas, não por se distanciar da estética estabelecida pelo cinema japonês, mas sim por unir diferentes técnicas em uma produção só. Os cenários da produção, todos com a estética de aquarela, transportam-nos para a terra média de uma forma mística e deslumbrante, com paisagens e jogos de câmera que se assemelham a produções clássicas, como em Bambi (1942), onde o cenário era um importante fator para a disposição dos personagem, assim como na sua interação entre os personagens com o seu mundo, assim como a Héra aparenta ter uma personalidade inspirada em obras como Nausicaä do Vale do Vento (1992), pelo seu jeito determinado e destoante das personagens femininas da saga de O Senhor dos Anéis. A única questão que pode desagradar fãs é com relação a disposição de batalhas, que foca bastante em poucos personagens ao invés daquelas cenas com inúmeros soldados, como nos filmes da saga principal, mas ainda assim o filme de Kamiyama consegue também mesclar bem o 3D com as técnicas em 2D, que é uma tendência em muitas animações japonesas para reduzir custos, mas que nem sempre é executada da melhor forma, mas nesse longa a moderação entre as técnicas fica sutil, com o 3D sendo utilizado apenas em cenas necessárias sem exageros. 

Trazendo um novo olhar da animação para a franquia, O Senhor dos Anéis: A Guerra de Rohirrim reimagina os personagens de J.R.R. Tolkien pela ótica do diretor Kenji Kamiyama. Mesclando bastante técnicas clássicas de animação com a tecnologia atual, a animação se destaca pela estética diferenciada e a mistura harmoniosa de técnicas 2D e 3D, ainda que possa criar um estranhamento para fãs não acostumados com o estilo de animação japonês. Com Peter Jackson como produtor executivo, o filme traz uma nova perspectiva feminina, explorando a cultura de batalhas dos Rohirrim, colocando a nova personagem Héra como o centro da história, ao contrário de seu pai Helm Hammerhand. A produção oferece uma nova visão do universo de Tolkien, prometendo explorar e expandir mais o universo de O Senhor dos Anéis após o sucesso da série do Prime Video, Anéis do Poder.

 

Ilustradora, Designer de Moda, Criadora de conteúdo e Drag Queen.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *